O ato da independência não é sempre um evento grandioso e repleto de pompa, uma realidade que se cristaliza na cena emblemática do Grito da Independência do Brasil. Muitos imaginam Dom Pedro I montado em um majestoso cavalo quando proclamou “Independência ou Morte!”. Contudo, segundo alguns relatos históricos, o herói nacional estava, na verdade, montado em um burro. Tal imagem pode não soar gloriosa, mas destaca um ponto fundamental: a grandiosidade de um momento ímpar não está no cenário ou no animal que serviu de palco para o brado, mas sim no impacto gerado pelo ato em si. Assim como o burro ajudou Dom Pedro a romper amarras coloniais, a independência brasileira abriu portas para outras formas de autonomia, incluindo uma revolução silenciosa, mas profundamente significativa, no setor de energia renovável do país.
Enquanto o Brasil comemora mais um 7 de Setembro, poucos brasileiros devem saber que a independência do país de Portugal, em 1822, teve ramificações significativas que vão além além da política e da cultura. Uma dessas ramificações foi a liberação do comércio brasileiro, que antes estava fortemente centrado nas relações com a metrópole portuguesa. Essa abertura comercial proporcionou o terreno fértil para o país explorar suas abundantes fontes naturais de energias renováveis, principalmente hidráulica. E, não por acaso, temos excelentes números para provar isso: de acordo com o relatório de 2022 da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), cerca de 83% da energia corrente do Brasil hoje é produzida por fontes renováveis, majoritariamente hidrelétricas.
Mas não foi só a independência política que foi conquistada naquele 7 de Setembro. O Brasil também conquistou o direito de escolher seu próprio caminho em termos de políticas energéticas sustentáveis. O resultado é que o país emergiu como um dos líderes globais em energia limpa, um campo de atuação estratégico, como apontam projeções recentes da consultoria McKinsey, e até chamado por analistas internacionais de “Disneylândia” do setor sustentável na área de energia renovável, dado que temos todos os recursos essenciais nesse aspecto, como, vento e água. No contexto global, a adoção de energia renovável trouxe benefícios econômicos impressionantes.
Sediada em Abu Dhabi, a Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA, na sigla em inglês para International Renewable Energy Agency) informou em seu último balanço anual que a nova capacidade de energia renovável instalada em 2022 resultou em uma economia de pelo menos US$ 520 bilhões (R$ 2,6 trilhões) em custos de combustíveis. Outro dado positivo do levantamento foi o que indicou que 86% de toda a nova capacidade de energia renovável comissionada no ano teve custos inferiores em relação à geração termelétrica. Isso realça como primeiros passos estratégicos, incluindo aqueles dados há quase dois séculos, continuam a ressoar. Aqui, um parêntese: o órgão foi fundado em 2009 na capital dos Emirados Árabes Unidos como gesto simbólico pensado para evidenciar o crescente compromisso da nação que fica na península arábica, grande produtora de petróleo, com as energias renováveis.
Já no cenário nacional atual, o Brasil ostenta um perfil energético que se alinha com as tendências globais em energia renovável, aumentando as opções para investidores interessados no tema ESG (Ambiental, Social e Governança). Tais avanços e inovações não apenas reforçam o comprometimento do país com a sustentabilidade, mas também são um testamento da independência que nos permite forjar nosso próprio destino, seja ele globalmente relevante ou não. Voltando à analogia do começo, é preciso refletir sobre como momentos simples podem ter um impacto profundo. Assim como o grito de Dom Pedro I, montado em um humilde burro, foi suficiente para desencadear uma cadeia de eventos que levou à independência do Brasil, o ato aparentemente simples de priorizar fontes renováveis de energia está moldando um futuro mais sustentável para o país.
Detalhes como estes que podem ser esquecidos na vastidão da história, mas as mudanças que eles catalisam perduram. Portanto, o que realmente importa não é o animal em que você monta quando grita por independência, mas sim o eco duradouro que esse grito gera. O burrinho de Dom Pedro I, muitas vezes subestimado, na verdade carregou nas suas costas o futuro de um país que hoje lidera em sustentabilidade energética, e não o do imperador comumente descrito como tendo “um físico robusto e forte”. O esforço não valorizado do pobre animal está provando ser uma força motriz silenciosa mas impactante para um futuro melhor. Este é o tipo de independência que não só muda a história mas molda o futuro, provando que revoluções silenciosas podem, de fato, ser as mais poderosas.