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Em 2015, desanimado com a cena drag em Sorocaba, local onde nasceu e cresceu, o publicitário Danilo Sabague teve a ideia de criar um canal no Youtube para mostrar ao mundo seu trabalho. Com o nome de Lorelay Fox, a drag queen se tornou um fenômeno assim que postou o seu segundo vídeo, que viralizou na internet. Com o título de “É Drag ou Trans”, Lorelay falava sobre uma questão simples, mas que ainda causa dúvidas em muitos que não conhecem o meio LGBT.

Desde então, o canal de Lorelay cresceu e hoje conta com mais de 700 mil inscritos, além de 600 mil no Instagram e mais de 200 mil no Twitter. A drag mobiliza um público imenso em conversas sobre assuntos essenciais sobre a comunidade LGBT e rompeu barreiras ao fazer participações na TV como jurada no programa ‘Superbonita’, além de uma participação em ‘Amor&Sexo’ no quadro ‘Bishow’.

“Eu nunca imaginei chegar até aqui. Como publicitário, criei esse canal como se fosse um trabalho, mas achei que seria muito difícil e que, no fim, se tornaria apenas um hobby. Sabemos que é mais complicado para alguém do meio LGBT ter espaço. É tudo mais difícil para nós e na época não havia muitos canais de drag em que eu pudesse me inspirar”, conta Lorelay.

Lorelay começou a se vestir como drag na adolescência, aos 18, motivado por um amigo: “Quando passei a frequentar a cena drag de Sorocaba, achava aquilo uma loucura, mas aos poucos comecei a entender e me encantar por esse tipo de arte”. A seguir, confira o papo com Lorelay Fox sobre redes sociais, mundo LGBTQI+ , preconceito e como os Youtubers conquistaram espaço na televisão.

Glamurama: Há quanto tempo você está no Youtube e como tudo começou?
Lorelay Fox:
Tem pouco mais de 5 anos, eu comecei bem no início de 2015. Na verdade, pensei em fazer o canal quando estava quase desistindo de tudo. Eu já era drag há 10 anos, mas a cena das drags estava se perdendo em Sorocoba. Como já era apaixonada pelo Youtube, resolvi me jogar, e foi a partir desse momento que minha vida mudou.

G: Esperava chegar tão longe?
LF: Eu nunca imaginei chegar até aqui. Como publicitário, criei esse canal como se fosse um trabalho, mas achei que seria muito difícil e que, no fim, se tornaria apenas um hobby. Sabemos como é mais complicado para alguém do meio LGBT ter espaço. É tudo mais difícil pra nós e na época não havia muitos canais de drags em que eu pudesse me inspirar.

G: Sentiu receio em algum momento de abordar temas mais sérios na internet?
LF: No começo do canal, eu sentia menos receio, até porque não imaginava quão espinhoso era esse mundo. Meu segundo vídeo foi sobre as diferenças entre drags e trans, e eu nem imaginava que as pessoas se interessavam por isso, mas bombou. Não criei o canal com a ideia de ser militante, mas eu gosto de falar sobre esses assuntos, e fluiu naturalmente. Hoje, em especial nesse momento de pandemia, dei uma pausa da militância. Às vezes é preciso.

G: Você acredita que existe uma distinção muito grande entre a cultura drag nas grandes capitais e nas cidades do interior?
LF: Trabalhei muito em Sorocaba que, apesar de interior, não é uma cidade tão pequena. A noite drag de Sorocaba era incrível, e éramos a principal atração das festas LGBTQ+, mas a cidade começou a ir contra o movimento que estávamos vendo em outros locais. Enquanto o fenômeno drag ficava maior em outras cidades, em Sorocaba a cena estava morrendo.

G: Quando você se descobriu parte do mundo LGBTQ+ e como foi o processo de aceitação?
LF: Descobri que gostava de meninos aos 15 anos. Nessa época, só tinha um amigo gay com quem falava sobre isso. Imagina só: hoje em dia as pessoas vivem outra realidade, o assunto é bem mais abordado. Mas sempre me aceitei bem, só não queria contar para todos, mas minha família também me aceitou. Já como drag, quando passei a frequentar a cena de Sorocaba, achava aquilo uma loucura, mas aos poucos comecei a entender e me encantar por esse tipo de arte.

G: Como você começou a se montar?
LF: Foi por influência de um amigo que tinha essa vontade. Começamos a nos montar por diversão e depois se tornou trabalho.

G: Para você, ser drag é…
LF: Ser drag é arte. E, apesar de ser uma arte ligada ao mundo LGBTQ+, não é exclusiva desse meio. Como qualquer arte, não é algo exclusivo de gênero. Héteros também podem participar desse mundo. Acredito que as drags foram feitas para causar impacto, encantamento, sejam elas femininas ou andróginas.

G: A partir do seu trabalho, você se tornou uma das drags mais famosas do Brasil, e, além do Youtube, participa também de programas TV. Acredita que cada vez mais celebridades da internet vão ocupar espaços na televisão?
LF: Não tenho dúvidas. A televisão finalmente descobriu o valor e o engajamento que os influenciadores possuem. No começo, éramos evitados pela TV, agora somos chamados até mesmo para levantar a audiência de um programa como o BBB, por exemplo.

https://www.instagram.com/p/B-aMcurnQtz/

G: Como é sua relação com as redes sociais, principalmente nesse momento de pandemia?
LF
: Parece que as pessoas estão muito mais doidas na internet desde que isso começou, é um cancelamento constante. Mas já aprendi a filtrar toda essa negatividade e também a não expor muito minha vida pessoal por lá. Existe um limite.

G: E os haters?
LF: Sempre acontece, principalmente quando algum conteúdo viraliza e sai do nosso controle. Mas nós do mundo LGBT já sofremos esse isso na vida real, todos os dias. Por isso, nunca me importei tanto com o que falavam sobre mim na internet. O que me machuca é ver pessoas da própria comunidade LGBT tentando deslegitimar o meu trabalho, falando que ele não é válido, e atacando também pessoas trans. Estamos acostumados quando esse ódio vem de fora, mas de dentro da nossa própria bolha é terrível.

G: Acredita que as redes sociais ajudaram na visibilidade e no trabalho de pessoas LGBT?
LF: Sim. A explosão das drags e o fato de voltarmos a ser vistos pela sociedade como antes foi por conta das redes sociais. Ru Paul Drag’s Race também ajudou muito. As pessoas começaram a procurar por esse conteúdo. Depois disso, surgiram nomes como Glória Groove e o próprio Pabllo Vittar.

 G: Qual a mensagem que você procura passar para quem te acompanha?
LF: Tem dois grupos que gosto e consigo conversar na internet. Aos LGTBs, o que falo é para cultivarmos o amor próprio. Não tem problema algum em ser quem você é, o errado não é você. Aos que são de fora: é preciso criar laços de empatia. Parece que vivemos em outro mundo, mas estamos bem ao seu lado.

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