Em tempos obscuros em que a sombra do negacionismo está cegando muitos, a razão entra em evidência como um super-herói da Marvel em ação para “salvar” a Terra. De fato, combater o obscurantismo do negacionismo científico é uma necessidade para garantir um mínimo de coerência em nossa sociedade. A razão não é completamente boazinha e positiva como se imagina. Na verdade, foi por meio da razão que desenvolvemos, por exemplo, a bomba atômica. A Escola de Frankfurt (escola de análise e pensamento filosófico e sociológico) formada por teóricos que nos trazem essa visão com crítica ao iluminismo é o conceito-chave que dissertaremos essa semana: a razão instrumental.
Já pensou por que somos seres racionais ou para que serve a razão? Veja, a razão é na verdade uma ferramenta de dominação sobre a natureza. Nós desenvolvemos a razão nos primórdios de nosso estado de natureza para justamente manipular e controlar a natureza a nosso favor e sobretudo à sobrevivência. Foi a razão que nos ajudou a manipular o fogo, construir edifícios e complexos sistemas para uso de recursos naturais, por isso ela é um instrumento de dominação.
Pense comigo, se a nossa natureza é a razão e a razão é dominação, o que impediria a humanidade usar isso contra ela mesma? Soa até ingênuo pensar dessa forma, não? Pois bem, essa é justamente a crítica da Escola de Frankfurt (principalmente de Theodor Adorno e Max Horkheimer) ao iluminismo e à razão instrumental que geraram uma ilusão de que estaríamos rumo a um “bem estar social absoluto” ou uma “paz e progresso coletivo”.
Contudo, se olharmos para a história (principalmente no contexto das décadas de 1930-1950 que é justamente o período da Escola de Frankfurt) percebemos a utilização da razão para fins perversos contra a própria humanidade: a invenção da bomba atômica, as drogas, o holocausto e a propaganda ideológica nazista, todos frutos do que chamamos de “Razão Instrumental”, termo usado para denominar quando a razão é usada como meio para determinado fim. Parafraseando o filósofo Francis Bacon “O conhecimento em si é um poder” e pensando mais a fundo, o poder é usado para dominar mais do que a natureza, o ser humano de forma mais direta ou sútil também é governado pelo poder.
Um grande exemplo de razão instrumental é a propaganda nazista, a estratégia detalhadamente pensada e espalhada para fomentar um sentimento revanchista, nacionalista e preconceituoso é a ilustração mais explícita da razão instrumental, a fomentação da ideologia através da razão e os fins foram catastróficos.
Razão nem sempre é sinônimo de bom, e por definição é ferramenta de dominação. Pensando nesse tema de razão instrumental e Escola de Frankfurt, na próxima semana traremos o tema de Indústria Cultural, que é justamente o que vivemos hoje, a utilização da razão instrumental que reflete na nossa vida. (*Audino Vilão, filósofo, cursa História na universidade e é youtuber – no insta @audinovilao e no Youtube)
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