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Por Julia Furrer para Revista Joyce Pascowitch de setembro

“A hora que você sai de São Paulo e vê como é possível aproveitar mais a vida com muito menos dinheiro fica impossível pensar em voltar.” O depoimento é da paulistana Celita Whitaker, 33 anos, mas poderia ser de qualquer morador da capital que migrou para outra cidade, estado ou até país e encontrou no novo endereço um outro estilo de vida. O caso está se tornando mais frequente: cada vez mais pessoas de idades diferentes largam seus trabalhos com demandas intermináveis, o trânsito que só aumenta, a poluição, a violência e os preços exorbitantes da pauliceia por qualidade de vida em lugares menores. O saldo? Felicidade. “É difícil para as pessoas entenderem que a vida simples traz plenitude”, diz Celita, moradora da Ilhabela há dois anos, que não demora mais de 1 minuto e 40 segundos para ir de casa ao trabalho. Ex-dasluzete, ela trabalhou na meca do luxo brasileiro por oito anos antes de jogar tudo para o alto incentivada pelo namorado. Ao lado de Pedro Boca Bueno, foi morar um ano entre Austrália e Indonésia, onde deu aulas de stand-up-paddle enquanto ele ensinava kite surfe. Na volta ao Brasil, o casal resolveu ir direto para a praia da Ilhabela, no litoral norte de São Paulo.

Coisa parecida aconteceu com Stela Batochio, 35 anos, paulistana, que atuava como assessora de imprensa e vivia correndo até conhecer o namorado, Fernando Droghetti. O empresário, na época, era dono da loja Jacaré do Brasil em Trancoso, no sul da Bahia. O romance evoluiu e Stela passou de simples frequentadora do vilarejo a habituée. Veio então a proposta de Droghetti: ele queria abrir uma pousada e, para isso, precisaria mudar de vez para o destino – com ela. Isso em 2008. Os primeiros meses não foram fáceis, mas ela parece nem lembrar quando fala: “Aqui o relógio corre em uma velocidade diferente. Não dá pra se estressar. Em São Paulo eu sobrevivo, aqui eu vivo”, fala Stela, que se exercita na praia, faz tudo o que precisa a pé e, o melhor, com segurança.

Um lugar ao sol

Se escolher outra cidade no seu país já parece um desafio, imagine no exterior. É o caso da empresária Tetê Etrusco, hoje dona da pousada Casa Turquesa, em Paraty, litoral fluminense. Antes de criar raízes na cidade histórica, onde está há quase 15 anos, ela morou na região da Provence, no sul da França. Mais precisamente em Cavaillon, de 28 mil habitantes. “No começo me senti enclausurada, mas, aos poucos, fui descobrindo as vantagens do lugar. Todo mundo se conhecia, era tranquilo, dava para realmente confiar nas pessoas”, conta ela, que casou por lá e, por isso, acabou ficando durante 12 anos. A vontade de voltar para o país ganhou força quando descobriu Paraty. “A vila é pacata, sossegada, mas também muito turística, com gente circulando o tempo todo. Você não está sozinho nunca.” Aos 50 anos, ela tem horário flexível, tempo para ir à praia (quase) todos os dias e um business que a completa.

Mas não é preciso ser muito radical para ter um estilo de vida mais light. Mudar para o Rio de Janeiro para alguns já é o suficiente. “São Paulo é uma cidade que exige que você trabalhe. Quem não vive nesse ritmo louco se sente um peixe fora d’água”, confessa Tininha Kós, carioca que passou 23 anos na pauliceia antes de, em 2012, retornar. “Em São Paulo tive oportunidades que não teria em qualquer outro lugar, mas não tinha tempo para nada, era uma vida insana. O bairro onde moro no Rio hoje parece interior. Tenho tempo para tudo, inclusive para assistir meu filho no futebol, coisa que nunca tinha feito.”

In natura

Tininha, Tetê, Stela e Celita enxergam em cada lugar seus pontos positivos e negativos, mas nenhuma voltaria para a antiga vida. “A informalidade do Rio tem um lado ruim, mas em São Paulo eu era superpilhada, tomava Rivotril para dormir. Aqui nada disso é preciso”, conta Tininha. Outro ponto destacado por ela é que em solo carioca as pessoas não estão preocupadas com o seu histórico profissional. “Eu pensava que ia ter de me justificar sobre a decisão de ter parado de trabalhar. Mas percebi que no Rio isso não tem tanto valor. Aqui o que se pergunta é onde você malha, e eu nunca mais tinha malhado.” Para Celita, o começo é mesmo difícil: fazer novos amigos, achar uma casa, uma manicure para chamar de sua… Mas vale cada centavo. Literalmente. “Abri mão de ser rica para ser feliz, mas muita gente ainda me julga louca por isso”, diz ela, que por ser pedagoga de formação atua como professora em uma escola na Ilhabela. A saudade ela consegue matar nos fins de semana: “Sinto falta da minha família e do Pão de Açúcar. Às vezes quero fazer uma salada grega e não posso porque aqui não tem queijo feta”. Já Tetê faz suas comparações: “Não tenho teatros, restaurantes e museus, mas tenho cachoeira, caminhada ao ar livre e pôr do sol na praia”. Além disso, diferente de Trancoso, que segundo Stela é muito sazonal – “às vezes não tem uma alma por aqui”, diz a já quase baiana – Paraty tem sempre alguma coisa acontecendo: Flip, Mimo, festival de cinema, de fotografia… Stela filosofa: “Mudar de cidade é como um relacionamento: tem o momento da paixão, de não ver nenhum defeito, depois o de achar os problemas e então a descoberta da estabilidade de um jeito mais realista”.
Se faltava apenas um incentivo para você largar tudo, pare e planeje bem. Como deu para ver, nem tudo são flores, mas para tudo se dá um jeito. Se elas sentem falta de cinema, por exemplo? “Nem um pouco, tenho Apple TV”, diz Celita. Simples assim (e precisa de mais?).

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