É possível dizer que nem mesmo Kenneth Lonergan, vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Original na noite deste domingo por “Manchester À Beira-Mar”, teria imaginado um final tão surpreendente para a 89ª edição da maior premiação do cinema. O grande choque do evento, é claro, foi a entrega do Oscar de Melhor Filme do Ano. O anúncio foi feito por Faye Dunaway e Warren Beatty que, aparentemente sem saber o que fazer, leu o nome do filme que viu no envelope que acabara de abrir: “La La Land: Cantando Estações”.
O problema é que o envelope em questão foi entregue a Beatty por engano e o filme que levou para casa o prêmio mais cobiçado do Oscar foi, na verdade, o drama “Moonlight: Sob a Luz do Luar”. Apesar de consertada rapidamente, a gafe já rende teorias conspiratórias na internet: uma delas diz que a culpa foi de Leonardo DiCaprio,
que momentos antes de Beatty e Dunaway entrarem no palco havia entregue o Oscar de Melhor Atriz para Emma Stone, a estrela de “La La Land…”, e teria feito a confusão com os envelopes. Mas, apesar de tudo, o musical de Damien Chazelle, com 14 indicações, foi o grande vencedor. Além do Oscar de Stone, o longa levou ainda
os prêmios de Melhor Diretor, para o próprio Chazelle, Melhor Fotografia, Melhor Trilha Sonora, Melhor Canção Original e Melhor Design de Produção.
Das categorias mais importantes um dos destaques foi ainda o prêmio de Melhor Ator para Casey Affleck, por “Manchester À Beira-Mar. Há anos identificado em Hollywood apenas como “o irmão de Ben Affleck”, ele agora conta com um Oscar para chamar de seu. Mahershala Ali, de “Moonlight…”, venceu na categoria Melhor Ator Coadjuvante, levando a melhor sobre o veterano Jeff Bridges (“A Qualquer Custo”), que era considerado o favorito.
Em um discurso emocionado, Viola Davis aceitou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por “Um Limite Entre Nós”, filme de conteúdo bastante político no qual ela divide a cena com o astro Denzel Washington. Por falar em política, um outro momento inusitado do Oscar deste ano foi a entrega do prêmio de Melhor Filme Estrangeiro para o iraniano “O Apartamento”. Proibido de entrar nos Estados Unidos por conta do polêmico decreto anti-imigração de Donald Trump, ele foi representado na cerimônia pela astronauta Anousheh Ansari, a primeira mulher iraniana que já esteve no espaço. Ela mora há anos nos Estados Unidos e até possui cidadania americana.
Na contramão do que estava previsto, o nome de Trump teve poucas citações, salvo um ou outro discurso a favor dos imigrantes, como o do italiano Alessandro Bertolazzi, vencedor na categoria Melhor Maquiagem e Penteado por “Esquadrão Suicida”. “Este é por todos os imigrantes”, ele disse. Um dos apresentadores da noite, o mexicano Gael García Bernal também foi bastante aplaudido pela indireta que mandou para o presidente americano. “Como mexicano, latino-americano, trabalhador migrante e ser humano, sou contra qualquer tipo de muro erguido para nos dividir”, disse o astro de “Diários de Motocicleta”, lembrando que uma das propostas de Trump era a construção de um muro na fronteira dos Estados Unidos com o México.
Recuperados do erro histórico envolvendo o melhor filme do ano, astros e estrelas, ganhadores e perdedores, terminaram a noite fazendo piada com o assunto. E como o Oscar é, acima de tudo, um programa de televisão muito lucrativo, a expectativa de seus produtores é que o erro tenha impactado positivamente a audiência da transmissão
da premiação, que há anos está em queda. Se isso se confirmar (nos Estados Unidos a audiências das TVs não é medida em tempo real) vai ter gente dizendo que foi tudo combinado e não seria surpresa se surgisse um roteiro a partir disso. Será que renderia um Oscar? (Por Anderson Antunes)