Um dos rostos mais conhecidos da televisão, com uma carreira de sucessos também no cinema e teatro, Cláudia Abreu sobe ao palco do Sesc 24 de Maio neste sábado (9) para estrear seu primeiro monólogo e também seu primeiro texto como autora. “Virgínia” se inspira nas últimas horas de vida de Virginia Woolf (1882-1941), escritora que revolucionou a literatura e os costumes de sua época antes de se matar, aos 59 anos.
Para dar vida à peça, escrita durante a pandemia, Cláudia decidiu bancar a produção do próprio bolso, sem recorrer a editais ou à Lei Rouanet. “Houve essa campanha macabra de marginalizar todos os artistas como se fossem uma grande parte de uma mesma quadrilha de magnatas, como se todo mundo fosse ladrão porque usa a lei Rouanet“, explicou ela em conversa por vídeo com o GLMRM.
A lei, que permite que pessoas físicas e jurídicas financiem artes por meio de isenção fiscal, sempre deu certo, segundo a atriz. “Se algumas pessoas abusaram dela, não diz respeito ao todo. Como não queria ter nenhum desgaste, preferi produzir minha peça com recursos próprios”, completou.
“Houve essa campanha macabra de marginalizar todos os artistas como se fossem parte de uma mesma quadrilha. Como não quero ter nenhum desgaste, preferi produzir minha peça com recursos próprios”
Formada em filosofia, Cláudia teve contato com o texto da autora inglesa quando atuou em “Orlando”, adaptação de Bia Lessa para um de seus clássicos, na década de 1990. Retomou o contato após indicação de uma de suas professoras da faculdade.
Identificada com sua visão de mundo e sensibilidade, a atriz teve vontade de reviver Virginia Woolf no teatro. “Uma vivência atormentada, mas que também é brilhante por transformar toda sua dor em arte”, ressalta.
No monólogo, Cláudia traz um recorte do que mais a impactou na vida da ensaísta, como os abusos e tragédias vividas. Apesar de afirmar nunca ter sofrido uma situação concreta de assédio, a atriz se identifica com a história por ter presenciado muitas situações com outras mulheres.
“Essa violência contra a mulher é um tema que nunca deixou de ser atual. Muda a época, muda um pouco a situação, mas isso não mudou tanto assim em alguns lugares”, afirma ela, lembrando o fato de Woolf não ter estudado e, em 2009, a jovem paquistanesa Malala Yousafzai ter levado um tiro por defender o direito de mulheres estudarem no seu país.
‘Você não aparenta ter a idade que tem’
Com uma carreira na televisão desde a década de 1980, Cláudia cresceu na frente das câmeras. Aos 51 anos, a atriz contou que escuta desde os 35 as pessoas dizerem “você não aparenta a idade que tem” como forma de elogio. Mas, apesar de concordar com o desabafo recente da amiga Andréa Beltrão, disse não se incomodar mais com comentários como esse.
“Sempre quis ficar com o lado bom da coisa. Então, não vou me aborrecer com isso. Se a pessoa acha que estou bem, então ótimo”, afirma.
Em um de seus papéis icônicos, na pele da vilã Laura, foi esbofeteada muitas vezes pela mocinha Maria Clara (Malu Mader) em “Celebridade” (2004). A cena violenta entre duas mulheres é resgatada de vez em quando nas redes. Anterior a movimentos como #MeToo e à mais recente onda do feminismo que Woolf encarnou tão bem, para a atriz a novela ainda reflete algo da realidade que vivemos hoje.
“Tem coisas muito mais graves que não dá para colocar [hoje em dia], como cenas de racismo e discriminações de minorias, mas existe duas mulheres se batendo em algum lugar por aí.”
“Virginia” fica em cartaz de 9 de julho a 7 de agosto no Sesc 24 de Maio. Os ingressos custam a partir de R$ 40.
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