Desde que voltou à Globo, em 2011, Marcelo Serrado pula de um papel a outro quase sem intervalo. No cinema, está em cartaz em circuito nacional com “Crô em Família” e comemora o sucesso de público. “Levar uma família ao cinema representa um gasto de uns R$ 300 fácil, com ingresso, estacionamento, pipoca e etc. Tendo isso em conta, a situação de crise do país e a chegada das plataformas de streaming, conseguimos um resultado muito bom com o filme”, comemora o ator, de 51 anos, em papo com o Glamurama.
Em novembro ele volta à telinha com “O Sétimo Guardião”, que marca o retorno de Aguinaldo Silva ao realismo fantástico. Na trama, Serrado será Nicolau, um machista preconceituoso que acha que o filho é gay porque gosta de dançar e é radical com suas três filhas mulheres e com sua mulher, interpretada por Carolina Dieckmann, não aceitando, por exemplo, que ela trabalhe fora de casa.
Avaliando a contundência do papel nos dias de hoje, ele acredita que vai haver uma dualidade de sentimentos entre os telespectadores com relação ao personagem. “Ele é divertido e controverso ao mesmo tempo, pincela humor com crítica. Vive no século passado, machista e autoritário, com vários pensamentos arcaicos, defendendo que mulher tem que ficar em casa e tem que ser criada para se casar com um marido bacana. Ao mesmo tempo é um chapeiro e tem trejeitos engraçados…. Tudo isso faz dele um personagem rico”. O desafio de interpretá-lo? “Dosar humor com tantas questões pesadas”. Fazer par romântico com Carol, que está há um tempo fora do ar, também é novidade pra ele. “Ela é uma querida, vai ser um barato. Temos ensaiado bastante, vão rolar cenas de brigas intensas entre nós!” Interpretar com maestria um mordomo gay, o Crô, para logo depois encarnar um pai machista que não aceita o filho homossexual faz dele um dos atores mais versáteis de sua geração.
Carreira internacional está na mira de Marcelo, que acaba de ter uma ótima experiência na Colômbia, onde gravou a série “Amores Roubados” para a Telemundo. O projeto em parceria com a Globo foi rodado nos Andes, com um elenco de 80 atores vindos de oito países diferentes, e ele foi o único brasileiro convocado pela emissora. “Precisamos nos aproximar mais da América Latina. É preciso quebrar essa barreira”, analisa o ator, que voltou às aulas de espanhol para aprimorar ainda mais sua fala, e dar sequência a outros projetos internacionais. A série será lançada entre abril e maio do ano que vem em Miami, e ainda não tem data para chegar ao Brasil. “Terminando as gravações de ‘O Sétimo Guardião’ quero ir para Cidade do México e Madri apresentar alguns projetos. O mundo está muito pequeno. Somos muito queridos lá fora, eles nos veem como uma potencia de trabalho muito legal.”
Enquanto a novela não estreia, o ator dá as caras na telinha na segunda temporada de “Sob Pressão”, série da Globo que aborda temas como corrupção, dependência química, transfobia, gravidez na adolescência e suicídio, a partir do dia 9 de outubro. “Roberto é um trambiqueiro envolvido com propina… questões bem atuais. Ele é bem escroto”, adianta. Sobre o peso que a emissora assume ao tratar dos temas, Marcelo diz: “A televisão tem que acompanhar o tempo da sociedade, é importante que fale sobre temas atuais. Precisa ter o lado lúdico, de sonhar e tirar o telespectador da realidade, e o lado importante que é o de propor um painel do que estamos vivendo.”
No cinema, além de “Crô em Família”, 1º lugar de bilheteria no Brasil em setembro, está prestes a surgir em “Chacrinha: O Velho Guerreiro”. No longa dirigido por Andrucha Waddington, Serrado faz uma participação especial como o icônico apresentador de TV Flávio Cavalcanti. É ele quem convida Chacrinha para voltar à TV Tupi. Na telona, Marcelo Serrado ainda está em “Trocando Likes” e no suspense “Albatroz”, de Bráulio Mantovani.
Apesar de estar em um ótimo momento na carreira, Marcelo diz que não existe zona de conforto na profissão. “Estou em um momento maduro, de conquistar coisas pelas quais batalhei muito, mas continua não sendo fácil. Por isso, o conselho que eu dou para quem pensa em seguir carreira de ator é: desiste! (Risos)”. E a reflexão segue: “É uma carreira muito instável. Sempre questiono sobre ‘você chegou lá’, por que aonde é o ‘lá’? Você mata um leão por dia, está sempre na incerteza, sabendo que tem que dar o seu melhor, isso dá uma canseira… Claro que atualmente tenho uma certa segurança, posso escolher papeis e os convites chegam, mas ainda assim é difícil.”
É justamente essa clareza sobre as dificuldades do ofício que ajuda Serrado a tirar tudo isso de letra. “É preciso ter calma, respirar e saber que um dia você pode estar por cima, ser um grande sucesso, e em outro estar em baixa. O melhor momento para encontrar esse equilíbrio é quando você está em alta, e aí o barato é continuar fazendo seu trabalho da melhor maneira, sabendo que os altos e baixos fazem parte.”
E sobre política, o assunto mais falado nestes dias que antecedem as eleições? “Estou muito chocado com tudo isso que está acontecendo, mas prefiro não falar. Já abri meu voto, que é na Marina, em quem voto há muito tempo, e torço pra que haja uma luz sobre nós.” (Por Julia Moura)
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