A Cidade Ilhada
Houve um tempo em que o escritor Milton Hatoum achava que não era possível viver de literatura no Brasil. Hoje, depois de quatro romances e um livro de contos recém-lançado, “A Cidade Ilhada”, já vendeu mais de 200 mil exemplares de suas obras e ganhou muitos prêmios. Hatoum está trabalhando num novo romance, sobre o qual garante que não é sobre o Amazonas, tema recorrente em sua obra. Ele conversou com o Canal Livraria da Vila. A seguir, trechos da entrevista.
Apesar de já ter participado de antologias de contos brasileiros no México e na Alemanha, e de ter publicado contos em revistas e outros periódicos, por que só agora resolveu lançar um livro desse gênero?
Hatoum – “A Cidade Ilhada” é uma reunião de 14 contos dos quais seis eram inéditos em português. Na verdade, comecei escrevendo contos na década de 1970, mas rasguei muita coisa, e ainda rasgo. Sou atormentado com a questão flaubertiana da busca da palavra perfeita, mas agora achei que tivesse um número suficiente de contos com qualidade literária que davam um livro e propus a publicação para meu editor.
Por falar em Flaubert (Gustave -1821-1880), o “Três Contos” tem uma tradução sua (pela Cosac Naify, em parceria com Samuel Titan Jr.), como foi traduzir o autor de “Madame Bovary”? E como vê as traduções de seus livros?
Hatoum – Traduzir é sempre um processo complicado. Trata-se de mergulhar fundo no universo de quem está sendo traduzido, de encontrar a melodia do outro e não deixar que o seu próprio tom interfira no texto. Quando domino a língua procuro acompanhar as traduções de meus livros, como é o caso do francês e do inglês. Agora, para o grego e holandês, por exemplo, tive que confiar no tradutor.
Por que acha que suas obras que têm Manaus como tema recorrente são tão bem aceitas no exterior?
Hatoum – Há uma curiosidade grande no exterior em relação à Amazônia e isso, sem dúvida, é um aspecto importante quanto à recepção de meus livros. Mas “Cinzas do Norte”, por exemplo, também se passa em Londres e Berlim. Minha literatura é regional e cosmopolita ao mesmo tempo. Há outro aspecto em minha obra que acho fundamental: ultrapassei o conceito prévio que normalmente o estrangeiro tem sobre nosso país. Em meus livros, os leitores não encontram o Brasil do samba, carnaval e futebol, nem há realismo mágico.
Qual sua expectativa em relação à Flip? Vai dividir uma mesa literária com Chico Buarque.
Hatoum – Nem me fale, há uma quantidade enorme de leitores me escrevendo para que eu consiga um convite, não para me ver, mas por causa do Chico. Ainda bem que não sou muito ciumento (risos).
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