Com 600 lojas em território nacional e outras 180 na América Latina, a Resolve Franchising é a maior franqueadora de serviços e reparos domésticos do Brasil. E pensar que seu fundador, David Pinto, começou o negócio há apenas cinco anos
Por Alexandre Makhlouf
Fotos Letícia Moreira
A relação de David Pinto com o trabalho começou cedo. Com 8 anos de idade, era office boy na Microlins, empresa de cursos profissionalizantes líder no Brasil, e, seis anos mais tarde, passou a integrar o corpo docente da companhia na parte de informática. Com o primeiro salário que ganhou como professor, o paulista natural de Lins, no interior do estado, comprou um Azzaro pour Homme, perfume símbolo de status entre os garotos da cidade. Ligado em estética, comunicativo e acelerado por natureza, não demorou para que os chefões da franqueadora o indicassem para vender matrículas e, pouco tempo depois, franquias. O tiro foi certeiro: com apenas um ano na função, David tornou-se o vendedor mais bem-sucedido na história da empresa e foi convidado para conduzir a expansão da Microlins em São José do Rio Preto, também no interior paulista, onde mora até hoje. “A dinâmica da minha vida sempre foi de tudo acontecer muito rápido – não só pela gana de fazer coisas novas e ganhar dinheiro, mas também pela ansiedade, que é um ótimo combustível se bem administrada”, explica o fundador e presidente do grupo Resolve Franchising, maior holding franqueadora de serviços e reparos domésticos do país, com 600 lojas em território nacional e outras 180 na América Latina. Detalhe: David tem apenas 30 anos.
A ideia de montar um negócio para resolver problemas de infraestrutura doméstica – alvenaria, hidráulica, elétrica, pintura, ar-condicionado e reparos em geral – surgiu da forma mais natural possível. Em 2010, David ia se mudar e precisava fazer alguns reparos no apartamento recém-alugado. Entre eles, trocar todas as tomadas. Chegou a entrar em contato com quatro eletricistas autônomos, mas nenhum deles sequer apareceu para fazer uma visita e passar o orçamento. “Foi aí que tive o insight. Se eu passei por essa situação, muita gente também devia sofrer com isso”, revela. A semente da Doutor Resolve, principal empresa de sua holding, foi essa, mas o momento não poderia ser menos oportuno para abrir o próprio negócio: David estava de casamento marcado, havia se desligado da Microlins ao rejeitar a proposta para se mudar de cidade e o pai tinha acabado de sofrer um acidente vascular cerebral (AVC). “Estava R$ 20 mil estourado no cheque especial e meu carro era um carnê sobre rodas. Mas sentia que era hora de montar meu próprio negócio. O pior que poderia acontecer era voltar para o mercado.”
CARONA NA NOVELA
Em 30 dias, o conceito da marca já estava pronto – “todos os serviços domésticos ao alcance de uma ligação do cliente” – e David alugou uma sala comercial em São Paulo para prospectar os primeiros franqueados. “Como não tinha capital para investir, o jeito foi começar vendendo lojas para outros empreendedores”, afirma. Das 40 pessoas que compareceram ao evento, sete saíram de lá com contratos assinados, uma taxa de conversão de quase 20%. Duas semanas depois, outra rodada de vendas e mais empreendedores fisgados. O resultado? No primeiro ano de empresa, ele já tinha 300 franqueados e passou do prejuízo inicial de R$ 20 mil para um faturamento de R$ 20 milhões.
O crescimento rápido foi fruto de muito trabalho, claro, mas a mídia teve papel importante na consolidação da Doutor Resolve. É que, em março de 2011, quando a empresa tinha menos de um ano de vida, a novela Fina Estampa estreou na Rede Globo e trouxe Lilia Cabral no papel de Pereirão, dona de casa que sustentava a família realizando pequenos reparos em residências. A ideia inicial era fazer merchandising em horário nobre e alavancar os números da Doutor Resolve, mas o projeto não foi para frente por conta do valor, R$ 10 milhões, mais da metade do faturamento da época. A saída, então, foi refazer a comunicação, utilizando a trama como pano de fundo. “Com o slogan Pereirão da vida real, conseguimos atingir muito mais público e fomos notícia no país inteiro”, orgulha-se o empresário.
Apesar da onda positiva, 2011 também foi um dos anos em que David Pinto enfrentou as maiores dificuldades. A principal delas, que ainda hoje é um problema para ele, foi encontrar mão de obra de qualidade. Afinal, a demanda crescente não acompanhou a oferta. O jeito foi criar o Instituto da Construção, primeira rede de ensino profissionalizante para construção civil do país, que teve investimento inicial de R$ 5 milhões. Com menos de quatro anos de existência, o braço educacional da holding já conta com 50 lojas pelo Brasil e forma 20 mil profissionais por ano. “Já temos mais de 100 franquias do instituto vendidas e, no fim deste ano, pretendemos chegar a 85 unidades abertas. Até 2020, queremos ter 150 mil alunos formados”, almeja.
SOLUCIÓN PARA TODO
Se no Brasil as coisas vão bem, lá fora não é diferente. Desde o ano passado, a Resolve Franchising conta com uma rede de franquias em território internacional que leva um nome divertido, quase uma tradução literal do carro-chefe da holding: Doctor Solución. São mais de 180 lojas espalhadas por Colômbia (primeiro país da América Latina a receber os negócios da companhia), Panamá e México, com planos de fincar bandeira na Costa Rica muito em breve. Segundo ele, a internacionalização não estava nos planos e aconteceu porque recebeu convites de importantes empreendedores internacionais. “Ainda acho que existe muito espaço para crescer no Brasil – tanto em número de lojas quanto em faturamento. Queremos chegar à marca de R$ 400 milhões até o fim deste ano, o que representa um crescimento de quase 15%”, afirma David.
No quesito concorrência, as outras empresas que oferecem os mesmos serviços que a Doutor Resolve não chegam a tirar o sono do empresário. Ele está de olho é nos profissionais autônomos, já que a cultura brasileira ainda é de solicitar esse tipo de profissional diretamente. “Meu sonho é que a Doutor Resolve se torne sinônimo de categoria. Quero que, no futuro, as pessoas digam: ‘Vou chamar a Doutor Resolve porque quebrou alguma coisa em casa’.”
WORKAHOLIC, SIM. E DAÍ?
“Não é possível fazer omelete sem quebrar ovos.” Talvez essa seja a frase mais famosa de David Pinto, já que ele a usa várias vezes para descrever sua trajetória. Empresário de sucesso aos 30 anos, ele assume o título de workaholic com orgulho. E ainda revela o segredo para conciliar uma rotina de mais de 12 horas de trabalho diárias com família e hobbies. “Resolvi incluir a Rebeca, minha mulher, no negócio porque, além de ela ter um perfil complementar ao meu – é mais analítica e cautelosa –, é uma forma de ficarmos mais tempo juntos. Lá em casa não tem esse negócio de não falar de trabalho na hora do jantar”, comenta. Mesmo nos momentos de descanso – a cada três meses, Rebeca e ele saem no máximo cinco dias –, ele garante que se mantém conectado todo o tempo. “Tenho um chip de celular de cada lugar do mundo que já visitei.”
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