Estou há meses ensaiando escrever algo relacionado ao filme “Past Lives”. É um filme que aborda tantas questões que me atravessam, que é difícil escolher uma só. O tema mais óbvio que eu li nas resenhas da internet é o amor real versus o amor que poderia ter sido. Mas, para mim, foi bem além disso.
Para mim, diz muito mais sobre escolhas, e principalmente sobre qual escolha parece fazer mais sentido em cada momento da nossa vida. Conversando com uma amiga sobre esse tema, ela disse: “acho que nossas escolhas não são necessariamente sobre o quanto a gente ganha, mas sobre o quanto a gente não perde. É sobre aquilo que a gente sabe que não aguenta perder.”
Não poderia concordar mais. Não à toa, certas escolhas são muito mais fáceis quando ainda somos jovens. Falando de uma perspectiva pessoal, boa parte da minha escolha em vir morar fora foi baseada no fato de que cada vez ficaria mais difícil de deixar o que tenho no Brasil. Talvez quando já tivesse uma carreira consolidada, uma casa própria, casamento, filhos, e por aí vai.
Mas, a verdade é que sustentar uma decisão é tão difícil quanto decidir. No filme, quando a Nora se despede do Hae Sung e vai chorar no colo do marido, ela deixa transparecer a complexidade de manter vivas as escolhas que fazemos, mesmo quando elas nos custam algo que valorizamos.
O processo de escolha, com renúncias e ganhos, se reflete nas narrativas que escolhemos viver ou deixar para trás. “Past Lives” nos convida a pensar sobre o peso das escolhas não apenas nas trajetórias que seguimos, mas também nas que decidimos abandonar. Em uma das resenhas que li, Ana Luísa Soares pontuou certeiramente a frase de Fernando Sabino: “o diabo desta vida é que entre cem caminhos temos que escolher apenas um, e viver com a nostalgia dos outros noventa e nove”.
Então, em alguma medida, o filme se torna um espelho de nossas próprias vidas, onde cada decisão, cada caminho escolhido, carrega consigo a sombra do que poderia ter sido. Por isso, depois de assistir, não pude deixar de pensar nas escolhas que moldaram minha própria jornada. Escolher morar longe de casa, por exemplo, não foi apenas uma decisão sobre onde viver, mas também sobre quais aspectos da minha vida eu estava disposta a sacrificar por um sonho.
E, à medida que envelhecemos, essas escolhas se tornam cada vez mais complexas, carregadas de mais significados e, potencialmente, de mais perdas. No fim, “Past Lives” e a conversa com a minha amiga me lembram que viver é navegar num mar de escolhas, onde cada onda nos leva a novos caminhos, e cada escolha define um pouco mais da nossa história.
Em uma conversa com a minha psicóloga sobre o tema, ela me disse: “você está descobrindo que dá para ser feliz mesmo suportando algumas faltas”. Então, talvez, a beleza dessa vida esteja justamente nessa complexidade e na capacidade de encontrar alegria e significado, mesmo quando confrontados com o peso das escolhas que fazemos. Afinal, como disse Antonio Bispo dos Santos: “Quem nunca passou por uma encruzilhada não sabe escolher caminhos”.
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