Paul Michael Viollis, um dos maiores especialistas em segurança pessoal dos Estados Unidos, fala sobre a nova e arriscada mania de seus clientes milionários: viajar para os lugares mais distantes e exóticos do planeta
por Andrea Assef para revista PODER de agosto
Em abril deste ano, o casal de americanos Eric e Charlotte Kaufman e suas duas filhas pequenas foram resgatados em um veleiro a quase 2 quilômetros da costa mexicana durante uma viagem de férias entre o México e a Nova Zelândia. O resgate envolveu três aviões da Guarda Nacional americana e um navio do tipo fragata da Marinha dos Estados Unidos. A “operação de guerra” custou quase US$ 700 mil aos cofres públicos. Os pais pediram ajuda porque a caçula, Lyra, de 1 ano, estava com muita febre e não respondia aos antibióticos que eles levaram a bordo.
A busca por viagens exóticas a lugares distantes está cada vez mais na pauta do turismo do século 21, especialmente entre famílias abastadas. E o exemplo dos Kaufman é usado por Paul Michael Viollis, um dos maiores especialistas em segurança pessoal dos Estados Unidos, para ilustrar os perigos a que essas pessoas estão se expondo voluntariamente. “O que passou pela cabeça desse casal ao arriscar assim a vida da família?”, pergunta ele, que é fundador e CEO da Risk Control Strategies, empresa estadunidense que oferece serviço completo de segurança e de investigação tanto para corporações como para pessoas físicas que, aliás, são seus principais clientes. Viollis também é autor de livros sobre segurança como “Silent Safety: Best Practices for Protect the Affluents” (Worth Publishers), que ele escreveu com seu sócio, Douglas Kane, e em que trata das melhores práticas para proteger quem tem muito dinheiro.
“Cada vez mais, recebo consultas de clientes que querem visitar lugares remotos, inexplorados e até perigosos, onde seus amigos nunca estiveram. Mas será que vale o risco?”, diz Viollis, que trabalhou como consultor de segurança da promotoria de Nova York, do Departamento de Defesa americano, e liderou uma equipe de avaliação de ameaças pós-ataques de 11 de setembro de 2001, época em que era vice-presidente da Kroll, uma das maiores empresas de segurança do mundo.
Mesmo com toda sua experiência em avaliar situações de perigo, Viollis admite quando erra. No início do ano, por exemplo, escreveu um artigo no site da revista “Worth” (publicação sobre o mercado de luxo) em que afirmava que a Copa do Mundo no Brasil poderia ser muito perigosa para seus clientes americanos. Mudou de ideia. Em entrevista à revista PODER, Viollis falou sobre isso, criticou a irresponsabilidade dos Kaufman e a de alguns de seus clientes que arriscam a própria segurança e a da família, acreditando que nada vai acontecer com eles.
PODER: A busca por roteiros de férias exóticos também é uma tendência entre as famílias brasileiras, especialmente as mais abastadas. As pessoas podem estar empurrando os limites de segurança, como no caso da família Kaufman?
PAUL MICHAEL VIOLLIS: Não há dúvida sobre isso. Esse é um exemplo flagrante da necessidade de equilíbrio. Além de ser irresponsável, sempre que o desejo de entretenimento ultrapassa as obrigações de um grau adequado de segurança para você e sua família, a probabilidade de risco aumenta exponencialmente.
PODER: A história de Eric e Charlotte Kaufman e sua filhinha de 1 ano teve um final feliz, mas poderia ter acabado em tragédia. Em sua opinião, com que idade os pais devem começar a levar os filhos para viagens exóticas, que fujam do padrão tradicional de conforto e segurança?
PAUL MICHAEL VIOLLIS: Feliz para a família que eles estejam vivos, mas não para os contribuintes do governo dos Estados Unidos, que pagou US$ 663 mil para resgatar dois pais descaradamente irresponsáveis e uma criança pequena que, infelizmente, foi colocada em um cenário de risco de vida. Se os adultos querem colocar suas vidas em perigo ok, mas levar as crianças junto não é apenas ridículo, mas chega à fronteira de um ato criminoso.
PODER: Os Estados Unidos e a ONU estimam que existam 3,5 milhões de minas enterradas nos campos vietnamitas. No entanto, há algumas empresas de turismo, inclusive no Brasil, que oferecem passeios de bicicleta em plantações de arroz no Vietnã. O que o senhor pensa sobre isso?
PAUL MICHAEL VIOLLIS: Qualquer um que vende esse tipo de passeio deveria ser preso e quem o faz precisa ter um plano de saúde excelente.
PODER: O senhor poderia nos contar algumas histórias sobre pessoas que teve de resgatar durante situações de perigo?
PAUL MICHAEL VIOLLIS: Certa vez, o filho de um cliente foi preso na China sob acusações graves, que não posso revelar e que o levariam a muitos anos de prisão no país. Nosso envolvimento investigativo imediato revelou a natureza corrupta das acusações e, por meio de nossos contatos de alto nível, conseguimos tirá-lo de lá. Em outro caso, o patriarca de uma família que atendemos foi sequestrado no México e, por causa de sua saúde frágil, tinha menos de dois dias de vida se permanecesse em cativeiro. Nossa equipe foi capaz de localizá-lo e de negociar seu retorno com sucesso.
PODER: Quais são as mais arriscadas solicitações de viagem que você já recebeu de seus clientes?
PAUL MICHAEL VIOLLIS: Viagens a Nairóbi, no Quênia, em setembro do ano passado, dias depois do massacre do shopping Westgate (ataque ao shopping de luxo na capital do Quênia por um grupo islamita que deixou 68 mortos); caminhadas nas montanhas nos arredores de Bogotá para conhecer os membros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e alpinismo no Afeganistão, enquanto o país estava sendo bombardeado. Esses são apenas alguns pedidos que me vêm à cabeça.
PODER: Você disse que apesar de seus conselhos alguns clientes insistem em avançar com seus aviões para locais remotos. Quanto pode custar um plano de resgate em um dos lugares mais distantes e perigosos do planeta?
PAUL MICHAEL VIOLLIS: Isso depende do número de pessoas e do país, mas normalmente o valor começa em US$ 50 mil e o céu é o limite.
PODER: Empresa de segurança pessoal não deve ser um campo fácil de atuar, ainda mais quando os clientes são ricos e poderosos. Qual é a parte mais complicada?
PAUL MICHAEL VIOLLIS: A mentalidade medíocre, sem dúvida. Estou me referindo àquelas pessoas que, independentemente de seu patrimônio, vivem com a cabeça enterrada na areia e comprometem a segurança e o próprio bem-estar e o da família, acreditando “que nada vai acontecer com elas”.
PODER: Você escreveu um artigo no site da revista Worth em que afirmava que a Copa do Mundo no Brasil poderia ser muito perigosa para os seus clientes. Ainda pensa assim?
PAUL MICHAEL VIOLLIS: Não. O governo brasileiro fez um trabalho excepcional! Verdadeiramente de classe mundial.
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