Depois de um casamento tradicional e inesquecível, em São Paulo, Florinda Saade e Pedro Wickbold tiveram uma lua de mel um tanto… diferente. Deram uma pausa em suas atividades – ela trabalhava com merchandising no shopping Cidade Jardim e ele tinha acabado de vender sua importadora de relógios italianos – e tiraram um ano sabático para realizar um sonho: dar a volta ao mundo. Foram 37 países, 120 cidades, debaixo de sol e frio, entre nevascas e praias, onde acumularam muitas histórias para contar. De volta a São Paulo, o casal divide a experiência com Glamurama e dá algumas dicas para os casais que também têm a mesma vontade. Portas em automático!
PÉ NA ESTRADA
“A ideia surgiu em um café da manhã. Eu havia vendido a importadora que eu tinha fazia um mês e enquanto analisava alguns projetos, tive a vontade de viajar pelo mundo. Quando perguntei à Florinda se ela tinha curiosidade de passar um ano viajando, quase engasgou: ‘Sério, como assim? Com certeza, é o meu sonho!’ – foi a resposta imediata, meio que desacreditando ser verdade. Ela ficou de falar com a chefe para saber quando poderia ser liberada, já que estavam com coisas importantes em andamento. Voltou para casa naquele dia toda animada, em um mês poderíamos embarcar. Para não desistirmos da ideia, compramos uma passagem só de ida para Dubai, o lugar mais distante que poderíamos fazer em um único voo direto para chegar próximo à Ásia. Ali, meio sem saber, decretamos que a viagem aconteceria.”
A ARTE DE CONVIVER
“Já morávamos juntos há dois anos, mas a rotina era completamente diferente. Cada um trabalhava, chegava à noite e contava como havia sido o dia. Viajando não há respiro, são vinte e quatro horas por dia juntos. A principal lição que tivemos como casal é que a grande maioria das brigas não têm motivo algum, e suas resoluções demoram a acontecer porque somos orgulhosos. Isso é uma perda de tempo. Nas poucas vezes que discutíamos, um olhava para o outro e falava: ‘Estamos na Namíbia, quando voltaremos aqui? Vale a pena essa briga?’. E logo deixávamos de lado aquela discussão sem sentido. O mais importante é sempre ter paciência e se planejar para não ocorrer tantos contratempos. Perda de voo, sumiço dos documentos, tudo isso gera um stress desnecessário e acaba implicando na convivência harmoniosa que uma experiência dessas precisa ter.”
IMPACTO
“O mais impactante foi a Etiópia. Foram treze dias de norte a sul no país extremamente fechado e democraticamente instável, com experiências únicas. Dormimos em cima de um vulcão em atividade na fronteira com a Eritreia, escoltados pelo exército da ONU e pela polícia local – o lugar foi alvo de ataques do país vizinho em 2012, quando quatro cientistas foram mortos. Dormimos também a céu aberto na depressão de Danakal, cento e sessenta metros abaixo do nível do mar. O lugar, repleto de barracos, fica no meio do deserto, e o povo Afar que vive na região sobrevive da extração de sal, transportado por camelos até cidades que ficam a três dias de viagem. Nesse lugar, conhecemos crianças e famílias inteiras sem nenhuma estrutura médica e escolar, sob um calor de cinquenta graus durante todo o ano. Um lugar totalmente diferente e com um povo amável e atencioso que não deixou nos faltar nada, mesmo quando não tinham nada. Lindo. Ao sul, visitamos as tribos do vale do Omo, pessoas que vivem com tradições milenares e extremamente peculiares. Os Mursi, por exemplo, colocam pratos na boca e nas orelhas, praticam a poligamia e as crianças defendem a tribo de possíveis invasores com armas AK47. Surreal.”
LAR, DOCE LAR
“Em vinte dias viajando pela costa leste e pelas duas principais cidades, a Austrália nos encantou e com certeza seria o país escolhido para morar. Um povo simpático, praias lindas, comida saudável, um monte de gente fazendo esporte, contato com a natureza o tempo todo, segurança e transporte atendendo a população em todos os cantos. Nota dez, se um dia formos para fora por livre e espontânea vontade, o país dos cangurus seria nosso destino.”
ISLÂNDIA DOS SONHOS
“O lugar mais surpreendente foi a Islândia. Quando se pensa no país, parece que é muito distante, mas fica a apenas duas horas de Londres. Alugamos um motorhome, um carro-casa com cama, chuveiro, cozinha e armário, o que fez da viagem algo mais especial ainda. Durante nove dias rodamos o país inteiro e parecia que estávamos em um videogame, passando por diversas fases. Era sol, chuva, geleira, praia com areia preta, vegetação totalmente inóspita, cachoeiras, gêiseres, cavalos maravilhosos, ovelhas, vulcões, enfim, paisagens de tirar o fôlego a cada segundo. Outro lado bom de viajar com esse carro é que parávamos para fazer nosso almoço no meio de estradas vazias, dormíamos em campings ou até mesmo no meio do nada. Incrível! Se a felicidade é a trajetória e não o destino, a Islândia é felicidade pura, lá se dirige para não chegar.”
BALANÇO GERAL
“Sem dúvida a melhor experiência de nossas vidas. Aprendemos sobre cultura, religião, como viver de forma mais simples, como ser abertos para o mundo, para as pessoas. Aprendemos que 90% do mundo é composto por gente boa e que no fundo, todo mundo só quer ser feliz. As diferentes maneiras de chegar lá é que geram conflitos, principalmente pela ausência de comunicação. Aprendemos que a empatia é o principal segredo do processo. Enquanto não nos esforçarmos para entender que o processo de busca pela felicidade do outro é tão importante quanto o nosso, mesmo sendo completamente diferente, não nos tornamos mais completos e, consequentemente, mais felizes. O desafio que todo esse ano nos traz agora em diante é olhar a rotina com o olho puro e livre de um viajante.”
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