Amora Mautner foi do céu ao inferno – midiaticamente falando. Colheu os louros pelo megassucesso “Avenida Brasil”, ganhou um status e uma fama incomuns para diretoras de TV, mas foi tombada do pedestal quando sua outra novela das nove, “A Regra do Jogo”, não correspondeu às infladas expectativas. Só se falava em Amora, antes pro bem, de “gênia” pra cima, depois pro mal. Notinhas sobre rumores de barracos nos bastidores e até sobre sua vida pessoal pipocavam… “Estamos vivendo em um coliseu. Você vê o desejo do ser humano de linchar o outro, destruir. Bota num coliseu e joga pedra na Geni [em referência à personagem da letra de Chico Buarque]”.
“Todo mundo vibra para que o outro morra”
Ela continua: “Todo mundo vibra para que o outro morra. Isso é muito danoso. O mundo está em um momento muito radical contra minorias e contra qualquer pessoa que tenha uma originalidade que os outros não estejam entendendo. Um inconsciente coletivo que é ruim pra todos… Leis e limites precisam ser respeitados. Existe esse medo que todo mundo sente de uma hora ir para o coliseu – porque se acontece com um pode acontecer com qualquer um…”
“Se você fez, tudo bem pagar por isso”
Se é para dar nome aos bois… “Eu passei por um bullying”. Foi colocada num pedestal e depois… “Depois sofri um bullying mesmo. Na época, a Adriana Esteves [vilã de ‘Avenida Brasil’] falou isso pra mim. E entendi que não importa muito o que é verdade e o que é mentira, importa a historinha que estão contando. E uma vez que uma pessoa coloca no ar uma historinha… Às vezes é um jornalista consistente e bota uma coisa real… E aí tudo bem porque se você fez, tudo bem pagar por isso, seja o que for. Ou pela fama disso. Mas hoje temos aí muitas pessoas que não são qualificadas e que antes não tinham espaço. O mundo editorial não dava espaço. Agora com a internet não tem mais essa ordem. Tem gente com emprego de inventar coisa”.
“Não dou Google com nome de ninguém”
Amora dá exemplos. “Passei por uma antológica uma vez, na época do meu bullying. Inventaram que meu namorado [Arnon de Mello, executivo filho de Collor] estava saindo com uma pessoa que ele nem conhecia. Sofri meia hora. E de fato ele e a pessoa não tinham sido apresentados. Aí percebi que é nonsense. E tomei uma atitude: não leio mais nada de fofoca sobre ninguém. Não dou Google com nome de ninguém. Aumentam, ou inventam, e vira um evento nas redes sociais. Faço questão de não participar disso, por uma questão ideológica. Até por já ter vivido isso. E a vida das pessoas é menos espetacular do que eles escrevem. É um momento muito sério de falar de limites. Inventar algo sobre você, aquilo ser tão infundado, mas não importa porque a história já está contata. Muita gente lê, não sabe que não é uma fonte segura e acredita. É tudo ficção”.
“Inventam mesmo, sou prova viva, porque só eu sei o que eu vivi”
Sério que nem na hora de escalar elenco você dá um Google? “Juro por Deus. Me dou o luxo de não ficar tão refém disso. Sofri muito na época do meu bullying. Via o quanto estavam inventando coisa. Diziam – é inacreditável – que eu não tratava bem criança, sendo que não tinha nenhuma criança na novela. Inventam mesmo, sou prova viva, porque só eu sei o que eu vivi. E sei o quanto é do nada, eles inventam do nada. Não dá pra acreditar no que lê, como a gente fazia na época do jornal. Mas também tem gente séria no mundo da fofoca. Sei que é um mercado, o público gosta, consome”.
“Tudo dará errado de novo, e certo de novo”
E mais: “Queria dizer com muita humildade que o mundo da internet tem seu valor, mas é preciso levar mais a sério… O que essas pessoas estão fazendo com outras é sério… A vida da pessoa acaba de repente”. E como Amora está no momento? “Ah, estou foférrima, superfeliz. Mudei o cabelo [com o hairstylist Felipe Freitas, do Rio]. A gente vai ficando velhinha e procurando maneiras de rejuvenescer”, brinca. “Minha vida objetivamente [a vida pessoal, fora da mídia] continuou sempre muito boa. A vida é assim. Uma coisa dá certo, outra coisa não dá certo. Tudo dará errado de novo, e certo de novo. É assim pra todo mundo”.
“É como escolher um marido”
A diretora tem dois novos projetos. Gravou “Assédio”, série inspirada na história do médico condenado por diversos estupros Roger Abdelmassih, que estreará em uma plataforma de streaming da Globo, e vai dirigir a próxima novela das seis da dupla Thelma Guedes e Duca Rachid, prevista para 2019. “A relação diretor/ autor é tão séria que é como escolher um marido. É importante que, aos escolher seus parceiros para um projeto, eles tenham o mesmo gosto que você – ou a chance de não dar tão certo é maior. Estou muito feliz porque estou com parceiros incríveis”.
“A Maria Camargo [de ‘Assédio’] é uma autora que tem o mesmo gosto que eu e a gente se adora. Admiro muito ela, o texto dela é uma pérola, muito delicado, então espero que tenha conseguido fazer jus ao texto. Trabalhei com grandes atores, e sou muito grata: Adriana Esteves, que é uma bênção, Antonio Calloni, que foi brilhante como sempre, Paolla Oliveira, uma rainha que fez um papel lindo, Mariana Lima, em um trabalho primoroso… Esse projeto da novela das seis é sobre refugiados da Síria. Thelma e Duca já pensaram em alguns atores, mas ainda não tem ninguém confirmado e eu não estou autorizada pela Globo a falar por enquanto”. Depois conta pra gente, Amora! (por Michelle Licory)