Em 2020 aprendemos o quão absurda pode ser tornar a realidade. Em algum momento nos pegamos refletindo acerca de como tudo aconteceu do nada, sobre a brevidade da vida e até sua falta de sentindo. Os fatos extraordinários que estão ocorrendo este ano deixaram marcas profundas que irão refletir nos questionamentos de todos nós: “Que loucura cara, como a vida é um absurdo, como a existência humana e suas ações são sem sentido!”. Isso de fato é perigoso, pois pode desencadear um vazio existencial, e se tem uma coisa que o ser humano tem medo é da falta de respostas para suas perguntas mais intimas e importantes… é desesperador.
Quando nos damos conta da rotina em que caímos e temos de seguir, pensamos “Para que tudo isso? Qual o sentido de eu sempre fazer a mesma coisa?”. Nos encontramos numa situação semelhante a de Sísifo, em O mito de Sísifo. E o filósofo Albert Camus pode nos auxiliar a lidar com esse absurdo.
Albert Camus é um existencialista (por mais que ele rejeite essa definição), romancista e vencedor do prêmio Nobel de literatura, que escreveu ensaio filosófico sobre o absurdo e como a falta de sentido da realidade nos afeta e nos faz sentir “Estrangeiros nela”. Para termos um norte, podemos começar entendendo como se dá a nossa relação com o absurdo. Poderíamos entender que ‘o absurdo’ não está em nós, nem no universo. O absurdo está em entender nossa relação com o universo. O problema está no ser humano pegar algo tão absoluto como o universo e a vida, e querer classificar numa perspectiva de entendimento.
Obviamente falharemos em tentar, pois é algo que está além da nossa compreensão. É absoluto, e essa frustração do não entendimento é que gera o absurdo. “Nossa mas conseguimos entender tantas coisas complexas na vida, mas não o que é a vida”… o absurdo nasce dessa relação, em que vamos nos afundando na falta de sentido da vida por não conseguirmos compreende-la.
Encarar o absurdo é uma tarefa que pode ser prejudicial se deixarmos nos levar pelo niilismo, ao negar a vida, por isso Camus nos propõe três soluções: a revolta, a liberdade e a paixão. A revolta de se deparar com o absurdo e não se deixar consumir pelo mesmo. A liberdade de escolha de dar sentido à vida mesmo ela não tendo um. E a aceitação do absurdo… amar a vida mesmo sem a compreensão do que ela é.
No que se refere ao mito de Sísifo, Camus traça um paralelo com o mito grego: Sisifo era um rei grego, muito sábio e sagaz, que foi capaz de enganar vários deuses e, na revolta de Zeus, foi castigado a cumprir uma tarefa absurda e eterna: rolar uma pedra gigante para o topo de uma montanha. Quando atingisse o pico, a pedra rolaria montanha a baixo e, eternamente, ele deveria repetir a mesma tarefa. Uma tarefa sem sentido, absurda e cansativa… e isso se assemelha com nossa vida. Rolamos a pedra montanha acima de domingo a domingo, para no final do dia rolar para baixo. “Qual o sentido de fazer isso?”
Mas Camus traz uma interpretação curiosa: “É preciso imaginar Sísifo feliz”, ou seja, Sísifo dá sentido à sua tarefa não quando atinge o pico da montanha, nem quando ele vê a pedra rolando de volta à estaca zero, mas durante o processo! É preciso amar o destino, é preciso amar o seu hoje, o fazer, é preciso dar sentido ao agora, e não pensar em quando atingir o pico e que tudo se repetirá. O sentido está no agora. O que mantém Sísifo forte e o leva a amar seu castigo é o processo, é a vontade que o faz rolar a pedra. Ou seja, nós devemos dar sentido à nossa vida no momento em que vivemos, pois o depois não passa de uma esperança absurda. O topo é o sem sentido, mas é na jornada ao topo que damos sentido a ele. (*Audino Vilão, filósofo, cursa História na universidade e é youtuber – no insta @audinovilao e no Youtube)
No vídeo explico melhor a jornada de Sísifo em rolar a pedra e como damos significado à nossa tarefa de viver quando encaramos o absurdo:
- Neste artigo:
- Albert Camus,
- Audino Vilão,
- Geração Z,
- O mito de Sísifo,