Há exatos dez anos, foi criada a Campanha Janeiro Branco para chamar a atenção da sociedade sobre a importância dos cuidados com a saúde mental e emocional. Aproveitamos esse momento especial para tratar de um tema extremamente sensível: os transtornos mentais, como ansiedade e depressão, que afetam as pessoas que enfrentam o câncer. Para abordar esse assunto, conversamos com o médico Alexandre Palladino, da Oncologia D’Or, que falou sobre como as terapias integrativas – yoga, meditação e musicoterapia -, o apoio social e familiar, e as associações de pacientes contribuem para melhorar a saúde mental das pessoas com câncer, melhorando inclusive o resultado do tratamento e o prognóstico da doença.
Quais são os impactos do câncer para a saúde mental do paciente?
O câncer é uma doença cercada de estigma que afeta a saúde mental dos pacientes. Após o choque de receber o diagnóstico, o paciente começa a sentir ansiedade e angústia por causa do futuro incerto. Passada a fase inicial, entre 22% e 29% deles são tomados pela depressão, em graus que variam de acordo com o local do tumor, do estágio da doença, da dor e das limitações físicas, além da existência de suporte social.
O que são as terapias integrativas e por que são usadas no tratamento oncológico?
As terapias integrativas são técnicas que complementam os tratamentos tradicionais da medicina. Entre elas, estão a meditação, yoga, técnicas de respiração, musicoterapia e o relaxamento. Essas técnicas são alternativas não farmacológicas para tratar os transtornos psiquiátricos dos pacientes com câncer, tendo um impacto positivo não só na saúde mental da pessoa, mas também no resultado do tratamento e no prognóstico da doença.
Existe base científica para aplicar essas técnicas nos pacientes oncológicos?
Sim. Tanto que a Sociedade Americana de Oncologia Clínica e a Sociedade de Oncologia Integrativa estabeleceram diretrizes para a aplicação dessas terapias, tomando como base 110 estudos realizados entre 1990 e 2023, que englobam 30 revisões sistemáticas e 80 ensaios clínicos. Na Austrália, um estudo de revisão apontou que a prática do yoga teve efeitos significativos em pacientes oncológicos, aliviando a depressão e a ansiedade. Já a meditação melhorou o bem-estar emocional e reduziu estresse, angústia, depressão e ansiedade de pacientes com câncer, conforme demonstrado por uma revisão sistemática e meta-análise de 14 ensaios clínicos, envolvendo mais de 1.500 pessoas nos Estados Unidos.
Além dessas terapias, como é possível preservar a saúde mental da pessoa com câncer?
O diagnóstico do câncer provoca grande impacto no indivíduo porque deixa claro a finitude da vida, que é negada como um mecanismo de defesa. Por isso, a família e os amigos têm um papel fundamental para a pessoa enfrentar sua jornada contra a doença. Pesquisadores da Universidade de Málaga, na Espanha, estudaram 200 pessoas com câncer e constataram que o apoio emocional da família reduziu o estresse do paciente. A satisfação com o apoio emocional do parceiro, de amigos e familiares também aumentou a qualidade de vida dessas pessoas.
O que são as associações de pacientes e como podem agir em favor do paciente?
As associações de pacientes e familiares funcionam como comunidades formadas por pessoas que enfrentam experiências semelhantes. Elas realizam reuniões periódicas para trocar ideias e aprendizados. No Brasil, ainda existem poucos grupos deste tipo. Mas nos Estados Unidos, eles são inúmeros. As associações de pacientes são fundamentais para manter a saúde mental desses indivíduos. Situações que alteram a imagem podem desencadear a depressão, como a queda de cabelo causada pela quimioterapia ou a disfunção erétil provocada pelo tratamento hormonal no câncer de próstata. Nesses grupos, o paciente vai conviver com pessoas que passam pelos mesmos problemas e trocar experiências que poderão ser muito úteis na sua jornada contra o câncer.
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