Vencedora do Carnaval do Rio de Janeiro, a Grande Rio levou uma vitória muito além da premiação e honra do desfile: uma vitória para o povo de axé também. O enredo que buscou desmistificar Exu de maneira artística e com muita beleza (arquétipos que fazem parte de sua própria essência), foi com certeza uma das ações mais educativas para a desconstrução da imagem distorcida que se tem da entidade no brasil.
Consequentemente, a internet começou a se perguntar: quem ou o que é Exu? Primeiro de tudo precisamos entender a diferença que existe entre dois seres diferentes: Esú e Exu.
Esú é um Deus, é a divindade cultuada no panteão mitológico yorubá, tal qual como Zeus entre os helenos e Odin pelos vikings. Esú é alegre, sempre com sorriso no rosto e muito brincalhão, é o bom humor em essência. Ele é sem dúvida uma das divindades mais importantes do panteão yorubá, pois é responsável da comunicação entre o nosso mundo (aiyê) com o céu (orún). É ele quem leva os pedidos e orações feitas aqui no aiyê para os orixás no orún, ou seja, sem sua ajuda nada é possível. Existem vários nomes de Esú, Esú inã, Esú Odará, Esú Alaketu etc.
Exu é um espírito de uma pessoa que já se foi, mas que volta para auxiliar aqueles que precisam. Exu assume arquétipos do Deus Esú, rege as encruzilhadas e outros pontos de força, trabalha com descarrego e abertura de caminhos. É uma entidade brasileira que se manifesta em diversas religiões como umbanda, candomblé, quimbanda, batuques etc.
Existem também as pombagiras, que são espíritos de mulheres que vêm com os mesmos arquétipos de Exu. Existem vários nomes de “falanges” diferentes dessas entidades, como Tranca Rua, Marabô, Tiriri, Sete Encruzilhada, Maria Padilha, Maria Mulambo, Maria Quitéria, Sete Saias, entre muitos outros e nenhum espírito é igual ao outro – podem ter o mesmo nome, mas são espíritos diferentes (pois eram pessoas diferentes que viveram).
E afinal, por que sincretizaram Esú (e consequentemente Exu) como o diabo? Existem muitas hipóteses de como surgiu essa ligação preconceituosa e anacrônica. Uma delas diz respeito aos primeiros contatos dos europeus com os yorubás, quando viram a representações de Esú e seu ojubó (assentamento) com sacrifícios e, pasmem, seu ogó (objeto em formato de falo que simboliza a natureza sexual de Esú), associaram imediatamente Esú como uma figura satânica e depravada. Na realidade, Esú tem a essência sexual intrínseca à sua natureza não por perversidade, mas por abençoar com fertilidade, o movimento de se criar uma nova vida.
É chocante também pensarmos que o termo “mavambo” é associado a bandido, sujeito periculoso, fora da lei etc. Na verdade, Mavambo é uma divindade Bantu que tem semelhanças muito grandes com Esú, vulgarmente comparado como sendo “O Esú do candomblé de Angola”. A associação das divindades africanas com esse arquétipo está coberta de preconceito e distorção mitológica.
Esú não é mal, Exu não é mal. Esú não se opõe como antagonista do criador do universo (Olodumare), como o diabo faz. Esú é quem dá ordem ao caos, Esú não busca corromper o ser humano, mas sim colaborar com o ser humano para que a vida humana seja melhor vivida através de conselhos e direcionamentos, de oráculos. Esú não quer o fim do mundo, quer ver a alegria do ser humano.
Um enaltecimento ao ator Emerson D’Álvaro, que perfeitamente encenou Esú de maneira artística e muito bela!
Gostou? Assista o vídeo a seguir para mais!
- Neste artigo:
- Audino Vilão,
- Carnaval,
- Grande Rio,
- Religião,