Como definem o trabalho como arquitetas?
Gostamos de pensar que os espaços devem traduzir o tempo de cada pessoa e o jeito de cada um de viver esses espaços. Claro que existe uma essência que acaba guiando os projetos, algo que está intrínseco no nosso olhar, mas existe também uma construção em conjunto, de pensar com o outro, saber transitar por diferentes olhares. Gostamos de trabalhar as diferentes escalas do projeto, e isso implica em ser cuidadoso com o macro e com o micro simultaneamente. O todo e o mínimo são pensados para garantir um equilíbrio das partes; um não é mais ou menos importante que o outro. Arquitetar é como trabalhar com lentes fotográficas; é tudo uma questão de ajustar o foco.
Como era o espaço (apartamento, casa etc.) que você recebeu do cliente e como ficou após sua intervenção? (As arquitetas Amanda Castro e Giovana Giosa, do escritório Studio AG, realizaram reforma completa nessa cobertura duplex de 350m², localizada na cidade de São Paulo).
Os clientes, um casal jovem do Rio de Janeiro, queriam trazer para este apartamento um pouco da alma carioca, algo autêntico que fugisse dos painéis de madeira em todo o apartamento. Para atender essas expectativas, foram criadas superfícies translúcidas e ritmadas de madeira e vidro, aliadas a planos de paredes brancas, sem perder o aconchego e personalidade.
O projeto nasce da inquietude de reorganizar o espaço e evidenciar o seu potencial, alinhado ao desejo de criar um ambiente leve e permeável. O apartamento era escuro, com revestimentos pesados, e sua disposição não valorizava a vista. A principal alteração do pavimento térreo foi a reconfiguração da escada e entrada social. A porta de acesso do hall social limitava o layout e escancarava a parte social de forma indesejada. Sua inversão possibilitou um respiro que recebe gentilmente os moradores e organiza os fluxos e funções, abrigando a chapelaria e o lavabo.
Já a escada existente teve seu formato alterado para a reorganização do ambiente. Antes seccionada em dois lances, ocupava um espaço maior e dificultava o acesso ao pavimento superior e ao lavabo.
Para unificar a sala de estar à varanda, incorporamos a estrutura existente através de um grande pórtico de madeira que recebe a adega e enquadra a vista. Outra grande mudança foi a demolição da laje de cobertura do atual gourmet para dar espaço a uma estrutura leve e fluida de madeira e vidro. Luz e sombra permeiam o desenho do pergolado, que contribui para a luminosidade da sala principal.
Na cozinha, a escolha do ladrilho verde para o revestimento do piso e meia parede dialoga com a marcenaria em laca de tom semelhante. Já nos mobiliários, brincamos com contrastes entre diferentes texturas e cores, que aparecem pontualmente no sofá Benjamin, do De Carvalho, e na poltrona Uchiwa da HAY.
Onde encontra inspirações para se manter atual?
Buscamos estar sempre atentas àquilo que nos chama o olhar. Um olhar atento para tentar entender o porquê algo emociona numa determinada espacialidade ou num objeto, seja numa obra de arte, num mobiliário ou nos lugares que frequentamos, e traduzir para a arquitetura. Temos uma essência meio inquieta, de estar sempre em busca de novos estímulos, outras possibilidades. Gostamos de transitar entre outras disciplinas, isso enriquece o processo.