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Fernanda Montenegro
Fernanda Montenegro || Créditos: TV Globo
Fernanda Montenegro || Créditos: TV Globo
Fernanda Montenegro || Créditos: TV Globo

Fomos almoçar com Fernanda Montenegro no Rio. Era um grupo de mulheres e a atriz monopolizava naturalmente as atenções, com sua elegância e firmeza de opiniões. Ela começava a falar e ninguém queria interromper para dialogar. Sempre em um tom de voz baixo e com um ar de respeito pairando… Entre os vários assuntos da tarde, muitas críticas ao governo, algumas bem fortes, ditas sem autocensura, já que era um papo informal, não uma entrevista. Abaixo, os trechos que a gente tomou nota e que achou que mereciam ser publicados. “Estatizaram o teatro”, “estamos vivendo uma convulsão social” e “todo mundo está saindo dos armários na internet” são algumas das frases ditas por Fernanda. Vem ler!

Por Michelle Licory

“Teatro nunca foi tão barato”
“No meu próximo espetáculo, o cenário vai ser só uma cadeira, um tablado grande e uma coifa com iluminação especial. Hoje em dia uma peça só pode contar com um iluminador e, na melhor das hipóteses, um sonoplasta. Não dá mais para gastar com cenário. Não há dinheiro. E não tem mais intervalo, ou as pessoas não voltam, a não ser que seja muito engraçado. A única exceção é musical, que é um fenômeno aqui no Brasil. Somos o terceiro país no gênero: só perdemos para Inglaterra e Estados Unidos. Eu vivi a era de ouro do teatro brasileiro… Uma pena. Já foi um espaço político. As revoluções eram feitas ou em praça pública ou nos teatros. A moçada até é ligada em algo mais experimental, mas não existe mais ficar em cartaz por dois, três anos. As temporadas são curtas. A vida está complicada e teatro nunca foi tão barato. Às vezes sai mais barato que o pipoqueiro e o guardador de carro. E não há mais como mudar isso, por conta das leis de incentivo…”

“Aquele dinheiro é do povo”
“Uma grande empresa pode desviar parte do valor de seu imposto para um fundo de arte, então é melhor o dinheiro ir para o fundo do governo e não diretamente para um patrocínio de uma peça. E aí uma comissão do governo diz se você tem direito a receber esse incentivo. E você gasta uma baba de dinheiro nessa burocracia e precisa se submeter ao que o governo determina, e eles determinam que você só pode cobrar até tanto… Isso porque aquele dinheiro do imposto é do povo. Também está se discutindo que não podemos mais agradecer a uma empresa pelo patrocínio se na verdade é dinheiro de imposto. Se o governo como um todo tivesse o mesmo rigor que o Ministério da Cultura tem para comprovar despesa, seríamos como a Suécia ou a Noruega.

“Manda cobrar baratinho”
“Estatizaram o teatro, compreende? Nos Estados Unidos, é capitalismo, espetáculo tem acionista. Não tem governo que protege e manda cobrar baratinho. Hoje, no Brasil, mesmo que você lote a casa sempre, o espetáculo não se paga. O aluguel de um teatro custa de R$ 6 mil a R$ 20 mil por noite. A verdade é que a parte cultural não mora nas leis. É sempre um esforço individual. […] A tecnologia está tão avançada que essa coisa humanitária e existencial, essa discussão toda está sendo jogado pras tabelas. É ida a Marte e a Jupiter daqui a pouco. E todo mundo está saindo dos armários na internet. Você está vendo isso? Quem comanda? Vai ser difícil para a geração dos meus netos. Eu tenho cento e tantas crônicas na internet que eu não escrevi, atacando pessoas. E o que fizeram com a Taís Araújo [alvo de ofensas racistas em redes sociais]! Uma menina linda… E mesmo que não fosse! O mundo de Gutenberg, que é como eu chamo, está acabando e estamos vivendo uma convulsão social”.

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