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Rita Wainer
A artista plástica Rita Wainer || Créditos: Miguel Sá/Divulgação

Rita Wainer foi pega de surpresa no meio deste ano, quando a cineasta Laís Bodansky, que até então só conhecia de vista, a convidou para atuar em seu novo filme. O projeto em questão era “Pedro”, longa estrelado – e produzido – por Cauã Reymond que expõe Dom Pedro I de um jeito diferente do que estamos acostumados a ver. O papel oferecido à artista plástica, que nunca havia atuado na vida, foi o de Domitila, a irreverente amante e grande paixão do primeiro imperador do Brasil.

Filha da também artista plástica Pinky Wainer, neta de Danusa Leão e do mítico jornalista Samuel Wainer, a paulistana, que atualmente vive no Rio, topou o desafio quando viu que poderia interpretá-lo em seu universo pessoal, como uma performance artística. Três meses depois estava nos sets de filmagem como atriz (por mais que renegue o termo) e, de quebra, contracenando com Cauã.”Domitila tem um papel importante no filme. Com Dom Pedro I forma um casal que foi muito apaixonado, apesar dele se relacionar com várias mulheres – teve 16 filhos, um deles com a irmã de Domitila, mas era ela, Domitila, a ‘mulher’ dele”, conta Rita ao Glamurama, satisfeita com sua atuação, mas com muita modéstia. Se ela considera a história de amor deles bonita? “Sim, sofrida, mas bonita, que pode ser interpretada de várias formas (eu, Cauã e Laís escolhemos vê-la de um jeito bonito, corajoso e sobrevivente). Existem encontros na vida que você não pode evitar e eles têm que ser vividos para serem resolvidos. Acredito que o amor deles era um desses.”

Cauã Reymond como Dom Pedro I no longa “Pedro” || Créditos: Reprodução Instagram

Rita, famosa por seus murais espalhados em cenários urbanos do eixo São Paulo – Rio, diz se identificou com personagem histórica. “Acho que eu seria a Domitila, de alguma forma. Me identifico com a coragem que ela tinha para a época . Ela teve um marido que a esfaqueou por ciúme, conseguiu se separar quando ainda não se falava nisso, foi amante do Dom Pedro, o que foi uma situação difícil também, se casou de novo e no final da vida criou uma entidade que cuidava de prostitutas. Uma mulher muito corajosa, que viveu um amor muito profundo com o imperador. Acredito nesse amor e a considero uma mulher muito interessante por todos esses motivos.”

O laboratório para se transformar na Marquesa de Santos foi tranquilo, ela conta. “Tive apoio absoluto de Laís e Cauã, então me senti muito segura. Nos divertimos e nos emocionamos muito durante as filmagens, foi tudo muito leve. A preparação foi basicamente entre nós, conversando e discutindo, até eles me deixarem segura para o papel, ciente de que estavam junto comigo.” E Rita soube jogar sua inexperiência no assunto a seu favor. “Como nunca tinha atuado, não tinha muitas travas, vícios, e com o apoio de toda equipe tudo fluiu. Foi um processo muito intuitivo.”

Sobre contracenar com um dos maiores galãs do momento, se derrete: “Cauã é maravilhoso! Tem sido um parceiro excelente desde o primeiro dia, só tenho coisas boas para falar dele. Um ator muito esforçado. Principalmente por eu não ser atriz. Me surpreendi muito com ele, não porque esperava outra coisa, mas porque não tinha pensado no assunto ‘Cauã’. Além de ter um coração gigante é um cara muito sensível nas questões profissionais e pessoais, e isso me deixou muito à vontade.”

O filme, que chega às telonas em 2019, deve mexer com muitos sentimentos, garante Rita: “Se eu fosse espectadora ia querer muito ver esse filme. É uma obra prima de Laís. Um longa de muita coragem, que ninguém espera e que vai surpreender em vários aspectos.”

Lais chegou a dizer que “Pedro” mostra “o projeto de Brasil que deu errado, que nos tornou o que somos hoje”, colocando-o como uma forma de “denúncia social”. “A gente não se tornou o que somos por causa dele, a gente só não evoluiu. Continuamos em 1800 no que diz respeito a questões como política e racismo, e o filme mostra um pouco isso. Tudo continua igual, só que com uma roupagem diferente. A ideia não é apontar o dedo, mas propor uma reflexão em que vamos perceber que estamos de ‘parabéns’, nada andou para frente, continuamos fazendo a mesma m$%#@, sendo escrotos e racistas, e as classes continuam sem se ajudar”, desabafa Rita. E essa clareza de pensamentos sobre questões políticas e sociais vem de berço. Sua família é repleta de ativistas e artistas. Como é fazer parte de uma família relevante como essa? “Não sei como é não fazer parte dela… É tão família quanto todas as outras. Temos uma participação politica ativa, nos preocupamos com questões humanas, aprendemos isso em casa. No nosso caso não teve briga no Whats App durante a campanha eleitoral deste ano e me orgulho disso, dessa empatia que temos em nos preocupar com o país.”

Cena de “Pedro”, novo filme de Laís Bodanzky || Créditos: Reprodução Instagram

Boa parte das cenas de Rita foram rodadas na fazenda Quinta da Boa Vista, em Minas, onde Dom Pedro I realmente viveu e onde mandou construir uma casa para Domitila a poucos metros da sua. “A casa de Domitila é maravilhosa. Não está restaurada – está ainda com as coisas deles -, com uma conservação média, no padrão Brasil de conservar as coisas”, lamenta a artista. Hoje, a locação é administrada por uma pequena equipe e não é aberta ao público.

Sobre o figurino do longa, ambientado no século XVIII, ela, que tem bastante intimidade com a moda – chegou a ter uma marca de roupas chamada Theodora -, comenta : “E impressionante! Feito com um material muito bom, com riqueza de modelagem e joias. Os cabelos estão muito bonitos também, toda a caracterização está incrível.”

Rita e seu mural em pleno Pier Mauá, no Rio // Reprodução Instagram

Existe alguma possibilidade de trocar seu ateliê e suas pinturas pelos sets de filmagem? “Não, obrigada”, garante Rita, que tem suas obras reconhecidas internacionalmente. Além de murais gigantes interferindo nas paisagens de São Paulo e Rio de Janeiro, seus trabalhos também podem ser vistos do outro lado do Atlântico, na França. “Não estou fazendo uma experiência, é uma performance artística. Não vejo como o início de uma carreira, mas como uma coisa pontual. Não saí do meu papel de artista.” Se embarcaria novamente em um projeto como este? “Não posso falar nunca…” O que ela pode garantir é que a imersão que teve na história do país vai repercutir em suas próximas pinturas. “A gente sempre sai diferente de um trabalho profundo como esse e isso com certeza vai repercutir na minha obra e na minha vida.” (Por Julia Moura)

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