Em 20 de setembro, muitos fashionistas aguardavam ansiosamente o lançamento de “The Super Models”, docusérie da Apple TV+ que prometia uma viagem nostálgica pela ‘Era das Supermodelos’, tendo como guias Cindy Crawford, Naomi Campbell, Christy Turlington e Linda Evangelista. Contudo, enquanto essas quatro icônicas modelos das passarelas reviviam seus dias de glória, Heidi Klum estava ocupada construindo seu presente. Na mesma ocasião, ela se destacava no tapete vermelho da quinta fase de “America’s Got Talent” (AGT), o talent show líder de audiência nos EUA que potencializou sua popularidade, talvez até mais do que algumas de suas renomadas colegas da era dourada das supermodelos.
Aos 50 anos e tão em alta como sempre esteve, Klum, que é natural da Alemanha, demonstrou ser muito mais do que uma simples modelo. Ao ser questionada por um repórter do ET sobre a docusérie, a estrela respondeu que assistiria quando tivesse tempo, mas enfatizou que não se via como parte da história daquele quarteto icônico. “Nos últimos 30 anos, muita coisa mudou. As garotas que estão no programa estão nisso há mais tempo do que eu”, refletiu Klum. “Quando comecei, eu admirava a Cindy [Crawford], a Naomi [Campbell] e a Claudia Schiffer. Tive o privilégio de desfilar ao lado de Naomi. Sim, elas são as melhores e vêm de um tempo diferente. Quando vejo a Naomi desfilar, sempre fico de queixo caído! Ela é incrível”.
Além de ser uma resposta elegante sobre as quatro tops, que em seu auge pareciam desconsiderá-la, Klum também trouxe à tona sua relevância atual. Daí em diante, o ET focou em mostrar os bastidores de AGT e um dos mais aguardados eventos de outubro: a 23ª edição da festa “Heidi Klum’s Halloween Party”, no espaço de eventos Cornucopia de Nova York. Comparável a um ‘Met Gala’ em termos de publicidade espontânea, o Dia das Bruxas de Klum surgiu de sua constatação de que é uma marca comercial robusta, e não apenas um ícone.
A dicotomia é evidente. Enquanto muitos a viam como “comercial demais” para competir com Crawford, Campbell, Turlington e Evangelista nos anos 90, Klum soube como transformar isso a seu favor. Ao migrar das passarelas para a TV, a eterna Angel da Victoria’s Secret se tornou uma ‘supermodelo-apresentadora’ única, e ainda produtora executiva de programas nas TVs americana e alemã. E ao invés de estrelar campanhas para grifes renomadas, ela criou as suas próprias parcerias de sucesso com a Puma, New Balance, Lidl e Amazon, entre outras.
Ao longo de sua carreira, Klum enfrentou diversos desafios e críticas, e não apenas das “quatro deusas”. Uma das críticas mais notáveis veio de Karl Lagerfeld, o falecido designer da Chanel, em 2009. Ele destacou que, embora Klum fosse popular na Alemanha, ela não tinha o mesmo reconhecimento no mundo da alta moda, chegando a afirmar que “nunca tinha ouvido falar dela” na França. Ainda mais, Lagerfeld fez observações sobre o físico de Klum, alegando que ela era “muito pesada” para ser uma modelo de passarela e a descreveu como uma “camponesa do interior da Alemanha”. Os comentários do kaiser geraram grande controvérsia e foram amplamente discutidos na mídia, reacendendo debates sobre padrões de beleza e elitismo na indústria da moda. Mas vale ressaltar que essas eram opiniões pessoais de Lagerfeld e não necessariamente refletiam a visão da indústria como um todo.
De qualquer forma, evidente que havia uma hierarquia clara quando Crawford e companhia ditavam as regras, e onde apenas algumas eram dignas do título de “supermodelo”. No entanto, a série delas também lança luz sobre a sombra do elitismo, onde algumas, como Klum, eram vistas como “comerciais demais” para pertencer, ironicamente, a uma mega-indústria multibilionária.
O que significa ser “comercial demais”? Enquanto as “quatro deusas” podem ter definido os padrões da alta moda, Klum redefiniu o que significa ser uma modelo no século 21. Ela abraçou a televisão, se tornou empresária e construiu um império que vai além das passarelas. Seu sucesso contínuo é prova de que ser comercial pode ser uma força, não uma fraqueza.
Em 2023, Klum continua a prosperar, demonstrando que a longevidade na indústria da moda não se limita àqueles que se encaixam em uma definição estreita de “supermodelo”. Ela vive no presente, com um olho sempre no futuro, enquanto alguns de seus contemporâneos parecem ainda estar presos em momentos dourados do passado.
Enquanto o mundo fashion, com razão, celebra sua história, é crucial reconhecer aqueles que estão moldando seu presente e futuro. Num mundo em constante evolução, figuras como Klum são lembretes valiosos de que a verdadeira excelência não reside em títulos, mas na capacidade contínua de inovação, adaptação e visão de futuro.
O comércio de Heidi
Quando o assunto é Heidi Klum, a conversa não gira em torno apenas de uma supermodelo, mas de uma verdadeira magnata nos mundos da moda, do entretenimento e dos negócios. A Forbes estima sua renda anual em impressionantes US$ 39,5 milhões (R$ 197,1 milhões). Para colocar isso em perspectiva, basta comparar a bolada com a famosa declaração de Linda Evangelista, que uma vez proclamou que não sairia da cama por menos de US$ 10 mil (R$ 49,9 mil) por dia – uma quantia que, ajustada pela inflação, seria hoje de cerca de US$ 22 mil (R$ 109,8 mil). Se Klum trabalhasse todos os dias do ano (o que, claro, ela não faz), seus ganhos diários superariam US$ 108 mil (R$ 538,9 mil) – quase cinco vezes o montante “inflacionado” de Evangelista.
Em 2004, Klum fez um seguro para suas pernas avaliado em US$ 2 milhões (R$ 10 milhões). A apólice foi adquirida com a seguradora britânica London & Edinburgh, uma decisão que atraiu muita atenção da mídia. Na época, a quantia estabeleceu um recorde para seguros desse tipo, reforçando o valor inestimável da alemã não apenas no mundo da moda, mas também no entretenimento.
Já a festa de Halloween dela é um evento cobiçado e também um empreendimento lucrativo. Os convites da edição desse ano do Dia das Bruxas estrelado foram vendidos por US$ 24 mil (R$ 119,8 mil) cada. E para aqueles que desejavam uma experiência ainda mais exclusiva, havia a opção de adquirir uma mesa VIP para 10 pessoas por US$ 210 mil (R$ 1 milhão). A procura foi tão alta que a capacidade máxima de mil convidados foi atingida meses antes do evento. Mas o lucro, aqui, nem se traduz em dólares, e está na mídia gratuita que Klum ganha com o evento, e que reforça ainda mais a ‘marca Heidi Klum’, devidamente registrada, por sinal.
Esses números, mais do que simples cifras, reiteram o status de Klum como uma força a ser reconhecida muito além das passarelas ou das telinhas. Nesse meio efêmero da moda e do entretenimento, onde muitos vêm e vão, sua longevidade e seu sucesso comercial são testemunhos de sua sagacidade, adaptabilidade e visão empresarial inigualáveis. Os outros podem até escolher olhar para trás, mas Klum continua a olhar para o futuro, se reinventando e definindo novos padrões do que, na verdade, faz alguém merecer ser chamado de “super”.