A cidade de Florença, na Itália, está mais colorida desde a última quarta-feira, quando abriu oficialmente a maior retrospectiva do artista chinês Ai Weiwei em solo italiano. Os cartazes em rosa tomaram conta das ruas, foram parar nas lojas, e quem passa pelo Palazzo Strozzi, palco da exposição, se depara com 22 botes salva-vidas pendurados mas janelas do edifício. Batizada de “Reframe”, a instalação virou o centro das atenções e discute o tema dos refugiados, já que todos os botes expostos foram usados no resgate de sírios em alto-mar. Ativista e artista político, Weiwei apareceu de surpresa durante a coletiva de imprensa, tirou selfies e fotografou o ambiente sem parar. “O problema da imigração é de toda a Europa. Batizei a exposição de Libero por querer e desejar essa liberdade aos que nunca se sentiram seguros e em casa. Libero é um imperativo”, disse.
“Nossa voz precisa ser ouvida em alto e bom som, alguém precisa gritar, falar mais alto. É o que estou tentando fazer aqui”, comenta o artista, que ganhou 21 salas divididas em dois diferentes museus – no Palazzo Strozzi, são três andares -, além de trabalhos na Galeria Uffizi e no Mercato Centrale Firenze. Entre os highlights do que pode ser visto até o dia 22 de janeiro de 2017 está a sala “Sichuan”, com uma instalação criada a partir de 300 mochilas escolares de crianças que morreram no terremoto que atingiu a cidade chinesa em 2008. Também estão expostas a obra “Renaissance”, que recria obras da época renascentista utilizando peças de Lego, e a famosa série “Study of Perspective”, onde o artista levanta o dedo do meio para diversos monumentos, como a Casa Branca, a Torre Eiffel e o Coliseu.
“Para mim, arte é sobre reflexão, é assim que vejo o mundo. Caso contrário, tudo que faço não teria o menor sentido. Eu já fui um refugiado quando criança, sei muito bem o que é não ter uma casa, fui banido do meu país e senti na pele o que essas pessoas estão passando”, resume Weiwei, que acredita que a tecnologia pode nos ajudar a tornar as questões sociais mais humanas e abrangentes. “Estamos no nosso melhor momento tecnológico, em redes sociais não há barreiras, fronteiras, todos somos iguais e não importa se você é rico ou pobre, estamos no mesmo barco e isso torna o hoje muito, muito diferente do que vivemos no passado”, desabafa o artista.
O subsolo do Palazzo Strozzi guarda a parte fotográfica da exposição, deixando para o fim uma série de imagens feitas em Nova York, aos 24 anos, no ano de 1981. São fragmentos de uma vida em ebulição, mostrando sem amarras o melhor de Weiwei e sua curiosidade por Andy Warhol e Marcel Duchamp. “258 Fake” recorre a vídeos e 7.677 fotos, que, compilados, se transformam numa galeria em movimento, misturando registros da vida do artista em Beijing entre 2003 e 2011.
A sala destinada ao trabalho “Leg Gun” é divertida e colaborativa. Em junho de 2014, Weiwei postou uma foto em seu Instagram onde sua própria perna se tornava uma arma – o gesto viralizou e fotos de diferentes pessoas, objetos, animais e desenhos fazendo o mesmo movimento podem ser vistas por aqui. Por último, mas não por isso menos interessante, a sala “Selfie”, que reúne imagens pessoais dele, ora sozinho, ora com amigos e desconhecidos. Essa forma de expressão foi escolhida pelo artista depois que o governo chinês bloqueou o blog dele, em 2009, fazendo com que Weiwei migrasse para o Twitter, onde está mais próximo do público e consegue administrar melhor as novidades que surgem diariamente.
“A situação politica atual é incerta, essa é a hora de mudanças, de rever a estrutura das coisas e deixar de lado a complexidade. Como humanos, nós devemos nos perguntar com o que vamos nos preocupar hoje. Temos muito o que aprender com essas famílias devastadas por guerras, que lutam por suas vidas todos os dias. Nunca paramos para pensar nisso, e é o que devemos começar a fazer”, diz ele sobre as dificuldades políticas atuais. Glamurama perguntou sobre o medo que das pessoas de receber refugiados ou de estarem próximas a essas comunidades, e Ai Weiwei foi enfático na resposta: “Temos medo sim, todos temos. Preferimos pensar que eles, os refugiados, não fazem parte da nossa rotina, que são menos do que qualquer outra pessoa. Somos egoístas e temos uma mente pequena, precisamos evoluir; caso contrário, quem vai morrer na praia somos nós”. Recado dado! (Por Matheus Evangelista)
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