Por Denise Meira do Amaral
Cássio Scapin mora em nosso coração! Quem não se lembra com carinho do personagem Nino, a criança de 300 anos do “Castelo Rá-Tim-Bum”, que vestia roupas coloridas, tinha um chumaço de cabelo arrepiado e morava em um castelo com uma tia bruxa, uma cobra chamada Celeste e um bicho que vivia nos canos, chamado Mau? Pois tudo isso poderá ser revivido na “Castelo-Rá-Tim-Bum – A exposição”, que começa nessa quarta-feira no MIS. E, para relembrar mais essa época de ouro da TV Cultura, fomos atrás do próprio Nino, ops, Cassio. Ele acredita que um dos principais méritos do programa foi criar um novo conceito de família para toda uma geração de crianças e revelou ainda que planeja ter um programa educativo – e em breve. À entrevista.
O que gostaria de reviver na exposição do Castelo-Rá-Tim-Bum?
Reviver, nada. Tudo foi muito bem vivido na época (risos). Mas eu gostaria que a TV tivesse mantido a qualidade e o direcionamento que o Castelo obteve na época. Gostaria que o programa fosse o ponto de partida pra um desenvolvimento maior da TV brasileira.
Como foi o período em que você viveu o Nino?
Foi uma experiência super bacana. Sempre digo que a gente conseguia fazer teatro na TV. O Castelo era feito por um grupo de atores de São Paulo que se conhecia. Era muito prazeroso, apesar de árduo. Nossas condições de trabalho eram bem difíceis, a gente não tinha ar condicionado, não tinha a gama de tecnologia que temos hoje. Era uma TV estatal e que tinha muita dificuldade nesse sentido. Mas, apesar das situações muitas vezes precárias, era muito prazeroso. Tínhamos uma liberdade que na TV é muito raro.
Li que você precisou fazer terapia para se desvincular do personagem…
Quando você faz uma coisa que não dá certo, é fácil de abandonar. Mas quando dá certo, é muito difícil largar o mundo do sucesso. Eu ganhava muito dinheiro, estava tudo direitinho, mas eu queria mais que isso. As pessoas queriam que eu continuasse fazendo a mesma coisa.
Você voltaria a reviver o Nino?
Dependendo da disposição, eu faria sim. Hoje já é um outro momento, sou outra pessoa. Antes eu precisava provar algumas conquistas, que já estão resolvidas. Fui bem sucedido nos meus projetos.
Você manteve contato com o elenco do Castelo?
Vira e mexe nos encontramos. Já éramos amigos desde antes do Castelo. Sempre vejo Pascoal da Conceição [Dr. Abobrinha], Rosi Campos [Morgana], Luciano Amaral [Pedro]. A gente fez uma reedição do Castelo há um tempo atrás, no Teatro Abril, e nos encontramos todos. Inclusive o Luciano Amaral entrou como assistente de direção do espetáculo.
Como é ser um ícone infantil de uma geração inteira?
É barra pesada. Às vezes eu me assusto (risos). Vem homens de barba branca falando que me viu quando criança. E eu não tenho barba branca. É uma loucura, uma sensação de que não é comigo, parece uma piada. Vejo mães com filhos de dez anos no colo falando: ‘puxa, você marcou a minha infância’. A proporção do tempo é muita maluca. Mas acho que eu sou um ícone relativo, para uma determinada classe social, para um determinado público.
Você se policia em alguns aspectos por ser tão relacionado com o público infantil?
Eu acho que, quando você cria uma figura pública, você tem que manter uma certa disciplina. Claro que também não pode criar uma prisão, não poder ser escravizado, mas você não pode tudo sempre. Quando você está na rua, às vezes é interrompido por alguém que te viu, que te acompanhou e que expressa seu carinho de alguma forma. A TV acaba penetrando na vida das pessoas, sem pedir licença. Temos que ter certa responsabilidade, sim. Eu evito ser fotografado com um copo de bebida na mão, por exemplo. Isso não quer dizer que eu não beba socialmente, mas eu evito me associar.
Quais são seus próximos projetos?
Eu sou contratado da Record e vou começar a segunda temporada da série “Milagres de Jesus” e devo participar de um projeto novo que ainda não sei qual será. Tenho uns três ou quatro projetos meus de teatro engatilhados, com a minha produtora e a minha sócia, Fernanda Signorini. Tenho textos que eu estou buscando, mas ainda é segredo de estado (risos). Tenho vontade também de fazer um outro programa educativo. Ainda estou idealizando com amigo, estamos estudando formatos. Não sei ainda se vai ser para Record, ou para a internet. Estamos vendo.
Qual a sua relação com o teatro? É a sua grande paixão?
Eu sou um homem de teatro. Faço TV, gosto, é bacana, acho importante e acho que também pode melhorar muito. A TV poderia ter uma importância para a formação do país maravilhosa. O Castelo é a prova disso. A TV é ainda um veículo a ser explorado, assim como as novas mídias. Ainda estamos engatinhando, mas vamos ter uma evolução em breve. Mas eu sou um homem de teatro, eu entendi a vida pelo teatro, a minha formação de educação foi feita pelo teatro. É a minha casa. No teatro, você precisa de muito pouco, só do pensamento subjetivo do público e um homem contando uma boa historia. O teatro tem a função de educar, de entreter, de discutir uma sociedade – que, aliás, a gente precisa levar um pouco mais a sério.
Qual é o seu sonho?
Eu gostaria de ter uma teatro, uma casa de espetáculos, para desenvolver meus projetos. Quero que seja confortável para os atores e para o público. A minha sócia fala ‘você é um louco, ter um teatro é um inferno’. Não sei se vai ser realizado, às vezes um sonho é só para se sonhar…
Tem algo que você queira acrescentar que eu não perguntei?
O ‘Castelo-Rá-Tim-Bum’ foi um precursor de uma ideia nova de família. No Castelo você não tem uma estrutura familiar careta. Você tem uma criança de 300 anos que mora com uma tia-avó e um tio e ninguém pergunta aonde estão os pais de Nino. Isso não importa. A relação amorosa afetiva desses personagens é que estabelece a estrutura familiar. A família é o que você tem, é o lar que você cria. Acho isso bacana.
Confira abaixo os personagens que marcaram uma geração.
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