Viajar para o exterior de jatinho deixou de ser um luxo somente para as pessoas que podem pagar por tal exclusividade. Em apenas alguns dias, seus cães também poderão desfrutar do mesmo privilégio e sofisticação a bordo. Fundada em meados de 2022 pelo casal britânico Kirsty e Adam Golder, a empresa de fretamento de aviões executivos K9 Jets foi criada para oferecer esse serviço inédito em seu segmento. O primeiro voo internacional para a Europa da K9 – um homófono da palavra inglesa ‘canine’, ou canino – partirá do Aeroporto Internacional Al Maktoum, em Dubai, com destino a Farnborough, a cerca de uma hora e meia de Londres, no Reino Unido, no próximo dia 26. Esgotadas em poucos dias, as passagens incluem, cada uma, algo como um ‘cercadinho’ exclusivo do cão e um assento, um pouco menor, para ‘o humano’ do animal. O preço? Aproximadamente US$ 10 mil (R$ 48,7 mil) – e só a de ida, claro. Desde que entrou em operação nos Emirados Árabes Unidos, a K9 transportou mais de 220 pets e seus donos felizes em voos pelo golfo Pérsico.
E parece ser um negócio que surgiu na hora certa. De acordo com a International Pet and Transport Association (IPATA), mais de quatro milhões de pets são transportados anualmente por via aérea, e esse número está crescendo globalmente. O mercado de luxo para animais de estimação está em franca expansão, e os números falam por si. No Reino Unido, os donos de pets gastam quase US$ 700 (R$ 3,4 mil) por ano em itens de luxo para seus amigos peludos, desde roupas de grife até camas luxuosas e petiscos gourmet, de acordo com dados da consultoria financeira britânica MoneySuperMarket. Nos Estados Unidos, os gastos com animais de estimação chegaram a impressionantes US$ 136,8 bilhões (R$ 666,2 bilhões) no ano passado, um aumento de quase 11% em relação a 2021, segundo a American Pet Products Association (APPA). Desse valor, US$ 58,1 bilhões (R$ 282,9 bilhões) foram gastos apenas em alimentos e petiscos para animais.
Esse crescimento não é apenas um capricho. Katja Schell, proprietária da boutique de luxo para cães Eric & Dolly’s, de Norfolk, e considerada a mais ‘chique’ da Inglaterra, disse recentemente à Forbes americana: “As pessoas gostam de mimar seus cães porque isso as faz se sentir melhor. Muitos clientes compram apenas um pequeno presente para seu cão e isso já lhes traz muito prazer”. A pandemia de COVID-19 também desempenhou um papel significativo. Com mais pessoas adotando animais de estimação, a demanda por produtos de luxo para pets disparou.
Maisons europeias como Gucci, Céline e Moncler também entraram na onda, lançando suas próprias linhas para pets, um nicho que as permite abusar das margens de lucros e ainda fidelizar os clientes humanos. Até mesmo as indústrias de marketing e publicidade começaram a prestar mais atenção nos amigos de quatro patas, que enxergam como uma possível opção para um futuro próximo que deve virar do avesso suas narrativas e técnicas mais usadas até hoje. Sem falar no mundo das artes, que parece ter descoberto neles uma forma de atrair públicos novos – a exposição ‘Fashionable Dogs’, atualmente em cartaz em Nova York, é prova disso.
Esse crescimento no mercado de luxo para pets revela mais do que simples indulgência; representa uma mudança significativa na forma como a sociedade valoriza seus animais de estimação. É uma transformação que transcende modas passageiras, influenciada em parte pela pandemia, mas também pelo afeto crescente que sentimos por nossos amigos peludos. Com a continuidade dessa humanização, o mercado não mostra sinais de desaceleração. A K9 Jets já sinaliza essa globalização da tendência ao anunciar planos de lançar rotas de voos para a América do Sul no próximo ano.
