Depois de três anos afastada do teatro, Monique Gardenberg está de volta. Na semana passada, ela estreou, em São Paulo, na direção de “O Inverno da Luz Vermelha” e, em uma entrevista com o Glamurama, contou por que ficou longe dos palcos, o que a fez chegar até as artes – depois de se formar em economia – e como foi o processo de preparação do elenco. Confira.
Quando foi apresentada ao texto de Adam Rapp, você não quis fazer a peça. O que te fez mudar de ideia?
“Isso só aconteceu na minha primeira leitura. Sozinha, silenciosa. Em seguida, marcamos uma leitura com os atores e eu já me toquei da força do texto falado. E nos ensaios fomos descobrindo cada manobra do Adam Rapp, sua genialidade para montar jogos de cena em que o poder alterna de mãos. Seja pelo poder sexual, intelectual, ou mesmo pelo poder da desinibição, da facilidade de estar no mundo. Então, não foi amor à primeira vista, mas uma paixão avassaladora que cresce a cada dia.”
Em "O Inverno da Luz Vermelha", são abordados os diferentes reflexos do amor e da paixão nas pessoas, com um “que” de pessimismo. Você concorda com a máxima que diz que para ser amor de verdade tem que doer?
“Não concordo, não. É amor quando é tranquilo, na paz. Quando não é assim são os outros sentimentos, doenças travestidas de amor.”
Na peça, você dirige três jovens – e já experientes – atores. Como foi a preparação deles para o espetáculo?
“Trabalhamos incansavelmente em cima do texto. Quando você monta um texto, à medida que vai decifrando com os atores os grandes movimentos, vão vindo à tona outras pequenas questões, outras nuances que surgem e às quais temos que estar atentos. Os TRÊS atores são muito inteligentes, muito. E muito sensíveis. Então foi um exercício conjunto de observação aguda de um texto.”
Essa peça marca o seu retorno ao teatro. Por que você ficou três anos longe dos palcos?
“Ainda tenho medo do teatro. Medo dos textos, medo de conseguir fazer aquilo pulsar vivo no palco, medo do processo do teatro. Às vezes, pode ser muito difícil. Trabalho pelo melhor resultado. Meu orgulho pessoal está sempre em segundo plano, em prol do resultado. Nem todo mundo funciona dessa forma, e tenho pânico disso. Pânico de lidar com uma vaidade e não com uma cabeça pensante, aberta, livre.”
Você já dirigiu trabalhos no cinema, no teatro e na tevê. O que cada um desses meios tem de mais apaixonante pra você?
“No teatro você não está no controle. Só durante os ensaios. Como sou uma control freak (!!), me sinto mais confortável no cinema e na tevê. Mas todos três são apaixonantes, cada um por seu aspecto. Na tevê, por exemplo, você falar para milhões de pessoas é incrível, uma sensação que não dá para explicar. Você sente na rua. Criar para muita gente é alucinante. Às vezes, penso: se Shakespeare tivesse nascido nesse tempo, qual seria mesmo a mídia que ele escolheria? Acho que seria a tevê”!
Sua formação acadêmica é em economia e seus primeiros trabalhos na área artística eram ligados à música. O que a levou a caminhos tão distintos?
“O acaso. Ao entrar na faculdade, começou a minha ligação com o movimento estudantil, primeiros passos organizando concertos para conseguir fundos para o movimento, convite de Chico Buarque para organizar os shows 1º de Maio, concertos com diversos artistas em Angola, Cuba. Assim, fui sendo introduzida ao meio musical brasileiro, me formei e me tornei empresária de Djavan. Cinco anos mais tarde, criamos o Free Jazz Festival – eu e minha irmã Sylvinha – e, após quatro anos, fui estudar cinema em Nova York.”
Das peças e dos filmes que já dirigiu, se tivesse que escolher o mais importante – ou o mais representativo – da sua carreira, qual seria?
“Como sou muito maternal, gosto dos meus ‘filhotes’ igualmente. Tenho um carinho especial por Benjamim – que quer dizer o filho da preferida – por ser dedicado à memória de minha irmã querida e ela ter sido a motivação da obra.”
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