por Pietro Marmonti*
Se você perguntar a seus pais quais eram os sonhos deles quando eram jovens, tenho certeza que a maioria responderia: criar uma família, comprar uma casa própria, construir propriedades no litoral ou no interior, ter um carro legal, e principalmente, ter saúde. A nova geração já não pensa da mesma forma. Os sonhos mudaram e o que antes era visto como imprescindível, hoje não faz tanto sentido.
Antes de começar a escrever, fiz uma pesquisa no meu Instagram (@pietromarmonti) perguntando quais os maiores sonhos dos meus seguidores. O que me deixou surpreso é que muita pouca gente quer bens físicos como casa e automóveis. Na verdade, a arrasadora maioria citou experiências e coisas intangíveis como objetivos de vida.
Uma seguidora respondeu “meu maior sonho é me aceitar como sou e parar de ligar para opiniões alheias”, outra disse “trabalhar com que realmente me faz feliz.” Já uma grande parte das pessoas tem como sonho principal “ajudar o maior número de pessoas a realizarem seus objetivos”. Assim, a maioria optou por não focar suas vidas em adquirir ativos pessoais, e sim, em ter experiências valiosas e “temporárias”, algo que seria incomum anos atrás.
Acredito que minha geração é assim por dois motivos básicos. Primeiramente, como já falei em textos anteriores, a Geração Z tende a olhar mais para o próximo, ser mais consciente com o meio ambiente e outros temas delicados, além de valorizar sua saúde mental, acima de ganhos financeiros. Com isso, é de se esperar que a nova geração sonhe com realizações pessoais e coletivas. Afinal, crescemos em um mundo de economia compartilhada, o que facilitou acessos a bens e está mudando o jeito como levamos nossas vidas.
Para quem não sabe o que é a Sharing Economy ou Economia Compartilhada, nada mais é do que uma economia construída a partir da divisão de coisas que antes eram usadas por uma só pessoa. Plataformas conectam pessoas que necessitam de algo a pessoas que possuem esse produto/serviço. Faz sentido que nossa geração não queira comprar um carro, já que é fácil chamar um Uber para se locomover pela cidade. Para que comprar uma casa se existem plataformas como 5º andar ou Yuka que ajudam jovens a alugar apartamentos? Quem quer uma casa na praia se podemos alugar uma diferente todos os finais de semana pelo Airbnb, sem o trabalho e dinheiro de ter que manter esse ativo? Isso vale até para roupas, bolsas e outros acessórios. Você pode não ter dinheiro para ter o mais novo Golden Goose mas pode alugar em sites como Rent the Runway.
Estamos vivendo em um mundo, onde a sharing economy está ditando os novos padrões de consumo. Minha geração cresceu nesse mundo “compartilhado” e isso moldou nossos sonhos e objetivos pessoais, cada vez mais prezando o conforto, a saúde mental e experiências como viagens, por exemplos.
Antes quando se olhava para uma oferta de emprego, o foco estava no dinheiro, estabilidade, projeção de carreira… Porque isso era importante para conseguir comprar casas, carros e coisas caras. Nos dias de hoje, sem esse sonho da casa própria como objetivo final, outros aspectos entram em questão quando o assunto é decidir o que fazer da vida. Não estou dizendo que a nova geração não quer enriquecer, mas acho que gastaríamos nosso dinheiro com outras coisas. Também prezamos mais pela felicidade, qualidade de vida e propósitos. Isso pesa, e muito, nas decisões.
O que me intriga é ver como esse novo padrão de consumo irá influenciar o futuro próximo. Será que o mercado imobiliário e automotivo vai se adaptar a esse novo pensamento de sharing economy e começar a oferecer produtos pensados no compartilhamento de ativos? E como o mundo e a economia que dependem muito da compra desses ativos vai responder? Isso só vamos saber em alguns anos. (*Pietro Marmonti, colaborador do Glamurama e empresário da indústria criativa)
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