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por Cesca Civita*

Oficialmente faço parte da Geração Z pois nasci em 1996, mas também sou uma ‘Millenial’ já que meus anos de formação se deram durante a virada do século, e agora, para completar estou GEN C. Não sou Gen C, vejam bem, estou Gen C. Nossa, eu realmente devo ser uma excelente cobaia de laboratório! Minha geração é a primeira a nascer junto com o advento da internet. Enquanto eu estava no berço, meus pais mandavam seus primeiros e-mails, enquanto eu saia do portão da escola recebia minhas primeiras ligações no celular, no ensino médio minha mãe me mandava SMS enquanto eu navegava por algo chamado Orkut, ou MSN, uma tal de mídia social. Aí, já no meio da adolescência, passava noites em claro respondendo e dando ‘likes’ nos ‘posts’ de amigos e outros não tão amigos assim. Todos cobaias como eu. Todos sem ter noção do que estava acontecendo e sem saber que havia um tempo em que tudo isso não existia.

Aliás, ainda é muito difícil lembrar que existiram pessoas que viviam desconectadas. Mas enfim, depois de tudo isso dito, descobri recentemente que minha geração também tem um ‘estado de espírito’ diferenciado. Digo estado de espírito porque é muito mais do que uma mentalidade, é mais do que um jeito de ser, é um conceito de ‘estar dentro do contexto’. Vou tentar explicar, se conseguir é claro.

À partir da pandemia, a forma como tocamos nossas vidas mudou, e ninguém mais do que os adolescentes e novos adultos se adaptaram às novas normas. A Covid-19 transformou minha geração de uma maneira indelével e criou todo um ‘ecossistema’ que antes não existia, um mercado paralelo exclusivamente digital. Desde o surgimento da pandemia houve uma explosão de entretenimento digital para adolescentes. Mais de 60% da audiência do YouTube é formada por esse novos e futuros adultos. Só o mercado infantil viu um crescimento de 1.7 bilhões de dólares.

O que isso significa dentro de casa? Significa que agora quem influencia o consumo da família é o jovem. O fator ‘exposição’ faz com que ele tenha acesso não só às novidades, mas lançamentos, descontos, promoções e tudo o que vivemos no dia à dia de um mundo real. Para alguns pode parecer assustador, mas vocês têm que levar em conta que, para a maioria de nós, não é. Acreditem, é natural e tem seus lados bons e ruins como qualquer outra coisa.

Lembro que minha avó me contava que quando Elvis Presley apareceu com seu ‘rock’n roll’, os jovens tinham que se esconder dos pais para poder ouvir, porque ou era coisa do demônio ou era o fim do mundo. Alguns estudos indicam que nunca nas últimas décadas, as famílias estiveram tão unidas como nesta pandemia, e que hoje os filhos tem sido muito mais ouvidos pelos pais, e aquilo que eles tem para contar gera interesse e conversas que antes não rolavam. Nada mais natural que neste contexto, tenham surgido tantos influenciadores jovens e com conteúdo para dividir, mesmo que ainda não soe como conteúdo para muitos.

As marcas certamente não deixaram de notar esse ‘shift’ de comportamento e entenderam que hoje os filhos palpitam nos produtos de limpeza da casa tanto quanto os pais. Sabem mais sobre o produto, sobre seu impacto ecológico, sobre a ética da empresa e por aí vai.

No meu caso, segui atentamente a história da Zara que pouco à pouco foi se renovando para não agredir a sociedade como vinha fazendo, tanto com seu comportamento trabalhista quanto à procedência dos seus produtos. Acompanhei o que aconteceu com a Dolce & Gabanna, no polêmico desfile na China, o plágio da Dior, que copiou a estampa da Tree People, da Gucci com sua apropriação cultural, da camiseta racista da H&M, da questão dos transgêneros nos desfiles da Victoria Secret’s, da vitrine considerada racista da Prada em Manhattan, e tantas outras questões. Não deixei de consumir ou apreciar, mas me abstive até saber quais medidas seriam tomadas por cada uma delas. E não esconderia minha opinião de ninguém, assim como tenho a maior admiração pelas novas marcas e ideias que vem surgindo entre os Gen C.

Com certeza a criatividade anda a mil e alguns millenials já estão à frente de muitas marcas estabelecidas com seus produtos inusitados, coisa da qual sou muito fã. Sempre me atraiu o que não é convencional, ou muito mainstream, e esta pandemia veio também para chacoalhar a imaginação adormecida já há algum tempo!

Como toda oportunidade carrega junto uma grande responsabilidade, as marcas mais do que nunca, além de inovar para essa nova geração, também têm que ter cuidado com aquilo que apresentam e como se apresentam, e é aí que entra o papel do influenciador, que veio para ficar.

A curadoria, o filtro, a credibilidade nunca foram tão importantes. Hoje, a maioria das plataformas está inundada de ‘ads’ ou anúncios, mas o que muita gente ainda não sacou é que a velha linguagem não cabe nestas plataformas e sem o ‘input’ do próprio consumidor, a troca entre comércio e cliente não rola. Não rola porque as novas gerações estão GEN C, ou seja, bem ligadas e bem informadas para saber dizer não ao que não queremos e sim para aquilo que é convincente. Viva os influencers! (*Cesca Civita é criadora de conteúdo digital, formada em Global Marketing Management pela Regents University de Londres, cidadã do mundo e apreciadora do inédito)

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