Essa semana, em 5 de junho, foi celebrado o Dia Mundial do Meio Ambiente. A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1972, e chamar a atenção da sociedade e dos governos para as limitações dos recursos naturais que, até então eram considerados inesgotáveis, estava entre os objetivos da criação dessa data.
Tendo em vista o acentuado e crescentes problemas ambientais pelos quais o Planeta vem passando, é importante que diversos pontos sejam revistos e, de fato, absorvidos por todos como diminuir o consumo desenfreado, descarte inadequado do lixo e a não reciclagem, o desmatamento, as queimadas, o uso inconsciente dos recursos naturais como a água, e por aí vai. São tantos os problemas a serem solucionados que para continuarmos a ter as formas de vida como conhecemos hoje, é urgentemente importante mudar nosso modo de consumo.
E, na luta pela conscientização para um Planeta melhor e saudável para todos, muitos artistas dedicam suas criações para apontar atos falhos e fazer criticas na tentativa de conscientizar sobre a urgência por tais mudanças. São artistas ativistas ambientais que usam a arte como ferramenta e falam, por meio de suas expressões artísticas, sobre as ações, problemas e consequências, afinal, se seguirmos destruindo o que ainda hoje há, não haverá Planeta para mais ninguém.
Bordalo II
Artur Bordalo, mais conhecido como Bordalo II ou Bordalo Segundo, nascido em Lisboa em 1987, é um grafiteiro e artista plástico português. Neto do pintor Artur Real Chaves Bordalo da Silva, conhecido como Real Bordalo, tem as artes em seu DNA. Sua produção em esculturas começou ao formar-se na Faculdade de Belas Artes de Lisboa, onde a experimentação com novos materiais o afastou da pintura e o aproximaram de sua produção atual. O espaço público é palco para suas criações e ativismo e, é por meio do lixo e objetos descartados onde encontrou a força para sua produção. Plástico, metal e materiais eletrônicos, são a matéria-prima necessária para a criação de peças tridimensionais referenciando animais e a natureza, num viés político e social de crítica ao consumo predatório e as práticas de desmonte de proteção ambiental. Em março de 2023, o artista teve uma individual na Usina Luis Maluf em São Paulo.
Eduardo Srur
Eduardo Srur, paulistano de 1974, estudou na Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) onde teve aulas com o artista Nelson Leirner e o fotógrafo Eduardo Brandão. O artista iniciou sua carreira com pintura nos anos 1990 e hoje é mundialmente conhecido por seu ativismo e por desenvolver instalações, principalmente urbanas, com novos materiais e diferentes linguagens visuais. Apropriando-se de pontes, rios poluídos, terrenos baldios, parques públicos, represas e viadutos, realiza uma série de intervenções em grande escala na cidade. Suas obras se utilizam desses espaços para chamar a atenção para questões ambientais e para o cotidiano nas metrópoles, sempre com o objetivo de ampliar a presença da arte na sociedade e aproximá-la da vida das pessoas. Srur é um artista independente e trabalha em seu ateliê, em São Paulo, onde constituiu acervo pessoal ao longo da carreira que inclui séries de pinturas, esculturas, múltiplos, fotografias, aquarelas e gravuras.
Frans Krajcberg
O poderoso trabalho de ativismo do artista Frans Krajcberg (1921 – 2017) lhe rendeu inúmeros prêmios em importantes feiras como na Bienal de Veneza, na Bienal Internacional de São Paulo e no Salão de Arte Moderna. Nascido em 1921, na cidade de Kozienice, Polônia, em 1921, o artista perdeu toda sua família durante o holocausto e, nos quatro anos que passou na guerra, Krajcberg se defrontou com a face mais obscura do ser humano: a violência. Após toda essa barbaridade, encontrou refúgio na beleza das formas da natureza e se radicou no Brasil, em 1948. Desde sempre, o artista transformou sua arte em um ‘grito’ de repúdio no qual troncos e galhos calcinados, provenientes das queimadas e do desmatamento, traduziam sua revolta pelo descaso. Por isso, suas obras trazem referências nas cores vermelho e preto, representando fogo e morte. Em maio de 2017, a Galeria Frente, em São Paulo, organizou uma mostra individual com suas obras. Uma grande homenagem com o artista ainda vivo, que veio a falecer em novembro daquele mesmo ano.
Gervane de Paula
Gervane de Paula nasceu em 1961, em Cuiabá, capital de Mato Grosso, onde atualmente reside e trabalha. O artista que é pintor e curador, tem em sua obra uma importante e forte relação com os ecossistemas da região em que vive. O cerrado, a floresta e o pantanal são objetos de reflexão para sua produção, baseada em diferentes linguagens. Foi integrante da mostra “Como vai você, Geração 80?”, um marco no cenário das artes no país que aconteceu no Parque Lage no Jardim Botânico, Rio de Janeiro, em 1984 e, hoje, tem em seu currículo dezenas de obras que retratam cenas de pesca e do cotidiano, mas também são frenquentes a crônica policial, os desmatamentos e as queimadas que assolam sua terra natal, maltratando e destruindo flora e fauna. O artista está com exposição em exibição na Pinacoteca de São Paulo até 1 de setembro de 2024.
