Que um docinho cai bem especialmente nos festejos de final de ano, ninguém duvida. Mas é preciso ficar muito atento aos excessos. Como explica o endocrinologista Fabiano Serfaty, o açúcar é um estimulante, comparável à cocaína, fazendo você precisar de doses cada vez maiores. “As semelhanças entre a indústria do cigarro e a indústria do açúcar são assustadoras”, revelou. Ele ainda lembra que o consumo de açúcar é responsável por doença crônicas como câncer, hipertensão e diabetes.
Por Denise Meira do Amaral
Glamurama – Por que o consumo de doces é tão prazeroso?
Fabiano Serfaty – O açúcar é um dos alimentos estimulantes denominados hiper-palatáveis – alimentos que estimulam os centros de prazer no cérebro. A dopamina é dos principais neurotransmissores do cérebro que controlam a sensação de prazer e o sistema de recompensa do cérebro. Então, quando você come açúcar, estimula a liberação de dopamina, e experimenta uma sensação prazerosa. A ciência mostra que o açúcar atua no sistema de recompensa de seu cérebro como a cocaína. Como acontece com qualquer substância produzindo dopamina, seu cérebro fica dessensibilizado com consumo excessivo crônico, e você desenvolve uma tolerância, por isso você acaba tendo que consumir mais açúcar. Isso lança um ciclo vicioso de aumento do consumo e você acaba com um apetite insaciável pelo açúcar
Glamurama – Quanto de açúcar precisamos no corpo? Afinal, precisamos de açúcar?
Fabiano Serfaty – Para fins de saúde, o consumo ideal de açúcar é zero. O açúcar adicionado não tem nenhuma exigência biológica e, portanto, não é por qualquer definição um “nutriente”. É o componente de frutose (a sacarose é 50% de glicose e 50% de frutose) que cumpre quatro critérios que justificam sua regulação: toxicidade, inevitabilidade, potencial de abuso e seu impacto negativo na sociedade.
Glamurama – Qual o nível seguro de consumo de açúcar?
Fabiano Serfaty – O consumo de apenas pequenas quantidades de açúcares , que inclui todos os açúcares e açúcares presentes no suco, xaropes e mel, diariamente, já tem um impacto nocivo sobre as doença crônicas como câncer, hipertensão e diabetes. A indústria de alimentos muitas vezes argumenta que o público deve ter uma responsabilidade pessoal ao escolher os alimentos que come, se eximindo de sua própria culpabilidade na epidemia de obesidade para o consumidor. A verdade é que a maioria do público se confunde com as informações confusas nos rótulos e não tem conhecimento técnico para discernir o que é saudável. O público acaba não tendo escolha porque o açúcar é adicionado à aproximadamente 80% dos alimentos processados.
Glamurama – Você faz uma comparação entre a indústria do tabaco e a do açúcar…
Fabiano Serfaty – Foram 50 anos antes dos primeiros elos entre fumar e o câncer de pulmão publicados no British Medical Journal e antes de uma regulamentação eficaz contra o tabaco. A chave para defender a indústria era negar, plantar dúvidas, confundir o público, comprar a lealdade dos cientistas e dar munição aos aliados políticos. As semelhanças entre a indústria do cigarro e a indústria do açúcar são assustadoras. Como uma publicação recente na Jama Internal Medicine mostrou, a indústria do açúcar pagou três influentes cientistas de Harvard para minimizar o papel do açúcar na doença cardíaca e transferir a culpa para a gordura. No ano passado, o “The New York Times” revelou que a Coca-Cola Company pagou milhões de dólares para financiar pesquisas que minimizaram o papel das bebidas açucaradas no desenvolvimento da obesidade , culpando a falta de exercício como fator principal.
Glamurama – O que está sendo feito para diminuir o consumo?
Fabiano Serfaty – Os recentes apelos da OMS para taxar bebidas açucaradas são notícias muito boas para os ativistas da saúde. A mensagem para a saúde pública, entretanto, precisa ser mais clara. A cidade do Rio de Janeiro é uma das capitais mais obesas do Brasil, por isso devemos encarar o açúcar como um inimigo de todos os cariocas. Não há nada de errado com o consumo ocasional, mas o açúcar não tem lugar como parte de uma dieta saudável e equilibrada. Semelhante ao tabagismo, quaisquer medidas regulatórias adicionais para reduzir o consumo de açúcar, como a proibição da propagação de bebidas açucaradas e a dissociação de bebidas açucaradas dos eventos esportivos, terão um impacto adicional na melhoria da saúde da população em um curto espaço de tempo.
Glamurama – O açúcar é o novo tabaco?
Fabiano Serfaty – Sim. Os dados científicos são mais que suficientes. As evidências negativas contra o açúcar são irrefutáveis . O açúcar é o novo tabaco, então vamos começar a tratá-lo dessa maneira.