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por Pietro Marmonti*

Lembro-me de quando ganhei o meu primeiro celular. Tinha 11 anos e meus pais me deram de Natal um Motorola “flip-phone” preto e laranja que não tinha nem acesso a internet. Na época, nem ligava muito para ele, já que me contentava em brincar de carrinho e de soldadinho pelos tapetes da sala da minha casa. Para ser sincero, eu somente usava o celular para falar com meus pais e de vez em quando com meus amigos.

Acredito que a minha geração foi a última a não ter uma infância 100% digital. Eu ainda brinquei de carrinho, assisti desenhos da Disney e tive aqueles dinossauros que crescem na água. Mesmo não brincando na rua como meus pais, minha geração ainda pegou a fase das brincadeiras físicas. Eu ia para casa dos meus amigos brincar de esconde-esconde, pega-pega e futebol, e não para jogar videogame. Essas brincadeiras físicas são muito importantes para o amadurecimento da imaginação e da independência de uma criança, e sinto que isso está se perdendo com a digitalização do entretenimento recreacional.

Não sei se sou só eu, mas me dá um desespero quando vejo uma criança vidrada em um tablet na mesa de um restaurante, onde os pais, cansados de cuidar de seus filhos, cedem e dão seus celulares ou tablets para ter um pouco de sossego. Quando eu era pequeno, em vez de olhar para uma tela, pedia para vir lápis de cera para desenhar no papel da mesa, que minha mãe levava embora depois da refeição. Existia uma simplicidade das brincadeiras físicas que estão cada vez mais raras.

Até o conteúdo exposto para as crianças mudou, e é isso o que mais me preocupa. Essa semana, por acaso, assisti um episódio do desenho Phineas e Ferb, e fiquei abismado com o jeito que passa noções morais e éticas. Não percebia na época, mas no episódio os personagens encontravam-se em várias situações em que podiam escolher o caminho vantajoso ou o caminho ético. O que me deixou muito contente foi ver que o caminho ético sempre prevalecia. Esses princípios estão presentes em boa parte dos desenhos infantis e sendo subliminarmente passados para as crianças. Muitos desenhos fazem isso, porém, esses valores são perdidos quando o conteúdo absorvido pelas crianças são de Youtubers enchendo a banheira de Nutella e fazendo conteúdo apelativo.

O momento agora é de reflexão, pensar na melhor forma de criar conteúdo que inclua todos esses princípios fundamentais para p desenvolvimento humano na esfera digital. Devemos ter como foco principal a construção da personalidade da criança, seus valores e sua interação social, tendo em vista que o mundo digital veio para ficar e a ideia de criar uma pessoa totalmente off-line no mundo de hoje é uma tarefa impossível. Nós, da geração Z, temos a responsabilidade de criar e disseminar conteúdo com responsabilidade, que agregue na criação e no crescimento dessas crianças que estão vivenciando uma infância digital. (*Pietro Marmonti, colaborador do Glamurama e empresário da indústria criativa)

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