O Montana, ao longo de sua rica história, atravessou diversas fases, consolidando-se como um emblemático ponto de encontro para intelectuais. Inicialmente, serviu como o esconderijo do renomado poeta Jacques Prévert. Em seguida, transformou-se no hotel onde Ernest Hemingway buscava inspiração para suas obras. Posteriormente, metamorfoseou-se em um clube de jazz frequentado pelo ilustre escritor Boris Vian, figura de extensa produção artística e relevância na literatura francesa, ainda pouco reconhecido no Brasil. Além disso, foi o refúgio da lendária cantora Juliette Gréco, musa de Jean-Paul Sartre, companheira de Miles Davis e parceira de copo de Orson Welles.
Num passado mais recente, o Montana tornou-se um club privé, a ser frequentado após alguns drinks no Les Deux Magots ou no Café de Flore, onde as noites se estendiam em animadas festas até o amanhecer. Não me lembro o exato momento em que suas portas se fecharam por alguns anos, marcando uma pausa que trouxe uma serenidade incomum à rua Saint-Benoît.
Após uma tentativa frustrada de reconversão para a culinária italiana em 2022, o Montana renasce agora com renovado vigor. Contudo, sem retomar seus antigos flertes noturnos, o estabelecimento se reinventa ao integrar um bar de coquetéis no térreo, um restaurante no primeiro andar e um rooftop no sexto andar, onde a vista da Igreja de Saint-Germain-des-Prés permanece inalterada.
Há algo teatral na decoração, requintadas toalhas brancas conferem um toque sofisticado, iluminadas pela suave luz de velas, apoiadas por elegantes castiçais, criando uma atmosfera suave e íntima. A presença de jogos de espelhos por todo o espaço é notável, em homenagem ao apartamento de Gabrielle Chanel na rue Cambon, e a aplicação de laca nas paredes, inspirada no estilo de Yves Saint Laurent na avenida de Breteuil, adiciona um toque de elegância ao ambiente.
Na arte culinária, o chef Francisco Raul Conforti traz consigo a autenticidade de Roma, mas seu cardápio se revela inconfundivelmente parisiense. Delicadas flores de abobrinha, um suculento bife com chalotas confitadas em vinagre balsâmico, o clássico sole meunière, e ainda um pâté en croûte regressivo com foie gras e morilles são apresentados com calor humano, tudo harmonizado à perfeição com uma taça de vinho ou um coquetel da casa. Nesse contexto, a nostalgia também nos abraça, proporcionando uma experiência que transcende o paladar.
Esta reinvenção é fruto da colaboração entre Romain Taieb, responsável pelo bar de handrolls japonês Doki Doki, e a atriz e diretora Laure Marsac, que assume a direção artística. Certamente movidos pela nostalgia e decididos a revitalizar este endereço emblemático da rive gauche. A equipe é composta por simpáticos garotos que têm a habilidade de nos fazer sentir em casa.
Um leve perfume de irreverência ainda pairaria sobre o local, anos após o fechamento do lendário clube? Para os curiosos, podemos dizer que, de acordo com as últimas notícias, o subsolo abriga cozinhas… E que o teto não corre mais o risco de desabar sobre a cabeça de ninguém.
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