Entre os 18 chefs que entraram na competição da segunda temporada de ‘Mestre do Sabor’, quatro chegaram à final: Ana Zambelli, Dário Costa, Júnior Marinho e Serginho Jucá. Durante o programa, eles se destacaram em momentos diferentes, hora nas provas em grupo, outras vezes nas provas individuais, preparando pratos com ingredientes familiares ou tendo que usar e abusar da criatividade com ingredientes e técnicas desconhecidas. O que todos têm o comum? O talento, a paixão pela gastronomia e pela arte de cozinhar. Em entrevista, os quatro falam sobre as estratégias que usaram, ou não, durante o programa; sobre os desafios da competição; os aprendizados; e sobre as expectativas para a final, que acontece na noite desta quinta-feira, ao vivo, na Globo. Para quem vai sua torcida?
Ana Zambelli
Aos 46 anos, a carioca Ana Zambelli participa do seu segundo reality. No primeiro, o quadro ‘Super Chef’, do ‘Mais Você’, ficou em sexto lugar e agora chegou à final do ‘Mestre do Sabor’. Chef executiva de uma rede de hotéis em São Paulo, Ana se interessou pela culinária ainda criança, vendo sua avó cozinhar para festas e eventos.
Como é estar na final do ‘Mestre do Sabor’?
Um sonho, uma realização. Ainda não acredito, nem me vendo na TV. Não por falta de capacidade, mas por ter passado por momentos muito difíceis e isso me aparece um sonho mesmo. Me sinto vitoriosa e mais confiante pra vida.
Você adotou alguma estratégia que ajudou a chegar na final?
Sim. Confesso que pilhei o time a seguir o Léo nas provas em equipe. Entendi que ganhando a imunidade já era o passo pro próximo programa e nos reuníamos todos os dias à noite, varávamos madrugada conversando para que lá na hora estivéssemos em harmonia e captando as dicas do mestre.
Qual foi o maior desafio?
Minha síndrome do pânico que várias vezes me dava um “oi” no meio das provas. Acho que não consegui controlar a mente em uma das provas e o meu prato ficou bagunçado tanto quanto ela.
Olhando para trás, qual foi o aprendizado?
Muitos. Principalmente em equipe onde o ego e a vontade de aparecer tinha que sumir para que o trabalho desse certo. Todo mundo queria mostrar o seu talento, mas ali tínhamos que misturar os talentos e ser um só. Nas provas individuais, aprendi a ser mais confiante. Aprendi que quanto mais medo a gente tem, mais rápido passa o tempo. E com calma parece que o tempo para.
O programa reuniu chefs experientes. Na sua opinião, o que diferencia um chef do outro?
O ‘Mestre do Sabor’ conseguiu reunir pessoas incríveis. Ficamos todos muito amigos. Infelizmente, devido à pandemia, congelamos os planos de nos encontrar. Mas ainda vamos todos um cozinhar na região do outro. Ali não tinha ninguém fraco. Todos com ideias brilhantes. Nunca vi um grupo tão forte. O que diferencia um chef do outro é o estilo. Dário, maravilhoso, tem um estilo caiçara. Kaywa cheio de técnicas de fermentação. Arthur com a culinária afetiva cheia de histórias. A Gi, uma pernambucana que trabalha no melhor sushi de Pernambuco. Júnior, jovem e já tem um restaurante. Enfim, só pessoas especiais.
O que é cozinhar para você?
Cozinhar para mim é passar a energia pra comida e transformá-la. Fico séria quando cozinho. Servimos pessoas. O que faço entra no corpo da pessoa, ela sente prazer ou não quando come e depois o que eu fiz vira nutriente pra ela viver. Então, cozinhar é o ato mais importante da vida, na minha opinião. Cozinhar é amor, é servir, fazer o outro feliz. O meu maior prazer é ver alguém sentindo prazer ao comer minha comida.
Dário Costa
Dário, que nasceu em Santos e mora em Guarujá, faz a linha garotão de praia e viu a gastronomia entrar na sua vida ao se mudar para a Nova Zelândia quando adolescente. Começou lavando pratos e foi aos poucos ganhando espaço. Viajou pelo México, Chile e Itália, onde entendeu o valor dos alimentos e o verdadeiro significado da gastronomia. Hoje, aos 32 anos, possui seu próprio restaurante no litoral paulista.
Qual é o sentimento de estar na final do ‘Mestre do Sabor’?
É um sentimento de missão cumprida. Lutei tanto para conseguir chegar na final, me dediquei pra caramba, estudei igual um louco, incorporei o jogo e a competição mergulhando de cabeça. Agora é só fazer o que eu sei fazer e contar um pouco com a sorte também. A galera que está na final é sinistra e não tenho certeza se vou ganhar. A única certeza que tenho é que vou fazer o que sei fazer da melhor maneira possível.
Você adotou alguma estratégia que ajudou a chegar na final?
Sim. Poucos sabores, sabores simples e marcantes. Poucos componentes no prato, sem viajar muito na maionese. As vezes que deixei passar um pouco da conta, não fui bem avaliado. Menos é mais. Ser simples e fazer muito bem feito os sabores marcantes.
Qual foi o maior desafio?
A surpresa e o tempo. Você não sabe o que vai ser, fica sabendo na hora e o tempo de preparo é curto.
Olhando para trás, qual o maior aprendizado?
O aprendizado foi gigante. Tenho certeza que o que tiro de mais valor do programa é o aprendizado junto com os cozinheiros com quem convivi o tempo todo. Vendo técnicas, tendo ideias, perspectivas de cozinhas diferentes. Mergulho muito profundamente nas coisas que não sei.
O programa reuniu chefs experientes. Na sua opinião, o que diferencia um chef do outro?
