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Foto Freepik

Esses dias, me peguei refletindo sobre tudo aquilo que chamamos de “favorito”: nossa cor favorita, nosso lugar favorito, nossa comida favorita. Às vezes, algumas dessas preferências parecem durar uma vida inteira, mas a verdade é que elas, inevitavelmente, mudam. E é nesse movimento de mudança que comecei a perceber algo essencial: o “para sempre” que tanto valorizamos raramente existe.

Eu mesma sempre fui apegada ao “para sempre”. A ideia de que algo pudesse durar eternamente, às vezes, me confortava. A gente jura que certas coisas são eternas, até sermos confrontados pelas finitudes escancaradas da vida. Lembro que, anos atrás, quando assisti à série “Todas as Mulheres do Mundo”, o personagem de Emilio Dantas pede para a personagem de Sophie Charlotte prometer que nunca mais terá um amor que não seja ele. E ela simplesmente responde que não, porque “não gosta de juramentos eternos”. Eu, muito defensora do “para sempre”, na época fiquei indignadíssima.

Esses dias também lembrei de uma amiga que, sempre que visita um lugar muito bonito, especialmente um ponto turístico famoso, sente medo de se virar e esquecer como foi viver aquele momento. Ela diz que vai se afastando devagar, sem conseguir tirar os olhos, desejando que aquele momento dure para sempre. Mas, fato é que “o para sempre, sempre acaba.”

Essa frase parece dura, mas não precisa ser. Porque o fim do “para sempre” abre espaço para algo igualmente poderoso: o poder de ressignificar. Recentemente, visitei dois lugares onde já havia estado antes com meu pai. A primeira coisa que pensei foi:

Foi um pensamento melancólico, mas ali mesmo, naquela nostalgia, encontrei o conforto de ressignificar. Em uma das cidades, fiz minha primeira viagem sozinha; na outra, fui com duas das minhas melhores amigas. Eu acreditava que teria meu pai aqui para sempre, e sim, seria muito melhor se fosse assim. Mas, surpreendentemente, essas novas experiências me preencheram de uma forma diferente, e percebi que a ausência do “para sempre” não é sempre algo ruim.

A ausência do “para sempre” nos permite ter a curiosidade do que ainda está por vir. Antes de vir para Paris, fiquei imaginando quais seriam minhas novas coisas favoritas: meu café favorito, meu item favorito do mercado, minha livraria favorita. Minha melhor amiga do mestrado, por exemplo, desenvolveu um apego inexplicável por um simples sanduíche de ovo que ela comprava na boulangerie em frente à faculdade. Até hoje, ela volta lá no horário de almoço do trabalho só para procurar o sanduíche. Eu, que nunca fui fã de chá gelado, hoje não passo uma semana sem comprar o meu favorito. Meus filmes preferidos sempre foram as comédias românticas mais bobas e irreais, mas este ano, o filme que mais me tocou foi uma história sobre um amor maduro e talvez pouco romântico.

Descobrir nossas coisas favoritas, entender que elas podem se tornar datadas, faz parte da vida. E talvez o verdadeiro encanto esteja em não saber qual será a próxima coisa a entrar na nossa lista de favoritos. No fim, o “para sempre” é uma ilusão confortável, mas a verdadeira magia da vida está em aceitar que tudo muda e, com isso, temos a chance de reinventar o que faz sentido para nós. E assim, cada momento, mesmo os que não duram para sempre, torna-se um pedacinho de eternidade em constante transformação.

Como Vinícius de Moraes bem disse: “Que não seja imortal, posto que é chama, Mas que seja infinito enquanto dure.”

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