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Criolo ||| Créditos: Divulgação
Criolo || Créditos: Divulgação

Música, música, música. É ela a dona dos pensamentos de Criolo, que está de volta aos palcos do país com a turnê “Boca de Lobo” (os próximos shows acontecem nos dias 22/02 e 23/02 no Rio e 15/03 em São Paulo). Numa mescla de saudosismo e presente, nas apresentações ele relembra hits antigos e traz os atuais para um novo formato. Ligado às raízes e sempre com muito a dizer, mandou um papo-reto com o Glamurama. Falou sobre a turnê, mostrou-se ‘imensamente triste’ com a situação política do país e indignado com a desvalorização dos artistas no Brasil. No entanto, tenta manter o otimismo. Para Criolo, o sentimento deve ser positivo, de amor e solidário, e é isso que ele quer passar para seus fãs no palco: “Que a gente possa vibrar junto, pois temos total condições de mudar tudo isso”. Ao papo.

Glamurama: Fale um pouco de sua nova turnê, ‘Boca de Lobo’, que começou em dezembro.
Criolo: Essa turnê é muito especial. Tem músicas que eu não canto há um tempo, então retomo essas canções e mato a saudade. E as outras músicas que me fazem companhia nesses últimos anos também são apresentadas, mas com novos arranjos. É um show completamente do zero, que pedimos licença para apresentar para vocês.

Glamurama: É uma retrospectiva de sua carreira? Você voltou seu foco para o rap novamente?
Criolo: Leva sim um pouquinho de cada momento dessa minha pequena carreira, da minha pequena história, ainda recém-escrita na história da música. Esse rap vem representando nossas raízes em uma escrita que eu aprendi no extremo sul da zona sul de São Paulo, com uma batida dos anos 90, com timbres dos anos 80, oferecendo essa troca estético musical e cultural com todos.

Glamurama: Isso tem a ver com a atual situação social e política do Brasil?
Criolo: O que me entristece é o deboche das pessoas com a vida humana. Se você não pensa igual a mim, tudo bem você morrer… Isso é muito forte, sabe? Isso deixa qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo indignado. E um tanto de outras situações. A gente ficaria o dia inteiro conversando sobre isso. Uma luta de uma vida inteira, de várias gerações que dedicaram sua vida para tentar equilibrar essa balança desleal. Uma série de pessoas, histórias e assuntos que dizem muito a respeito e que são de importância nacional. Muitas pessoas da área social do nosso país sentindo que uma luta de 50 anos, 80 anos, foi completamente saqueada, completamente dinamitada em menos de um mês.

Glamurama: Quais são suas maiores preocupações com o novo governo?
Criolo: Não ter o Ministério da Cultura é uma insensatez muito grande. Uma tristeza imensa, uma perda que não dá para calcular. O Brasil é um país conhecido pela sua cultura. As pessoas amam nossa dramaturgia, nossa música, amam o que acontece aqui em dança, em fotografia, enfim, o Brasil é aplaudido, é referência mundial. Pelo nosso poder de criação, invenção, nosso poder de reciclagem de ideias, pela raiz cultural que nosso povo carrega, essa pluralidade que desaba na nossa terra. É uma dor muito grande.

Glamurama: E o que você pensa sobre toda a polêmica em torno da Lei Rouanet?
Criolo: Sou completamente a favor de ter uma pesquisa severa. Sou completamente a favor de que tenha realmente uma CPI, qualquer coisa que seja, para apurar. Aí o que acontece: quem roubou, quem fez mau uso, vai aparecer, e aí vão deixar em paz as outras pessoas, porque virou jargão popular: “O rapaz é artista? Acabou a lei, acabou a mamata”. Em qualquer cidade do país a pessoa que está ali dando aula é chamada de vagabunda, e que aquela aula não interessa nem é importante para o cidadão. Tudo isso aí é fruto de uma mentalidade que está sendo fomentada. Essa lei foi construída para se facilitar esse trabalho, o ganha pão de uma série de pessoas que entregaram sua vida para a cultura, e que são agentes de modificação social extremamente importantes para o Brasil. E todos eles caírem nesse jargão e serem motivo de piada, é muito cruel. Olha, por favor, façam logo. Aí também vai ter que divulgar quem realmente está no erro. Nesse momento nosso país fortalece uma ideia antiga, de que quem é envolvido com arte, cultura e educação é vagabundo. Por que só o artista de fora é bom? Qual é o X da questão?

Criolo || Créditos: Divulgação

Glamurama: Você tenta se manter otimista? Acha que o Brasil tem jeito?
Criolo: Nosso povo está aí, maravilhoso, todos os dias dando aula de como se reinventar. Tem jeito sim, lógico que tem. O grande lance é que quem tem o poder nas mãos não está muito preocupado com esse jeito, com uma mudança coletiva, uma mudança real. Se não tiver dentro dos moldes e dos interesses, de como esses donos do poder querem que a sociedade seja, nada vai andar.

Glamurama: O que gostaria de passar com sua música, seu show, para seus fãs neste momento?
Criolo: Sentimento de fortalecimento, sentimento positivo, de amor, um sentimento solidário e fraterno. Isso é o que o meu coração emana e quando estou no palco emana mil vezes mais. Que a gente possa vibrar junto, pois nós temos total condição de mudar isso tudo.

Glamurama: Falando de música, o que você tem escutado ultimamente?
Criolo: Tenho ouvido um trabalho do Quebrada Queer, muito interessante e muito bonito. Acabei de ver aqui um clipe de As Bahias e a Cozinha Mineira, espetacular e muito forte. A música chama ‘Das Estrelas’.

Glamurama: Em meio a toda essa loucura em que vivemos, o que faz para descansar o corpo e a mente?
Criolo: O tempo que tenho em casa fico pensando em música, música, música, música, música… (por Stella Prado)

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