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Pedro Cardoso e a capa de seu livro: “O Livro dos Títulos” || Créditos: Divulgação

Figura sumida não só da TV brasileira como do Brasil, Pedro Cardoso, o eterno Agostinho de “A Grande Família”, desembarcou em São Paulo nessa semana para o lançamento de seu primeiro livro: “O Livro dos Títulos”. O romance, lançado pela Record, fala sobre “o susto de ver o Brasil entrar no rodamoinho político recente, das mentiras da vida moderna, do domínio do comércio e sua subserviência à publicidade, e também de pessoas alegres e cheias de vontade de fazer coisas…”, explica o artista. Pedro vive há dois anos e meio em Cascais, Portugal – período em que a situação econômica e política do Brasil começou a degringolar de vez. No país, divide seu tempo escrevendo livros e cuidando da casa, se auto-titulando “dono de casa”.

Questionado sobre a polêmica que poderia criar com o livro, pelo fato de não viver mais aqui e visitar o país, em média, apenas uma vez ao ano – à título de curiosidade, ele tem muito medo de avião -, falou ao Glamurama: “Seria uma boa crítica. Eu respeitaria essa opinião, mas é importante considerar que uma opinião não é necessariamente uma agressão. Ela pode ser um modo de ver as coisas. E pessoas como eu, que ganharam algum dinheiro, podem abandonar um país que está com dificuldades. E talvez responderia que, mesmo estando fora, meu comprometimento com o Brasil continua intacto. O livro foi escrito para o publico brasileiro.” Portugal mudou Pedro, que continua sustentando opiniões polêmicas, mas muito mais comedido. Abaixo, um papo como o artista sobre a vida pacata que escolheu levar depois de ter um grande projeto recusado por todas as emissoras nacionais. (por Julia Moura)

Glamurama: Por que optou por viver em Portugal? 
Pedro Cardoso: “Minha ida pra Portugal não tem nenhuma relação direta com os problemas do Brasil. Me mudei porque nunca tinha morado fora. Casei jovem, comecei a trabalhar muito… Brinco que hoje faço intercâmbio. No momento, saboreio o prazer de não ter planos à longo prazo. Mas como tenho filho em idade escolar, acredito que devo ficar por la bastante tempo. Mas mesmo assim, permaneço brasileiro: escrevi para o publico do Brasil.”

Glamurama: Como é sua vida em Portugal?
Pedro Cardoso: “Minha vida lá não difere nada com a minha vida aqui. Vida normal. A TV era um comprometimento constante e tomava horas do meu dia. Agora trabalho escrevendo livros, fico bastante em casa. Sou um imigrante muito atípico porque não fui para Portugal procurando emprego. Tive oportunidade de construir um patrimônio. Tinha algum dinheiro pra me organizar.”

Glamurama: O que você acha da invasão de brasileiros em Portugal nos últimos anos? 
Pedro Cardoso: “Todo mundo tem direito de mudar pra onde quiser. Não me cabe fazer nenhum tipo de censura a isso. Mas o melhor motivo pra você se mudar, é pelo lugar, e não porque você está fugindo de um lugar que está ruim. É sempre melhor ir pela vontade de ir e não pela vontade de sair. A solução do Brasil não é deixá-lo. O Brasil continua sendo um lugar com muitas possibilidades pra se viver. Penso que é uma covardia um país com mais de 200 milhões de habitantes não ter solução.”

Glamurama: Quais são os prós e contras de viver lá?
Pedro Cardoso:
“Lá é muito mais fácil se viver porque é um pais que teve uma revolução muito poderosa em 1974, com ideias socialista, e que depois sofreu uma atenuação que transformou Portugal não em uma ditadura totalitária de esquerda, mas em uma democracia muito eficiente, com ideias socialistas que entraram na corrente sanguínea das pessoas de uma maneira muito permanente. Meio de transporte, saneamento básico, saúde pública e etc são conquistas que o povo português não abre mão. Lá, a oscilação da democracia não agride a vida do povo como aqui.”

Glamurama: Você transferiu seu título de eleitor?
Pedro Cardoso:
“Sim. Transferi há pouco tempo. Agora vou até a embaixada de Portugal pra votar. Minha casa é lá.”

Glamurama: Caso o Luciano Huck venha a se eleger para presidente, ele teria seu voto?
Pedro Cardoso: “Prefiro não fazer comentários, pelo menos não agora. Não sei se artistas devem assumir uma posição política. Acho que o povo brasileiro deve votar pelo seu próprio critério.”

Glamurama: Você recebe convites para voltar à TV? 
Pedro Cardoso: “Não, não muito. Não fico procurando e não desejo voltar. Queria ter feito aquilo que eu queria – um programa sobre a amizade de um homem rico que vinha de fora e que passa a conhecer o Brasil pelos relatos dos empregados e acaba se transformando graças a esse convívio com os empregados. Ninguém quis, não encontrei nenhuma receptividade em nenhum emissora ou empresário investidor. Então não quero nada. Sou muito orgulhoso. A principio não estou procurando porque gosto de dar a vez. Acho bacana que outras pessoas também ocupem a frequência semanal que eu ocupei. O programa do Lázaro [Ramos], por exemplo, acho uma coisa boa. Assim como o “Porta dos Fundos” – acho maravilhoso. Queria ganhar o dinheiro, mas também dá pra viver sem.”

Glamurama: Você já tentou vender seu projeto na Europa?
Pedro Cardoso: “Não, porque me interessa contá-lo no Brasil.”

Glamurama: Atualmente, qual é seu vínculo com a Rede Globo? 
Pedro Cardoso: “Ela é detentora dos meus direitos autorais. Sempre terá de prestar satisfação a mim.”

Glamurama: O que você acha da TV que tem sido feita hoje em dia?
Pedro Cardoso: “Sempre tem coisa boa e coisa não tao boa. Minhas questões com a TV brasileira permanecerem inalteradas. Penso que a não regionalização é uma agressão à variedade cultural do Brasil. Importante uma TV em Fortaleza, Curitiba, e não meras repetidoras do que é produzido no Rio e São Paulo. Isso não gera riqueza para as outras partes do Brasil.”

Glamurama: Você se incomoda em ser reconhecido por Agostinho até hoje?
Pedro Cardoso: “Acho bacana, me dá alegria. Fazer “A Grande Família” foi trabalhoso como tudo, mas foi muito feliz. Só tenho boas lembranças. E a própria relação com a Globo foi positiva pra mim.”

Glamurama: Você ainda fala com o pessoal do elenco de “A Grande Família”?
Pedro Cardoso: “Não. Dou like no Instagram de todos eles, mas a vida de cada um tomou um rumo…”

 

 

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