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por Audino Vilão*

Você lembra da última vez que sentiu seu coração pulsar de paixão e conseguiu expressar isso sem usar um emoji? Você consegue encarar um encontro romântico sem precisar fazer alguns stories, selfies ou tuíte? Consegue viver um romance offline? Dando continuidade à nossa coletânea de textos sobre Zygmunt Bauman hoje investigaremos o Amor Líquido.

As bases da sociedade foram derretidas a um ponto que até o amor mudou. A forma de amar e de procurar o amor estão diferentes do “clássico”, podemos problematizar isso de diversas formas, mas começaremos pela mais fácil óbvia, e talvez a mais importante, a busca pelo amor numa sociedade líquida.

É claro que nossos avós têm histórias muito intrigantes (muitas vezes assustadoras) sobre como se conheceram e como começou o relacionamento. Meus avós, por exemplo, foram obrigados a se casar, pois os pais combinaram assim. A promessa que compromete a liberdade de escolha é um problema por natureza, pois contraria o que supostamente todo ser humano herdaria como natureza, que é a liberdade.

Mas tirando o caso dessas relações forçadas, a busca por um romance clássico pode ser bem interessante: pessoas que se conhecem ao acaso, pessoas que se aventuram e descobrem, opostos que se atraem e se completam, entre outros mil exemplos de romance… mas você já reparou como isso acontece na modernidade líquida?

A cultura do consumo envenena a raiz do sentimento romântico. O exemplo se dá na prática. O ato de baixar um aplicativo de namoro no celular é igual ao de baixar um aplicativo de compras. Você está à procura de coisas que combinem com você, que se encaixem em você, que tenham a sua cara, que façam seu estilo e, o mais interessante, quando encontra algo do seu interesse tem sempre a opção “continuar passando”.

A cultura do consumismo nos consumiu até na forma de amarmos. Procuramos sempre o EU que ME satisfaça, seja pela roupa ou pelo par romântico. A busca incessante pela autoafirmação é o que torna o amor líquido. A falta de humanismo de sentimento recíproco com toda a carga de autoafirmação e despretensão real de algo fixo, leva à morte do romantismo, e dá continuidade a era de consumismo.

A objetificação virtual dos momentos também é outro grande fator que colabora para o amor líquido. Estamos mesmo querendo jantar fora a dois ou queremos apenas tirar fotos de um jantar a dois? Estamos mesmo querendo viajar ou estamos querendo gravar vlogs e stories em vez de vivenciar a experiência? Estamos mesmo querendo ter intimidade com alguém ou estamos criando contas “secretas” para alguns poucos grupos de amigos e conhecidos para compartilhar momentos de intimidade do casal?

A digitalização da ação é esse fator que descrevi acima. A vontade de viver em si é mínima, já a vontade de mostrar o que deveria estar vivenciando é a meta. Passamos tanto tempo procurando expor em redes sociais e mídias digitais nossas experiências que nos esquecemos do mais importante, que é vivenciaálas. E no amor isso é mais presente que tudo. Montar um “date” ou um encontro perfeito apenas para postar e ganhar curtidas no Instagram ou no facebook, ou fazer isso por simbolizar um gesto de amor ao seu companheiro? Preparar o dia perfeito para gravar ou para estar ao lado de quem se ama? Acredito que depois de tantas reflexões que de certa forma são verídicas na modernidade líquida bate até uma confusão, não é? No vídeo abaixo falo mais sobre o tema. (*Audino Vilão, filósofo, cursa História na universidade e é youtuber – no insta @audinovilao e no Youtube)

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