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Liberdade
Reprodução/Pexels

Com o passar dos anos, nossos “ombros” começam a pesar cada vez mais. Não no sentido fisiológico, mas na questão que envolve o peso da liberdade de nossas escolhas que cresce à medida que tomamos consciência de que somos livres. Isso não é apenas um efeito social sobre a chegada da maioridade e está relacionado à consciência adquirida sobre si mesmo: você é livre e é justamente por ser livre que está preso.

Nessa coluna vamos falar de um dos maiores filósofos da contemporaneidade que aborda esse tema: Jean Paul Sartre, o protagonista do existencialismo do século 20. Sartre foi uma figura famosa, lutou na Segunda Guerra Mundial, foi preso em 1940 e levado para um campo de concentração, onde passou um ano. Além disso, foi ativista e militante político na Europa, romancista que sempre deixou explícito seus ideais existencialistas nos personagens e tramas. A obra acadêmica mais famosa de Sartre é “O ser e o nada”. Uma curiosidade que o liga ao nosso país, é que durante uma visita ao Brasil, em 1960, conheceu um terreiro de Candomblé e jogou búzios. Dizem que seu orixá era Obatala.

As ideias de Sartre são características das décadas de 1930, 40 e 50 marcadas por eventos históricos e guerras mundiais, o que faz o pensador refletir sobre uma questão central e evidente de sua época: o homem, a liberdade e as consequências de suas atitudes. A sentença é uma excelente introdução ao pensamento sartreano e evidentemente de sua autoria: “A existência precede a essência”. Mas o que isso significa?

1 – Primeiro que existimos para depois sermos;

2 – Primeiro viemos ao mundo para depois nos tornamos algo (escolha da profissão, por exemplo);

3 – Ninguém nasce determinado (a não ser pela marginalização da sociedade), como ruim ou mau, bandido ou “sujeito de alta periculosidade”, tampouco ninguém nasce genuinamente bom;

4 – Somos uma autoconstrução com extrema influência externa: o ser humano é igual ao projeto de uma casa, a cada decisão e atitude é como se colocasse mais um tijolo, uma telha ou cimento.

Isso nos ajuda a compreender que o ser humano é livre e por isso é aprisionado em sua liberdade, já que as consequências pesam no “ombro” todos os dias. Ser livre implica em ser responsável, o peso do dever é o que nos torna maduros para existirmos.

Por mais pessimista e denso que seja, Sartre nos coloca em reflexão a nós mesmos. Não temos a quem culpar a não ser nós mesmos, não conseguimos terceirizar nossas atitudes, nem ao menos nos ausentar de escolher, visto que a própria ausência da escolha já é uma escolha.

(*Audino Vilão, filósofo, cursa História na universidade e é youtuber – no insta @audinovilao e no Youtube)

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