No final do mês passado, meus pais teriam completado 27 anos juntos. Todo 26 de outubro é uma renovação da minha crença no amor.
A história deles é digna de filme. Ambos foram convidados para um casamento no Rio de Janeiro. Minha mãe era prima do noivo, e meu pai era um grande amigo dele. Nunca tinham se visto antes. Minha mãe conta que foi, sem dúvida, amor à primeira vista. Ela garante que sentiu, de alguma forma, que o pai dela, que já tinha falecido, estava garantindo que aquela era a pessoa certa.
Como boa emocionada que é, minha mãe foi no carro trocar de roupa porque ela acreditava que o vestido de madrinha não a estava favorecendo. O mais legal de tudo é que nos vídeos do casamento eles aparecem juntos várias vezes.
Naquele mesmo dia, minha mãe tinha um voo para São Paulo. Meu pai foi levá-la ao aeroporto e ela, com muita certeza, disse: “Vamos contar essa história para os nossos netos algum dia.” E cá estou eu, filha deles, contando para um monte de gente.
A relação dos meus pais me lembra uma crônica de Rubem Alves, na qual ele diz que os casamentos são como um jogo de tênis ou como um jogo de frescobol. Os do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal, enquanto os do tipo frescobol são uma fonte de alegria e têm a chance de vida longa.
Ele explica que “o tênis é um jogo feroz. Seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar (…) O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Aqui, ou os dois ganham ou ninguém ganha.”
O casamento dos meus pais certamente era o jogo de frescobol. Se uniram na vida pessoal e profissional e fizeram história. Quem conheceu o Claudio e a Alice sabe que eles eram um só. Eles dois sempre tiveram a certeza absoluta de que juntos eram mais fortes.
E por que eu decidi escrever sobre isso? Porque cada vez mais vejo o quanto o amor dos meus pais é uma grande referência para mim. Talvez uma referência difícil de ser alcançada, mas ainda assim uma referência real e comprovativa de que podemos encontrar algo na mesma medida.
Na música “É isso aí”, Seu Jorge e Ana Carolina dizem que o vendedor de flores ensina seus filhos a escolherem seus amores. Sempre vi a relação dos meus pais assim. Conforme eles se relacionavam, eram companheiros e continuavam a fazer surpresas românticas ao longo de 24 anos juntos, eles me ensinavam a escolher meus futuros amores.
Lembro de um episódio do podcast “Para dar nome às coisas” em que a Natália diz: “A vida já é difícil o suficiente. O amor precisa ser leve (embora não sem trabalho e sem construção).” E acho que é isso. É um fato que não podemos depositar nossa felicidade na escolha de um amor. Mas, também não acredito que precisemos desacreditar totalmente que tal escolha é possível. O amor sempre aparece, sempre se reinventa e sempre dá um jeito de nos surpreender.
Somos capazes de amar muitas e muitas vezes nessa vida, de formas muito diferentes. Sua história não precisa ser de filme que nem a dos meus pais, mas ela pode se tornar o filme mais lindo que você já viu.
- Neste artigo:
- ColunistaGLMRM,
- Geração Z,
- Julia Xavier,
- RevistaGLMRM,
- Top10GeraçãoZ,