É para pouquíssimos ser escolhido para comandar Kew Gardens, em Londres, um dos mais célebres jardins botânicos do mundo, que é considerado patrimônio da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Foi o biólogo paulista Alexandre Antonelli, de 43 anos, quem assumiu essa missão. Desde 2019, ele é o diretor científico e está à frente da área de pesquisas de Kew Gardens, que foi fundado em 1759 e reúne nada menos do que 27 mil espécies vegetais.
Com uma formação robusta e um currículo que inclui experiências em alguns países europeus, Antonelli chamou a atenção dos ingleses. Em 1996, aos 20 anos, ele trancou a faculdade de biologia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e colocou uma mochila nas costas para viajar pelo mundo. Para se manter, fazia bicos aqui e ali como intérprete, garçom e programador de computação e, em uma dessas vezes, quando trabalhava como instrutor de mergulho em Honduras, conheceu Anna, uma sueca que viria a ser sua esposa.
Algum tempo depois, os dois se mudaram para a Suécia, tiveram três filhos e, em 2001, Antonelli retomou os estudos. Dessa vez, como aluno da prestigiada Universidade de Gotemburgo, da qual só saiu em 2008 com um doutorado em evolução e biodiversidade. Depois disso, tornou-se curador do Jardim Botânico de Gotemburgo, o maior da Escandinávia. Mais cinco anos e ele se tornou professor de biodiversidade na universidade que lhe deu o título de doutor, cargo que ocupa até hoje e, em 2017, criou o Centro de Biodiversidade Global de Gotemburgo, que atualmente conta com 10 milhões de exemplares de animais e de plantas.
Entre as várias atribuições de Antonelli em Kew Gardens está a de controlar um herbário internacionalmente reconhecido por conta de suas mais de 8,5 milhões de plantas e de fungos preservados, além de outros 750 livros e 175 mil ilustrações. Sem falar que Kew Gardens é um dos pontos turísticos mais populares de Londres e, todo ano, recebe quase 1,4 milhão de visitantes. Controlado pelo Royal Botanic Gardens, instituição sem ligação com o governo britânico patrocinada pelo Ministério do Meio Am-biente do Reino Unido e mantido como braço simbólico da coroa, o Kew Gardens, além do provenance real, tem reconhecimento técnico e dispõe de um orçamento anual 65,6 milhões de libras.
Matéria da nova edição da Revista Poder.