Não estranhe se ouvir o idioma francês mais do que de costume durante estes dias no eixo Rio-SP. É que turma cool do cinema francês desembarcou por aqui para a abertura do Festival Varilux de Cinema Francês, que começa nesta quarta-feira em 55 cidades do Brasil e segue até o dia 21 de junho. Camille Cottin está no pedaço para divulgar a comédia “Tal Mãe, Tal Filha”, de Noémie Saglio, na qual atua com Juliette Binoche. Glamurama, claro, não deixaria ela voltar para Paris sem antes entrevistá-la.
Camille, 38 anos, teve sucesso tardio. Atuou em peças de teatro durante 17 anos até que atingiu a fama com seu papel em “Connasse”, série de Noémie Saglio e Éloïse Lang que virou filme. Cinema é algo novo pra ela. Sua primeira visita ao Brasil foi há 15 anos, mas na ocasião só foi para Salvador. Desta vez visitou o Rio e desembarcou em São Paulo. Na Cidade Maravilhosa, onde teve apenas 24 horas para turistar, jantou no Sushi Leblon, passeou pelo Jardim Botânico e almoçou no Parque Lage. Em São Paulo, chegou na noite dessa terça-feira e jantou no Sky, no hotel Unique, e achou o restaurante muito bom. No papo abaixo, se sobressaem o senso de humor e a gentileza da atriz. (Por Julia Moura)
Glamurama: Você gosta de cinema brasileiro? O que sabe sobre ele?
Camille Cottin: “Um dos meus filmes brasileiros favoritos é “Cidade de Deus” e recentemente vi “Aquarius” e achei maravilhoso. Foi um dos filmes mais bonitos que vi nos últimos anos.”
Glamurama: Qual você acha que é o grande diferencial do cinema francês?
Camille Cottin: “Dentro do cinema francês existem diferentes aspirações, mas diria que eles falam muito.” (Risos) “Há muito diálogo no cinema francês. O povo francês gosta de palavras, de jogo de palavras, de brincar com as palavras, de humor com vocabulário.”
Glamurama: Como você compara o humor francês com o americano?
Camille Cottin: “Os americanos têm o costume de criar comédias a partir de ações, enquanto nas comédias francesas o humor está nos diálogos. Um explora mais a parte física, e o outro a mental.”
Glamurama: Comédia é seu gênero favorito?
Camille Cottin: “Não é meu favorito, mas gosto bastante. Tenho apetite para muitas coisas.”
Glamurama: Você teve um sucesso tardio. Hoje, como avalia sua atuação? Onde você acredita que conquista seus papeis durante os castings?
Camille Cottin: “Conquistar ou não um papel está ligado ao fato dele ter ou não sido feito pra você. Mas isso não quer dizer que se você for igual ao personagem terá vantagem. É importante ter algo a compartilhar com o personagem. O que faz a diferença é saber explorar os pontos similares que têm ao personagem e saber trabalhar os divergentes. Neste processo, trabalho mais meu corpo do que minha cabeça. Se eu tiver apenas uma compreensão intelectual, não é o suficiente. É preciso uma compreensão física. E depois agradeço a cada parte do meu corpo pela ajuda na interpretação do personagem. É isso que resulta na incorporação do personagem: a respiração diferente, um jeito de falar diferente, de andar diferente…”
Glamurama: De que forma a fama mudou a sua vida?
Camille Cottin: “A minha fama é pequena, não é uma grande fama. Quando alguém me reconhece na rua há um approach legal. Não é como os grandes atores, que não são mais humanos e as pessoas querem tocá-los… Pra mim é confortável porque é sutil. Há dias ensolarados em que estou passeando com meus filhos em Paris e alguém se aproxima e me cumprimenta numa boa. O bom da fama é que ele traz oportunidades no cinema que não teria sem ela.”
Glamurama: Abre portas…
Camille Cottin: “E aí você precisa criar a passagem, mas pelo menos abre as portas!” (Risos)
Glamurama: Como foi trabalhar com Wes Anderson e Brad Pitt em 2008, no comercial que fez para o SoftBank?
