Os incontáveis voos entre Kauai, no Havaí, e a Praia do Tombo, no Guarujá, onde vive Tatiana Weston-Webb, desmontam a teoria de que escritório de surfista é na praia. Estar entre as melhores da modalidade no mundo, dá a essa gaúcha de 26 anos muito trabalho e responsabilidade. “Agora que sou a única representante brasileira no circuito mundial, sinto mais a pressão. Os moleques estão arrebentando no lado masculino e eu quero arrebentar no lado feminino”, diz a vice-campeã do WSL (World Surf League) que está entre as cinco melhores do ranking mundial. “Quero ser inspiração para as mulheres brasileiras”, acrescenta Tatiana, que acredita em um futuro com cada vez mais garotas competindo ao seu lado.
Mas, em um esporte ainda dominado por homens, a surfista já enfrentou muito olhar torto em seu início. “O surfe era muito machista. Os caras não estavam acostumados a ver uma mulher pegando tubo, fazendo aéreo e essas coisas que eles fazem há anos”, relembra Tatiana. “Hoje vejo mais igualdade e respeito com as mulheres no surfe. Fico orgulhosa porque é uma luta de anos. Estou falando de uma geração de mulheres antes de mim que também lutou muito para que tivéssemos nosso espaço.”
Competindo pelo Brasil desde 2018, Tatiana antes disputava pelo Havaí. Isso porque, ainda bebê, aos 2 meses, seus pais haviam se mudado para lá e foi no arquipélago americano que ela descobriu sua vocação para o surfe, aos 8 anos. Só aos 22 passou a competir pelo Brasil, graças à dupla nacionalidade – ela nasceu em Porto Alegre. Não sem antes enfrentar certo estranhamento. “No começo foi um pouquinho de choque, mas todo mundo sabe que sou brasileira também. É um fato. Então, ninguém ficou assustado”, explica. “Foi uma escolha que tive que fazer. E, quando os moleques nos campeonatos descobriram, me apoiaram muito ao saber que eu estava representando o Brasil.”
Também foi no Brasil que “a mezzo gringa” encontrou o amor. Tatiana é noiva do também surfista Jessé Mendes. Hoje, ela disputa o CT (Championship Tour), enquanto ele participa do QS (Qualifying Series). “Somos atletas profissionais e há espírito competitivo na gente. Isso é bom porque um está sempre dando toques para o outro em questões profissionais”, revela ela que, para se comunicar melhor com o noivo – e a família dele – precisou aprender português. “Os pais do Jessé não falavam nada de inglês, então, pensei: ‘Bom, chegou a hora de aprender português para eu poder conversar com eles”. Só que eu não estudei oficialmente, só treinei de ouvido e quem me ajudou bastante com as palavras foram os amigos do Jessé.”
No berço do surfe
Uma das lembranças de infância de Tatiana é a de seu pai, o surfista inglês Doug Weston-Webb, a empurrando em uma prancha pelas ondas do Havaí. Foram nessas mesmas ondas, no berço do surfe, que aprendeu técnicas diferenciadas para enfrentar os tantos mares pelo mundo e se destacar. “Crescer no Havaí foi muito importante para o meu estilo de surfe. Lá tem tantos tipos de ondas que dão esse caminho aos surfistas profissionais. Tanto que alguns dos mais conhecidos do mundo, como Andy Irons, Malia Manuel e Bethany Hamilton, vieram de lá”, diz a vice-campeã mundial, que afirma que se adaptar em diferentes mares é uma de suas maiores qualidades no esporte.
“Às vezes você não tem a prancha certa ou não está muito confiante no dia. Por isso, acho muito importante os surfistas treinarem em várias ondas diferentes para conseguir se adaptar e não ter problemas na hora de competir”, aconselha ela, que treina cerca de quatro horas por dia dentro da água após fazer a preparação física com o comitê olímpico brasileiro.
De olho no ouro
Forte candidata a conquistar medalha de ouro na Olimpíada de 2024, em Paris, a esportista acabou retornando de mãos vazias da Olimpíada de Tóquio, em 2020. Porém, a derrota aumentou ainda mais a sede em buscar o ouro para o Brasil.
“Não deve ter nada melhor do que ganhar uma medalha de ouro na Olimpíada. Esse é o meu maior sonho e acho que tenho grandes chances de ganhar na próxima. Conquistar o título mundial também é um dos meus objetivos”, afirma Tatiana em tom otimista e agradecida por seu momento estar acontecendo. “É claro que temos derrotas e obstáculos na vida, mas eu não mudaria nada na minha”, finaliza.
A matéria faz parte da nova edição da Revista Poder.
- Neste artigo:
- Havaí,
- Olimpiada,
- revista poder,
- Surfe,
- Tatiana Weston-Webb,