Na nova edição da revista PODER, o filósofo francês Luc Ferry, colunista do jornal “Le Figaro” e autor de mais de 70 livros, como o best-seller “Aprender a Viver”, “7 Maneiras de Ser Feliz” e “Les Sept Écologies” – sua obra mais recente que ainda não foi publicada no Brasil -, participa da sessão “3 Perguntas Para…”, na coluna de Joyce Pascowitch; confira:
Você defende o ecomodernismo, uma das correntes filosóficas da ecologia na atualidade que se baseia em dois pilares – a regeneração e a economia circular – para salvar o planeta. Por que esse movimento é tão importante?
O reformismo, que está presente nas Conferências das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas (COPs) não está à altura do problema atual. Evitar pegar avião para curtas distâncias, por exemplo, não resolve os efeitos do aquecimento global, a poluição marítima e a perda da biodiversidade. Isso é apenas um milésimo da questão. Assim como a evolução dos carros elétricos também não. A extração de terras raras, usadas na produção desses veículos, é uma das atividades mais poluentes. Além disso, não sabemos reciclar baterias e íons de lítio, que são poluentes. Estamos nos deixando levar por soluções falsas. O ecomodernismo, defendido nos Estados Unidos, tem algumas ideias geniais, como a dissociação entre cidade e natureza. Na prática, somos 4 bilhões de pessoas vivendo em 3% do território do planeta. Se nos contentarmos com 10%, poderemos usar os 90% restantes para fazer uma reserva de natureza selvagem que pode absorver os gases de efeito estufa e recriar biodiversidade e biomassa.
Como impulsionar esse movimento?
O principal papel é o dos governantes, que devem criar políticas públicas. Mas não que impõem o decrescimento, a exemplo de ações defendidas por teóricos da área, como “precisamos dividir o salário das pessoas por três”. Isso só geraria revolta. Se eu fosse presidente, criaria uma dezena de reservas naturais na França, por exemplo. É algo fácil de fazer e que agradaria à população. Outro ponto é incentivar (e conscientizar) os empresários sobre a reciclagem, já que as companhias são as que mais poluem.
E qual o papel das pessoas no ecomodernismo?
De um lado, é importante educar os empresários sobre economia circular. De outro, lembrar as pessoas que a reciclagem também é responsabilidade delas e uma atividade individual. Na Alemanha e na Suíça, quem não recicla o lixo é considerado criminoso. Isso é urgente. A poluição marítima está em vias de se tornar irreversível, e precisamos dos oceanos para viver. Se continuarmos poluindo haverá uma catástrofe global.
*Leia mais na edição de outubro da revista Poder, já nas bancas.
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