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foto: Freepik

“Todos os dias, quando acordo, não tenho mais o tempo que passou.” Nos últimos anos de vida, meu pai acordava a gente quase todos os dias com essa música na caixa de som. Mas a parte preferida dele era quando dizia: “Temos muito tempo, temos todo o tempo do mundo.”

Hoje, 15 de dezembro, acordei pensando nele e nessa música, porque é mais um dia de apagar as velinhas na minha vida. Inevitavelmente, faço um balanço de como foi a jornada do ano que passou. Infelizmente, não temos todo o tempo do mundo, mas temos sim muito tempo. Como disse Luis Fernando Verissimo: “A gente não faz aniversários. Os aniversários é que vão fazendo a gente. E depois, pouco a pouco, nos desfazendo.”

O “se desfazendo,” por mais negativo que pareça, hoje me remete a algo bom. A gente vai se desfazendo de certas tristezas, de certas dores, de certas relações que não nos cabem mais, de certas imaturidades e assim por diante.

Cada aniversário é uma página virada, uma chance de olhar para trás e para frente, de reconhecer as cicatrizes que acumulei ao longo do caminho e as estrelas que ainda brilham distantes no horizonte.

Por muito tempo após a perda do meu pai, acreditei fortemente que nunca seria genuinamente feliz novamente. Me parecia impossível reconstruir a vida depois de uma perda tão grande. Mas, como minha mãe sempre me ensinou: o impossível é o difícil que se desiste. Ter fé, seja no que for, nos ajuda muito a caminhar pra frente e acreditar que o melhor está sempre por vir.

E por mais que tenha demorado, descobri que a vida é curta demais pra a gente não sair dessa. Hoje, posso dizer que nunca me senti tão feliz e realizada.

Queria poder contar para a Julia de quase 3 anos atrás que ia ficar tudo bem. Queria poder garantir pra ela que, apesar de longo, o caminho ia chegar exatamente no destino que ela sempre sonhou.

Esses dias, tentando explicar que apesar do luto não acabar, eu finalmente conseguia me sentir feliz de novo, escutei: “Ju, acontece que agora você não é mais a sua dor, agora você só tem a sua dor em algum lugar aí dentro.” E é exatamente isso. Acho que hoje sou felicidade, ainda que com uma dor aqui dentro; agora a dor não me impede mais de viver tudo que eu sonho.

Inclusive, gosto bem mais da Julia que sou hoje. Cheia de cicatrizes, mas cheia de vontade de viver.

Esses dias vi alguém dizendo que “toda vez que choveu, parou.” Minha gratidão eterna às pessoas que estiveram ao meu lado dia e noite enquanto a tempestade passava, para que o sol finalmente pudesse chegar.

Meus pais me ensinaram a ser perdidamente apaixonada pela vida. E que bom que é às vezes perder certas paixões para depois reencontrá-las. Te recomendo ir atrás dessa em especial: a paixão por estarmos aqui vivos.

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