Por Victor Santos para a Revista J.P
O tempo não para e a vida é breve, já dizia o grande poeta Cazuza. Então pare de correr atrás do fim se o que existe pelo caminho é muito mais importante. Parece clichê, mas é assim que grandes filósofos gregos pensavam. Muito diferente da busca pela felicidade como nos é apresentada hoje, que pode representar uma tarefa árdua, ingrata, de curtíssimo prazo e às vezes até impossível. Em tempos tão inseguros, com um cenário econômico e político conturbado – levanta a mão quem tem vontade de desligar o noticiário –, além da procura incessante por resultados imediatos, as pessoas acabam buscando experiências instantâneas para esquecer os problemas. Coloque aí sair pelo shopping comprando tudo o que não precisa. Algo que o antigo Aristóteles chamava de “gratificações” – o que, segundo ele, funciona perfeitamente para animais não racionais, enquanto que para o humano o efeito é limitadíssimo. Ainda de acordo com os velhos gregos, parte do jogo é entender que as desventuras são apenas alguns capítulos do enredo da vivência e a realização é muito mais palpável, faz a gente crescer, evoluir e lidar com os maus momentos. A vida seria, por vezes, dura, mas afinal, como já diriam os Novos Baianos, “por que não viver esse mundo se não há outro mundo?”. O psiquiatra e psicoterapeuta da School of Life, Guilherme Spadini, questiona o que se entende pela palavra “felicidade”. “Antigamente, filósofos falavam em felicidade com uma ideia de movimento, que existe algo na vida que nos mobiliza. Hoje, se eu não estiver feliz eu travo, eu sofro. A felicidade que se falava antes era mais próxima de uma força motriz”, explica. Diversas gerações investigaram como ser feliz, mas entendiam que antes de alcançá-la deveriam passar por uma odisseia de sacrifícios. Atualmente, a ideia que preenche esse espaço vazio é a da realização. Esta proporcionaria um avanço gradual e sensível do bem-estar e uma capa mais resistente para aguentar desafios. Adivinha quem já falou disso? Sempre eles, os gregos. Segundo Spadini, eles apresentaram a ideia da eudaimonia, que se refere a um estado de harmonia espiritual: enquanto “daemon” quer dizer energia, espírito, “eu” remete ao equilíbrio, algo bem resolvido. “É diferente do êxtase. Não é buscar aquela sensação de ‘meu Deus, que legal!’ e sim a tranquilidade e harmonia. Os filósofos gregos, quando diziam que fazemos coisas para sermos felizes, se referiam a estar em equilíbrio, diferentemente da ideia que a gente tem hoje da busca do prazer”, pontua. Ainda para Spadini, é preciso desenvolver autoconhecimento e tomar cuidado com a cultura do prazer rápido tão bombardeada pela indústria do entretenimento. O importante seria entender qual o seu propósito, formar um conjunto de valores, desenvolver inteligência emocional e se preencher — não à toa, um dos principais termos para traduzir “eudaimonia” é “fulfillment”, em tradução livre quer dizer realização. Para discutir sobre o assunto, nada melhor do que ir atrás do que pensam mulheres que são exemplos de vida para a gente, das artes ao business. Todas com uma única pergunta: “O que é realização para você?”.
Eliana Finkelstein sócia-proprietária da Galeria Vermelho
“O que me deixa realizada é quando eu existo nas coisas e elas dão certo. Tenho uma galeria de arte há muitos anos e tanto fiz que uma hora consegui. Nada vai aparecer no seu colo, é preciso ter vontade para alcançar e ir atrás. A busca está em fazer, estar vivo e presente na sociedade, trabalhar com bons artistas que levantam bandeiras importantes e tarefas diárias. Ter consciência da minha capacidade de esforço também me realiza muito. Mas hoje em dia minha vida ainda passa pelas pequenas conquistas dos meus filhos.”
Milena Satyro empresária e fundadora da Única Design
“Entendo que estou no caminho da realização quando mantenho minha vida alinhada com meus propósitos, quando percebo que consigo administrar minha casa, participar da vida do meu filho, estar presente nos momentos importantes e conciliar isso com a minha empresa. Falar de autoconhecimento é importante também, se conhecer e se conectar com o que faz sentido para você. A felicidade está dentro e não fora.”
Patrícia Palumbo jornalista e radialista especializada em música
“No cotidiano, se consigo manter minha rotina, a disciplina que é desafiadora, se termino as tarefas diárias, já é uma delícia. Acordar cedo e sair com as minhas cachorras, cuidar delas, mesmo com chuva e frio, já me deixa bem feliz. As grandes realizações, como terminar um projeto de anos e lançá-lo para o mundo, são igualmente importantes. Se consigo juntar as duas coisas, me sinto realizada. Cuido da vida aqui em casa, gravo programas de rádio e TV, já publiquei livros que eu adoro e unir tudo isso é maravilhoso.”
Renata Schmulevich estilista e dona da FIT
“Me sinto realizada quando vejo o quanto sou uma pessoa mais tranquila e amorosa hoje. A maior realização que conquistei foi entender que temos momentos de tristeza e de felicidade e que eles estão em constante movimento. Quando entendi isso, passei a receber melhor a tristeza. Quando ela chega tento abrir os braços e aprender com ela. O estresse é diferente: já lido melhor com ele hoje, me cuido bastante. Pratico muita ioga e meditação.”