De volta à Rede Globo após um rompimento ruidoso, Tom Cavalcante vive grande fase: estrela a terceira temporada do elogiadíssimo Multi Tom, no Multishow, lota casas de espetáculo Brasil afora com o Stomdup, – e está filmando Os Parças, seu primeiro longa-metragem. A volta permanente à grade da emissora parece mesmo questão de tempo
Por Fábio Dutra para a revista PODER de maio
A sessão plenária está instalada. Bolsonaro e Jean Wyllys se engalfinham enquanto um deputado qualquer tenta apartar. Dilma grita, dedo em riste, que foi golpe. Agnaldo Timóteo avisa que se a confusão continuar ele “taca a porrada!”. Marina, de vestido bege, escuta alguém dizer que ela está tão magra que, se vestisse verde, poderia se fantasiar de quiabo; ignora e garante estar muito feliz com a cesta básica com champanha, pipoca e velas pretas que recebeu da Presidência da República. A sirene toca, a celeuma arrefece e entra em cena, capa de vampiro, maquiagem de funerária e aquela mãozinha de sempre, o presidente Michel Tomer – a versão de Tom Cavalcante para o homem que atualmente ocupa o Palácio do Planalto. Acompanhado, claro, de “dona Marcela”. Um deputado da base aliada pede a palavra para levantar uma questão de ordem e aconselha: “Presidente, Vossa Excelência não deveria trazer sua esposa ao Congresso: é Vossa Excelência ir ao toilet e os aliados se revezarem para galanteá-la, tem gente querendo te dar um golpe!”. É assim um dos quadros da terceira temporada do Multi Tom, no Multishow, que traz Tom Cavalcante de volta à Globo e à melhor forma.
Os outros quadros seguem a mesma linha de personagens próprios e belíssimas imitações, mesclando clássicos como Canabrava, Pit Bicha e Ribamar com novas criações. O mais novo participante “homenageará” o prefeito de São Paulo: João “Não Dorme” Jr. virá sempre vestido de gari e acompanhado do tímido Geraldo, alegoria do governador paulista Alckmin interpretada brilhantemente por Rafael Mello. É hilário. O tempo que passou fora do ar após a saída da Record – emissora em que trabalhou entre 2004 e 2012, para ira da direção da Globo, que vetou até a mera menção de seu nome por muitos anos – parece ter sido frutífero. Ele foi a Hollywood estudar cinema e aprimorar o inglês – e até produziu e estrelou um curta-metragem Pizza Me, Mafia, antes de descobrir que o mercado dos Estados Unidos não tem nenhuma abertura para latinos. Apesar de tudo, não perdeu a mão para o humor popular e para o garimpo de novos personagens e de tantos imitadores que encontra Brasil afora. Para nem falar nos nomes com que os batiza, sempre mesclado ao seu próprio de forma leve, o que gera graça por si só. Alguns: Tomberto Carlos, Michel Tomer, Donald Tromp, Tompete Justus. O nome do espetáculo com que percorre o Brasil? Stomdup. Tudo sempre no tom.
LUZ, CÂMERA, AÇÃO
Tom Cavalcante, porém, não é desses que querem fazer graça o tempo todo. É um tipo sereno, fala baixo, manso, e, sim, conta histórias engraçadas, mas nada exagerado. Ele chega para o ensaio “à paisana”, tênis e boné sobre os cabelos com luzes – mas já levemente maquiado, o que soa como cacoete de quem sabe que está sempre numa espécie de BBB pela notoriedade num mundo de smartphones. Ele minimiza a sempre aventada briga com a Globo – “houve ciúme de alguns dirigentes como sempre ocorre lá, mas era uma proposta irrecusável e é como um técnico que muda de clube, eu sempre vi assim, como business: o cearense é o judeu brasileiro”–, concorda que foi Fausto Silva quem insistiu para que fosse perdoado – “somos amigos e ele sempre frisou que me acha um grande artista e que batalharia para o meu talento estar no ar” – e se diz ansioso para se ver na telona pela primeira vez no longa-metragem em que atuará ao lado de Whindersson Nunes, o fenômeno do YouTube, e de Tirullipa, o comediante filho do palhaço-deputado Tiririca, grande amigo de Tom (e em quem ele diz ter votado).
Ele enverga os ternos com intimidade e já começa a gesticular como Tomer para as fotos. Sobre a nova geração, aliás, não tem ressalvas. Aos 55 anos, parece estar sempre aberto ao novo e até incentivou sua filha a fazer um canal de vídeos na internet, o Mais Maria. Acredita que há lugar tanto para populares como Pedro Manso – “o melhor imitador do Brasil” – quanto para modernos, os “standupers” ou “humoristas-playboy”, como já foram apontados, como Fábio Rabin. Muitos deles, inclusive, podem vir a fazer parte do cânone do humorismo nacional se seguirem na trilha em que estão. Mas nenhum, garante, bate Chico Anysio, aquele que o descobriu e que o tratava como filho, como fez com tantos jovens artistas, a ponto de dar conselhos sobre as finanças pessoais e a necessidade de poupar os frutos dos tempos de vacas gordas. “Imagina um artista com discos, filmes, 27 livros, 212 personagens criados em Hollywood? Seria um estouro… ”, divaga Tom sobre o finado amigo. O homem parece mesmo obcecado em levar o Ceará ao grand monde da sétima arte.
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