Camille Cottin: “Foi um papel pequeno mas Wes Anderson é um diretor maravilhoso e Brad Bit é uma pessoa muito gentil e atenciosa. Ele [Brad Pitt] é uma lenda e fiquei chocada com o quanto é respeitoso e simples. Tanto nos bastidores do comercial quanto no do filme ‘Aliados’ (2017), onde tive uma pequena participação, tentei parecer muito normal porque deve ser muito ruim quando alguém não age normal com você por ser famoso. Mas foi difícil, porque é o Brad Pit!” (Risos). “Difícil agir naturalmente”. Assista abaixo ao comercial.
Glamurama: Em “Tal Mãe, Tal Filha”, você interpreta uma filha que é mais responsável que a mãe. Na vida real, você se identifica em algo com a sua personagem?
Camille Cottin: “Bem, antes de me tornar mãe eu não era responsável. Então de repente você se torna responsável e pronta para assumir responsabilidades. Eu me identifiquei com a personagem com sua ambição para fazer tudo perfeito e ter o controle de tudo. Eu luto contra a minha natureza para fazer com que todos ao meu redor se sintam felizes, bem e livres para seguir.”
Glamurama: Como foi ver sua filha Anna, de apenas 1 ano, atuando em uma ponta no filme?
Camille Cottin: “Ela é tão fofa, eu amo ela. Foi muito legal. Ela agiu muito naturalmente e gostou das câmeras. Uma bebê atriz!” (Risos). É uma boa lembrança…”
Glamurama: Uma das frases de efeito do filme diz que um dia nos tornamos “pais de nossos pais”. Você concorda?
Camille Cottin: “Sim! Noto que atualmente as mulheres aos 55, 60 anos ficam cansadas de cuidar de seus filhos e querem que eles cuidem delas. Querem viver mais para elas: viajar, se divertir… e é engraçado porque quando tive meus filhos pensei que minha mãe fosse ser uma super avó, mas não. Ela me disse: ‘vou viajar com meu novo namorado’ (Risos). “Mulheres desta idade são muito gatas hoje em dia e querem se divertir. É bom, mas temos que ir atrás de babás”.
Glamurama: Qual é a mensagem mais forte do filme?
Camille Cottin: “A de que idade não significa nada. Permanecer jovem é uma decisão que você faz quando você é livre. Acho que a mensagem mais forte é a de que você pode segurar a onda de ser uma ‘avó’ e ter tudo ao mesmo tempo. Você pode ser a pessoa que você quiser ser, sem abrir mão de uma coisa ou de outra.”
Glamurama: Como foi trabalhar com Juliette Binoche?
Camille Cottin: “Foi super legal, uma honra. Ela é uma ótima atriz. Uma pessoa muito simples e que tem uma risada maravilhosa. É muito jovem de espírito, sensata, inteligente, mas ao mesmo tempo muito espiritual. Tem uma atuação muito orgânica.”
Glamurama: Você fez uma campanha contra a Marine Le Pen , como você vê a situação política da França hoje?
Camille Cottin: “Estamos muito aliviados que Marine Le Pan está fora e agora com este presidente jovem, voltamos a ter uma pequena esperança. Ele inspira essa energia de que é possível fazer, criar algo diferente. Estávamos muito assustados com Trump tomando o poder, uma pessoa louca como ele sendo eleita, e isso assusta porque é democracia. Então estamos aliviados.”
Glamurama: Não deixaríamos uma francesa partir sem antes colher dicas de moda! Qual é seu melhor truque de estilo?
Camille Cottin: “Sempre uso jeans skinny e botas com saltos baixos. Hoje sei que o que me veste bem é a combinação de toque masculino com toque feminino. É assim que me sinto sexy, e não com decotes.”
Assista abaixo ao trailer de “Tal Mãe, Tal Filha.”
Festival Varilux de Cinema Francês
De 07 a 21 de junho em 55 cidades pelo Brasil.
Confira a programação completa no variluxcinefrances.com
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