O consumo consciente e o terceiro setor caminham cada vez mais juntos, sobretudo com o envolvimento crescente dos empresários mais jovens. Em destaque neste cenário temos Cameron Saul, filho de Roger Saul, fundador da poderosa Mulberry, que uniu sua vontade em criar impacto social ao design e criou a Bottletop. Baseada em Londres, a marca tem boa parte de sua produção feita em um ateliê em Lauro de Freitas, município próximo de Salvador, na Bahia, e tem como um de seus principais destaques o reaproveitamento de anéis de latinhas de alumínio (as ‘bottle tops’) para a produção de bolsas, mochilas, cintos e outros acessórios. Chique com razão de ser!
Sua equipe baiana é formada por 16 artesãos – número que Cameron planeja aumentar em breve. Ele visita o ateliê que mantém há mais de 10 anos cerca de cinco vezes ao ano, e se diz aliviado por poder contar com um super braço direito por aqui. “Temos um gerente chamado Luciano dos Santos desde o começo o negócio. Todo o programa no Brasil foi criado com a ajuda dele, é uma pessoa que realmente se preocupa com a comunidade, cuidava de uma ONG na região antes de trabalhar com a gente”, falou Cameron em entrevista exclusiva ao Glamurama.
O impacto que a Bottletop tem sobre os moradores locais, principalmente com os programas de capacitação que oferecem, é motivo de orgulho para o designer, que faz questão de se manter bem informado sobre a situação social e econômica do país. “É maravilhoso dar chance de crescimento para a população daqui. Sabemos que há menos oportunidades para negros no Brasil, isso é realmente uma questão no país, a maior parte dos desempregados do Brasil é de negros e o índice é ainda maior para as mulheres. Nossa experiência na Bahia, o mais poderoso é o impacto positivo na vida das mulheres da comunidade, em que podemos oferecer educação para seus filhos e suporte para suas famílias.”
Em outubro, o designer britânico esteve em São Paulo para participar do Iguatemi Talks, e teve bons encontros com players da moda nacional. Elegeu a NK Store como o primeiro ponto de venda da marca em solo nacional (cinco modelos começaram a ser vendidos lá a partir dessa semana a preços que vão de R$810 a R$1.060) e iniciou conversa com uma grande marca no Brasil sobre futura parceria. Amigo de celebridades como Emma Watson (que tem uma clutch Bottletop que leva seu nome), Naomi Campbell, Narciso Rodriguez, Candice Swanepoel (com quem já passou Réveillon junto no Brasil), ele vive em movimento com pessoas bacanas. Colaborou com o artista brasileiro Ernesto Neto em Zurich e com o estilista Narciso Rodriguez. Mesmo com todo esse networking, o início do trabalho não foi fácil. “Muita gente achava que eu era louco em tentar construir um negócio com impacto sustentável, arrecadando dinheiro para fundações. Hoje as pessoas entendem completamente as particularidades do modelo. Não há ‘planet b’, temos que agir o mais rápido possível”, contou.
Cameron Saul é formado em “Business” e nunca estudou formalmente moda. Seus conhecimentos vêm de berço, dos papos discutidos em família sobre a Mulberry, fundada em 1971 e controlada pelos Saul até 2002, e das histórias de sua mãe, Monty, que foi modelo da Dior (nos últimos anos os pais trocaram a vida agitada de Londres pela pacato condado Somerset, onde tocam uma fazenda e um cultivo de trigo). Um dos maiores aprendizados que herdou deles? “Colocar toda a sua paixão no negócio.”
Para o estilista, o futuro é handmade, mas um novo modelo de handmade, muito mais “high” do que “slow”. Ele explica: “O feito à mão também pode ser executado com tecnologia de ponta, e combinar os dois processos é um jeito de levar o trabalho artesanal mais longe e atingir novos mercados.” Como explorar isso da melhor maneira, Saul explica: “É um desafio da indústria porque temos que encontrar soluções, ser criativos e seguir promovendo ações especiais com esse objetivo, apoiar ONGs com projetos sustentáveis e investir na criação de matéria-prima ecológica. Todo mundo deve se engajar para encontrar soluções.” Cameron também observa que novos designers já entram no mercado com esse pensamento em mente, enquanto marcas mais antigas e maiores estão “rebolando” para se adaptarem e atenderem a demanda de mercado que consome com consciência. Como fazer isso, é um dos maiores desafios da indústria da moda hoje. “Esse movimento é positivo, pois força todo mundo a buscar soluções.”
O desejo dele para o futuro da Bottletop? Escalonar o impacto, empoderar a maior número de pessoas, fornecer mais ajuda aos projetos de educação que apoiamos, ver as pessoas que trabalham conosco crescer junto com a marca, que está ganhando espaço em todo o mundo – acabamos de inaugurar uma concept store em Dallas, foi um passo e tanto para nós”, comemora.
Aos jovens que desejam ter sucesso como designers, ele aconselha:
1. “Siga sempre seu coração.”
2. “Não aceite um “não” como resposta se você tiver um sonho.”
3. “Não foque apenas nos produtos, a execução deles pode fornecer todo o suporte para que sua marca gere impacto e ganhe visibilidade.”
- Neste artigo:
- bolsas,
- Bottletop,
- Entrevista,