O clima de suspense acaba de invadir as salas de cinemas pelo Brasil com “O Animal Cordial”, o primeiro longa da carreira de Gabriela Amaral Almeida, diretora baiana apadrinhada por ninguém menos que Rodrigo Teixeira, o produtor brasileiro que tem as portas abertas em Hollywood. Um filme com custos que não passam R$1,5 milhão, como contou a diretora ao Glamurama – orçamento relativamente baixo para um longa – que chega ao circuito nacional com ótimas críticas e conta a história de um restaurante de classe média de São Paulo que sofre um assalto no fim de seu expediente.
Por parte do elenco, formado por Murilo Benício, Luciana Paes, Irandhir Santos, Camila Morgado e mais, os elogios caem sobre a fina direção de Gabriela. Ainda ouviremos muito falar dela, que apresenta neste mês, no Festival de Cinema de Brasília, o longa “A Sombra do Pai”, e já tem na manga outros projetos: uma fábula moderna de exorcismo, também produzida por Rodrigo Teixeira, e uma série de TV para o ano que vem. Por todas essas razões, Glamurama adianta um perfil de Gabriela. Ao papo!
Trajetória
Formada em Comunicação na Universidade Federal da Bahia, a paixão pelo cinema levou Gabriela a participar de grupos sobre a sétima arte. Depois de um mestrado na área, se mudou para Cuba, onde estudou cinema na EICTV, que tem entre seus fundadores Gabriel Garcia Marquez. De volta ao Brasil, em 2007, foi morar em São Paulo, e após uma sequência de seis premiados curtas iniciou a produção de “A Sombra do Pai”, tecnicamente o primeiro longa de sua carreira, mas que só estreou depois de o “Animal Cordial”.
Glamurama: De onde pintou a ideia de fazer o filme “O Animal Cordial”?
Gabriela Almeida: “Eu estava em um restaurante que frequento com uma amiga, o La Frontera, em São Paulo, e ele tinha sido assaltado. Foi aí que começamos a nos questionar sobre segurança e pintou a ideia para o longa. Contei para o Rodrigo [Teixeira] e ele, um produtor muito empolgado, me deu sinal verde. Embarcou no projeto desde a sinopse. Tive um tempo curto, mas concentrado na escrita do roteiro, em quatro meses ele já estava maduro, e logo na sequência entramos em fase de produção.”
Glamurama: Fazer suspense no Brasil não é jogar no seguro. O que a fez acreditar no projeto?
Gabriela Almeida: “A fé que eu tenho no filme narrativo. Organizar dimensões de profundidade é um trabalho extremamente difícil de fazer.”
Glamurama: Os atores do filme tem elogiado muito seu perfil de direção.
Gabriela Almeida: “Nos deixamos muito levar pela energia do processo que antecipou o filme. Ensaiei durante um mês com os atores e chegamos nas filmagens com um terreno comum, uma unidade dramática que dá para ver na performance deles, resultado de uma preparação cuidadosa.”
Glamurama: Quais são suas referências no cinema?
Gabriela Almeida:“Gosto muito do cinema dos anos 1950 e 1960 americano feito por Alfred Hitchcock, Nicholas Ray e John Ford, diretores com uma narrativa de superfície acessível, humana, que mexe com o sensorial do espectador. Criações quase impressionistas, um mundo próprio que me interessa muito, assim como filmes de terror italianos produzidos nos anos 1970 como ‘Suspiria’, de Dario Argento, que tinham baixíssimos orçamentos e, por isso, apresentavam soluções de encenação que me emocionam.”
Glamurama: Algum outro filme à vista?
Gabriela Almeida: “Temos alguns à vista. O mais próximo é uma fábula moderna de exorcismo que também está sendo produzido por Rodrigo.”
Glamurama: Pretende dirigir projetos além do cinema?
Gabriela Almeida: “Há uma possibilidade de uma série de TV para o ano que vem.”
Glamurama: Quais são os caminhos que o cinema nacional tem tomado?
Gabriela Almeida: “O cinema nacional tem uma maior liberdade para trabalhar com o gênero narrativo, que até os anos 1970 era visto como uma submissão à cultura do cinema americano. E essa geração que vem agora, que cresceu na locadora, está propondo histórias frescas e sem impedimentos. Sinto liberdade para experimentar.”
Glamurama: Enfrenta obstáculos por ser mulher em uma área ainda tão masculina?
Gabriela Almeida: “Encontrei uma parceria e um apoio muito positivo de Rodrigo, mas essa não é uma realidade para a mulher brasileira no cinema. Há misoginia e muito descrédito. É uma área culturalmente atribuída aos homens que conta com pouquíssimas mulheres, muitas ainda são excluídas por causa disso. Gostaria de não ser uma exceção, sabe? Há mulheres muito talentosas por aí e prontas para dirigir.” (Por Julia Moura)