Acostumada a debates mais comportados, a plateia da Flip (Festa Literária de Paraty) chamou a atenção na noite desse sábado. O público ficou de pé, cantou junto e bateu palmas durante a mesa “Desperdiçando Verso”, de Arnaldo Antunes e Karina Buhr. O debate, dos mais cobiçados desta edição da Fip, trouxe uma série de poesias e canções do músico, que ainda é poeta e artista plástico, e da pernambucana, que é cantora e escritora.
Arnaldo Antunes, com a sua poesia concreta e de poucas palavras, explicou para a plateia como se dá o processo de escolha entre uma música ou uma poesia. “Tem poemas que eu sei que é para ser lido no papel. E composições que sei que vão ser musicadas. Em geral, ao fazer, já sei o seu destino. Mas as exceções foram se tornando muito frequentes. Comecei a fazer coisas que eram poemas e depois de anos eu acabei musicando. Hoje em dia esse trânsito está mais misturado do que era. Uso a palavra como um trampolim para outras linguagens e acaba sendo muito frequente esse contrabando de uma área para outra”.
Sobre a economia de palavras de sua poesia, Arnaldo explica que muitas vezes escreve páginas e páginas e depois retira apenas uma frase para ser usada. “Como diz João Cabral, é como catar feijões”. O ator diz que escrever é uma alternativa ao mundo em que vivemos. “A poesia anseia de alguma forma combater esse estado de ‘standardização’ dos costumes e da rotina. Ela altera a sensibilidade das pessoas. A gente vive em um mundo que incentiva a onipotência, mas que também oprime pela quantidade de responsabilidades. A poesia é uma alternativa a esse mundo em que vivemos”.
Arnaldo também falou sobre seu novo livro, recém-lançado pela Companhia das Letras, o “Agora Aqui Ninguém Precisa de Si”: “Tem vários poemas que falam de morte, do vazio e da ausência, que a gente convive o tempo todo. Falo muito da morte, mas não da morte no sentido depressivo da palavra”.
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O ponto alto da noite foi o final. Arnaldo recitou com a plateia um verso do novo livro com palmas sincronizadas do público, que ficou todo de pé, em uma só voz. Abaixo, Arnaldo cantando “Socorro”. Play! (Por Denise Meira do Amaral)
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