Primeira mulher a ser eleita prefeita de Paris, em 2014, Anne Hidalgo decidiu comprar briga com os lobistas do setor automotivo que atuam na cidade em defesa dos “flâneurs” de lá – termo inventado por Charles Baudelaire no século XIX para definir as pessoas que amam caminhar pelas ruas e pelos bulevares então recém-inaugurados da Cidade Luz para observar suas belezas – e ao longo dos anos se tornou uma citação tipicamente parisiense.
Acontece que em setembro de 2016, depois de determinar o fechamento de uma rua na margem direita do rio Sena (a região imobiliária mais cara de Paris) para a manutenção do asfalto, no fim da obra Hidalgo achou que seria uma boa ideia manter a via fechada para carros. O objetivo era transformá-la num point de caminhada para pedestres. Locais e turistas adoraram a ideia, exceto pelo povo que vive sobre rodas e os poderosos que lucram alto com eles.
No caso desse último grupo, a reação foi quase que imediata: vários políticos conservadores, alguns com fortes ligações com a indústria do petróleo e montadoras foram aos tribunais para tentar barrar a medida da prefeita, alegando que ela não tinha os poderes para mudar o plano piloto de Paris, salvo em circunstâncias excepcionais, como atentados terroristas e que, portanto, agiu de maneira ilegal. No fim, os juízes do caso ficaram do lado deles.
Só que Hidalgo não se deu por vencida, e por último convocou seus assessores na prefeitura para elaborar um plano cujo objetivo é apelar à decisão dos togados, dando início a uma batalha que promete. Ela nunca escondeu seu descontentamento com o tráfego por vezes caótico de Paris e inclusive se elegeu com um discurso para transformar a capital da França em exemplo de zoneamento verde na Europa, quem sabe até livre de automóveis tradicionais, custe o que custar. Pelo visto, não estava brincando. (Por Anderson Antunes)