Mundano
Paulistano nascido em 1986, Mundano é um artista ativista. O meio ambiente e sua preservação, assim como os direitos humanos universais permeiam suas criações. É por meio do graffiti, com humor inteligente e muita tinta colorida, que sua arte é reconhecida mundialmente. No que denomina ARTivismo, usa o processo artístico como instrumento para chamar a atenção para questões sociais e ambientais nas quais temas como as desigualdades econômicas e o descaso tanto da sociedade quanto das autoridades em relação ao meio ambiente, são combustíveis para o que pretende: ‘ocupar’ a cidade, impactar o tecido social e gerar transformações.
Néle Azevedo
Artista e pesquisadora independente, a mineira de Santos Dumont nasceu em 1950 e hoje vive e trabalha em São Paulo. Formada em artes plásticas pela Santa Marcelina e com mestrado em artes visuais na UNESP, Néle se projetou internacionalmente e já teve trabalhos exibidos em diversos lugares mundo afora, entre os quais Paris, Havana, Berlim, Portugal, Japão e outros. Uma de suas obras que lhe rendeu grande reconhecimento, foi “Monumento Mínimo” no qual numa escala mínima, centenas de bonequinhos de gelo são expostos com o objetivo de abordar assuntos urgentes que ameaçam a existência da humanidade. Nessa obra, é clara a referência aos efeitos das mudanças climáticas, diretamente ligado ao aquecimento global, já que ao serem expostos, os bonequinhos derretem e, obviamente, deixam de existir.
Pedro Motta
Mineiro de Belo Horizonte, Pedro Motta é graduado em desenho pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O fotógrafo tem a pesquisa entre a relação da cidade com o indivíduo no início de suas atividades artísticas, mas interessou-se rapidamente pelas questões ambientais e o conflito entre cultura e natureza. Essa linha tênue entre a relação dos elementos naturais e o comportamento humano, que englobam divergências e convergências, lhe deu reconhecimento internacional e hoje seus trabalhos integram acervos de instituições como MAM-SP, MAM-RJ, MAM-BA, MASP, Sesc-SP, MAR-RJ, Museu Coleção Berardo (Lisboa), Centro de Fotografia de La Intendência de Montevideo, Musée d’Art Modern et Contemporain, Liége, Bélgica e Itaú Cultural.
Sebastião Salgado
Um dos maiores nomes da fotografia documental, Sebastião Salgado é referência unânime quando o assunto é injustiça contra dignidade humana e descaso com a natureza. O fotojornalista brasileiro já viajou por mais de 120 países para seus projetos fotográficos conhecidos por capturar imagens impactantes que retratam questões sociais, econômicas e ambientais em todo o mundo. É por meio dessas obras documentais, com trabalhos inteiramente em preto e branco, que as fotografias de Salgado já percorreram o mundo em exposições históricas e memoráveis e lhe renderam inúmeros prêmios e livros. Mas, a luta desse profissional em defesa do meio ambiente não ficou apenas nos cliques. Junto com sua esposa, Lélia Salgado, o artista plantou mais de 290 espécies de árvores, recuperando 1.500 acres de terra na região de Aimorés, em Minas Gerais, e recuperou ao longo de 20 anos diversas nascentes de rios, e trouxe de volta fauna e flora ao local, outrora devastado.
Thiago Cóstackz
Artista plástico multimídia, documentarista, ativista Ambiental. Este é Thiago Cóstackz. Incansável e humanista convicto, o artista esteve envolvido em mais de 50 ações pelo Brasil, nos últimos 10 anos, e em países como: Rússia, Islândia, Holanda, EUA, Inglaterra, Groenlândia e Itália, além de realizar intervenções em lugares como o Oceano Glacial Ártico, Atlântico Sul, Caatinga e Florestas tropicais. Sua primeira expedição artístico-científica, em 2013, no qual percorreu 62 mil quilômetros, instalando obras que faziam conexão com problemas ambientais em dez lugares ameaçados no globo terrestre, deu origem ao seu primeiro livro e filme, no qual atuou com diretor geral e roteirista. “Caminhando sobre a Terra” é um documentário de 1h17minutos que começa contando uma breve história que parte da formação da Terra até a chegada do homem e seu impacto, que mudou para sempre nosso Planeta.
Vik Muniz
Vicente José de Oliveira Muniz cujo nome artístico é Vik Muniz, é um artista plástico brasileiro radicado nos Estados Unidos. Bastante conhecido por usar materiais inusitados na criação de seus trabalhos com açúcar, chocolate e materiais descartados, o processo do artista consiste em criar imagens com tais produtos e substâncias sobre uma superfície e fotografá-las. Além da pintura, Vik faz esculturas e tem a sustentabilidade como uma de suas ‘marcas registradas’. Seu trabalho com lixo, ou materiais descartados, gerou o documentário “Lixo extraordinário” em que apresenta suas criações e sua relação com uma comunidade próxima de um aterro sanitário no Rio de Janeiro. Nesse trabalho, o artista cria um contraste com o lixo e a arte, em um paralelo do que é valioso e o que descartável. É uma forma de trabalho que vai ao encontro de projetos que envolvem uma certa restauração local, na busca por estimular respeito e mudanças estruturais a longo prazo.