Ele faz personagem sarado na novela das 9, filme de baixo orçamento no cinema, drama de Tennessee Williams no teatro e escreve poesia e roteiros. Também anda de trench coat Burberry e adora moda. Esse é o ator Juliano Cazarré, que, ainda por cima, é gente como a gente
Por Márcia Rocha
Fotos Maurício Nahas
Styling Cuca Ellias e Lili Garcia (Baobá MGT)
“Estou em estado de graça por ter sido convidado para fazer esta peça”, diz Juliano Cazarré sobre Stanley Kowalski, personagem de “Um Bonde Chamado Desejo”, que interpreta ao lado da Blanche DuBois de Maria Luísa Mendonça. Cazarré conta que sempre quis ser Kowalski. Anos atrás, pensou em levar a história para o teatro com Matheus Nachtergaele e já tinha feito até uma leitura no Rio de Janeiro. “Fiquei feliz porque essa montagem de agora é muito boa, forte, com uma cenografia interessante. E não poderia pedir uma Blanche melhor. A Maria Luísa está arrebentando”, comenta sobre a peça dirigida por Rafael Gomes, que fica em cartaz até o fim deste mês no Tucarena, em São Paulo.
O gaúcho-brasiliense de 35 anos – nasceu em Pelotas, mas passou a infância e a adolescência na capital federal – costuma fazer muita coisa ao mesmo tempo e, ainda assim, mergulhar fundo em cada trabalho. Para viver o Iremar de “Boi Neon”, filme do pernambucano Gabriel Mascaro lançado em janeiro deste ano, penou semanas longe de casa e em condições de trabalho pouco confortáveis. “Rodamos o filme no interior de Pernambuco e da Paraíba. Fiquei muito tempo viajando, estávamos todos ganhando mal, nem sempre bem hospedados, nem sempre bem alimentados, mas todo mundo com gana de fazer um baita trabalho. E deu muito certo”, comemora. O filme não só levou os principais prêmios do Festival do Rio, como arrebatou estatuetas em Veneza (Itália), Havana (Cuba) e Marrakesh (Marrocos). “Quando li o roteiro, pensei: se alguém vai fazer o Iremar, melhor que seja eu”, diz, sobre o personagem cheio de contradições. “Ao mesmo tempo em que é supermasculino e tem um trabalho duro, lidando com bois, Iremar tem uma alma delicada, que busca a beleza. Seu sonho é trabalhar fazendo roupas de mulher, roupas sensuais”, conta.
PANCADÃO
Faz tempo que Cazarré vem emendando um trabalho no outro. Em 2012, lançou o livro de poesias “Pelas Janelas”. No mesmo ano, apareceu em “360: A Vida É um Círculo Perfeito”, de Fernando Meirelles, ao lado de Rachel Weisz, Anthony Hopkins e Jude Law, entre outros (Maria Flor e ele eram os dois únicos brasileiros do elenco). Sobre contracenar com Rachel, Cazarré revela: “Achava que, por ser inglesa, ela seria uma atriz puramente técnica, mas não. Ela
é intuitiva, aposta no improviso”. Em 2013, estrelou “Serra Pelada”, de Heitor Dhalia. Participou ainda de “Sorria, Você Está Sendo Filmado” (Daniel Filho) e “O Lobo Atrás da Porta” (Fernando Coimbra) antes de “Boi Neon”, de 2015. Acaba de rodar “3.000 Dias no Bunker”, de Rodrigo Bittencourt, ainda sem previsão de estreia. No filme, interpreta um jovem político.
Também não dá para deixar passar em branco MC Merlô, o funkeiro impagável de “A Regra do Jogo”, folhetim global que terminou em março deste ano. “Adoro fazer novela, mas é cansativo. Você passa meses por conta daquele trabalho, gravando várias horas por dia até em feriados e fins de semana”. Agora, está escrevendo dois roteiros – um roadmovie sobre um casal que sai de Brasília em direção à praia e outro sobre velhinhos. “De tanto ler roteiros, aprendi a escrevê-los”, revela.
Depois da temporada paulistana de “Um Bonde Chamado Desejo”, pretende sair de cena um tempo. “Não tenho nenhum convite para a TV ainda, mas estou com uma peça engatilhada para o segundo semestre”, diz. Até lá, quer aproveitar para ficar mais com a família – sua mulher, Letícia, e os dois filhos do casal: Vicente, de 6 anos, e Inácio, de 4. Também quer se cuidar mais, comer melhor, fazer exercícios. Gosta de surfar, nadar, correr e também faz musculação em academia.
Ligado no mundo fashion, Cazarré diz que começou a se interessar ainda mais pelo assunto por causa da mulher, que é stylist e lançou ano passado a “CAUSE Magazine”, revista independente de moda e de cultura contemporânea. Durante a preparação para este ensaio, parou a entrevista para sugerir ao maquiador que arrumasse seu cabelo de outro jeito. Também experimentou as roupas separadas para as fotos e deu pitacos na hora de escolher gravata, camisa, sapato e relógio – além disso, sugeriu fazer uma das fotos com seu trenchcoat preto da Burberry. “Adoro terno, casaco, bota, bolsa. Que homem você conhece que tem quatro bolsas?” Taí: quanta gente você conhece que tem shape de galã, cara de galã, jeito de galã, mas que também é gente boa, “cabeça” e um baita ator? Cazarré é um desses.
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