Acho que o que diferencia os chefs é a bagagem, a trajetória. A experiência que nos define, a variedade. Você vê que o cara passou por diversas cozinhas, das mais simples às mais sofisticadas… Acho que isso é algo a mais. O que diferencia um chef do outro.
O que é cozinhar para você?
É uma profissão tão importante quanto a de um médico. De grande responsabilidade, que envolve devoção. A gente se entrega muito para isso e às vezes a gente não tem o reconhecimento que merece. Acho que cozinhar é uma profissão totalmente fora da curva.
Junior Marinho
Júnior, que mora em Goiânia (GO), mas nasceu em Rio Branco (AC), tem um restaurante com outros três sócios. Aos 18 anos saiu de casa e foi morar em Goiânia. Em 2013, resolveu estudar gastronomia e já no segundo período da faculdade ganhou um concurso universitário.
Qual é o sentimento de estar na final do ‘Mestre do Sabor’?
De superação. Estar na competição com tantos cozinheiros incríveis, com tantos anos de experiência e tantos países no currículo, e chegar até aqui é surreal. Passei a acreditar mais em mim e no meu trabalho e também evolui emocionalmente.
Você adotou alguma estratégia que o ajudou a chegar na final?
Não sei se de forma consciente. Na verdade, tentei não seguir uma única linha no programa, queria mostrar várias áreas da minha cozinha. Fiz arroz, massa, aligot, ar, esferificação, enfim, mas tudo isso em pratos afetivos que fizeram parte da minha vida em algum momento, e sempre adicionando muito sabor.
Qual foi o maior desafio?
Todas as provas foram desafiadoras. Em todas senti que precisava me superar. Se tiver que destacar um momento que mais me desafiou, foi conseguir entender que o que Rafa falou a respeito do meu prato de cogumelos, na verdade, era uma crítica construtiva e que me fez crescer na competição. Depois daquele dia eu entendi que se eu não me superasse a cada semana eu podia ser o próximo eliminado.
Olhando para trás, qual o maior aprendizado?
Aprendi a confiar mais em mim e na minha cozinha. Antes do programa eu não demonstrava muita emoção em público, eu não me permitia chorar as vezes, lá foi tudo tão intenso que eu chorava na frente do Brasil inteiro, imagina! Sinto que cresci muito profissionalmente também.
O programa reuniu chefs experientes. Na sua opinião, o que diferencia um chef do outro?Experiências diferentes. Temos pessoas que trabalharam na França, Espanha, em restaurantes estrelados, pessoas que trabalham com cozinha brasileira raiz, enfim, gente que tem 30 anos ou 8 anos de cozinha profissional que é o meu caso, e isso tudo fez o programa ser incrível, essa diversidade.
O que é cozinhar para você?
É quase uma meditação. Quando entro na minha cozinha pra criar e testar novos pratos, esqueço de tudo ao meu redor, os problemas, a única coisa que passa na minha cabeça e que vejo ao meu redor são os ingredientes que estou usando e o fogão.
Serginho Jucá
Morador de São Miguel dos Milagres (AL), Serginho Jucá nasceu em Maceió. Tem 38 anos e tem dois restaurantes na cidade onde mora. Neto de Dona Yeda Rocha, referência na culinária alagoana, Serginho chegou a se aventurar na faculdade de Direito, mas largou no quarto ano para morar na Espanha. Lá, descobriu a alta gastronomia. Em 2015, foi eleito chef Revelação pelo guia Quatro Rodas. Hoje, desenvolve um projeto social onde ensina pessoas carentes a produzirem petiscos com alimentos baratos, que podem ser vendidos na porta de casa.
Qual é o sentimento de estar na final do ‘Mestre do Sabor’?
É a realização de um sonho. Todo carinho que plantei nesses 15 anos, aniversários, natais, festas de ano novo, todos os dias que deixei de estar com a família para estar cozinhando e entregando meu melhor foram compensados.
Você adotou alguma estratégia que o ajudou a chegar na final?
Acho que a melhor estratégia foi sempre criar um grupo forte para ganhar as provas de equipe e conseguimos fazer isso. Ninguém sabe, mas a gente fazia reuniões de madrugada. Gravava de 10 às 10h, mas depois disso, chegando no hotel, passávamos parte da madrugada alinhando as coisas. Dependendo da prova que acontecia, a gente já tinha no gatilho várias ideias e conseguia um pouco mais de noção de conjunto. Acho que essa foi nossa principal força.
Qual foi o maior desafio?
Acreditar em mim mesmo a cada prova. Ser mais versátil. Um programa de cozinha como esse não é o melhor cozinheiro que ganha, mas sim o mais versátil. Não saber o que esperar das provas e ter um tempo limitado para fazer foi o mais desafiador.
Olhando para trás, qual o maior aprendizado?
Vários. Você está ao lado de chefs incríveis, mais os mestres, o Claude e o Batista… Sentimento de cozinha aflora. Estava com muita saudade desse sentimento, de viver isso. Adoro falar sobre cozinha, passar esses dias com todo mundo falando só de técnicas, de receitas, foi muito show.
O programa reuniu chefs experientes. Na sua opinião, o que diferencia um chef do outro?
São as referências. Onde ele trabalhou, onde estagiou, se tinha referência familiar de comida, se cresceu nesse meio ou não. Isso acaba levando você a uma personalidade. Cada um viveu em um lugar, tem lembranças infantis diferentes, e isso tudo é refletido no prato.
O que é cozinhar para você?
Vício. Hoje em dia talvez eu seja viciado em cozinhar, em servir. Cozinhar é esse amor. Fico muito feliz quando você pega alguém que está irritado ou triste, aí você faz aquele prato com todo amor do mundo e quando ele come, dá um sorriso… Isso é bom demais.
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