Por Pedro Lindenberg
Cintia Dicker não poderia ser escolha melhor para estampar uma edição que tem o existencialismo como inspiração. Questionador, polêmico e livre, o movimento cultural, que fez a cabeça de filósofos dos séculos 19 e 20, deixou musas com um visual mais dramático. Pois bem: a gaúcha Cintia, natural do município de Campo Bom, no interior do Rio Grande do Sul, não tem o padrão de beleza comum e, até por isso, tinha vergonha de sua imagem na escola. “Não gostava de todos olhando para meu cabelo e fazia de tudo para esconder minhas sardas”, conta. O corpo, curvilíneo, também destoa do batalhão de tops extremamente magras.
A vida de Cintia, no entanto, não passa longe do clichê que persegue grande parte das modelos. De origem humilde, foi descoberta aos 14 anos em um shopping de Novo Hamburgo e, diante da chance de melhorar de vida, se jogou na oportunidade: morou por um tempo sozinha em São Paulo, seguiu para Tóquio, no Japão, e, depois de uma temporada em Paris, firmou residência em Nova York, onde vive até hoje. E, desde que apareceu, trabalho não falta. Já esteve presente em campanhas de marcas como Gucci, Yves Saint Laurent, Moschino, Lanvin e Dolce & Gabbana. E mais: por conta da imagem cheia de curvas, integrou o time de beldades da edição anual da Sports Illustrated Swimsuit durante cinco anos consecutivos.
Apesar de perambular por conta própria desde cedo, a modelo nunca deixou de namorar. Foi depois do término de seu noivado com Rico Mansur, no fim do ano passado, que aprendeu a ficar sozinha. “Sempre estive com alguém, desde os 16 anos. Precisava ficar sozinha para aprender a viver bem comigo mesma”, revela Cintia, que aproveita o pouco tempo livre para ver as amigas que moram por perto – todas brasileiras – e fazer compras. “Tenho uma queda por comprar bolsas e sapatos pela internet. O problema é que muitas vezes as peças não servem, então acabo presenteando minha mãe, minha assessora, ou alguém que combine com meu estilo”, conta.
Aos 26 anos, Cintia não tem previsão de parar de trabalhar. O sonho de voltar ao Brasil, ter três filhos e montar uma pousada na praia, que pretendia alcançar aos 25, adiou para os 30 e não vê problema em deixá-lo ainda mais para frente. “Assim como o passado, o futuro tem seu tempo. É algo que vem naturalmente”, reitera. Enquanto essa fase não chega, ela toca paralelamente o projeto de uma linha de biquínis, tenta arranjar um tempo para viajar e acaba de adotar seu “filho” Adolfo, um buldogue inglês que vai morar com sua família no Brasil. Se tem alguma coisa que ainda morre de vontade de fazer? “Nunca pintaram meu cabelo. Queria muito que alguém me pedisse para mudar a cor em algum trabalho. Quando fechei contrato com a L’Oréal, achei que finalmente tinha chegado a hora, mas ninguém se interessou pela ideia. No ano passado até comprei uma peruca morena!”, finaliza. Alguém arrisca colocar a mão no fogo?
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